C A P Í T U L O 22

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SAMANTHA PRICE

     Depois do hospital, minha mãe insiste em ir dar uma volta na cidade pra procurar decoração de Natal e afins. O Natal sempre foi seu feriado preferido, ela diz que gosta da esperança que esse dia trás às pessoas, além de magia dos filmes, músicas e tudo mais relacionado a esse tema – em grande parte nada haver com o aniversário de Jesus em si. Eu esperava que esse ano o fosse ser um pouco mais melancólico, já que é o primeiro Natal que passamos sem meu pai – falando assim parece até que ele morreu, credo.

     Enfim, fico feliz que minha mãe não tenha deixado o divórcio estragar seu feriado favorito, e ela ainda esteja no pique para decorar o apartamento com coisas brilhantes, Papais Noels gordinhos, guirlandas, objetos de vermelho – vermelho bordô, que é sua cor favorita – e verde – , presépios e etc. Mas eu ainda acho meio estranho viver meu primeiro Natal com meus pais separados.

     Nossa família podia não ser perfeita, e meus pais podiam estar quase sempre brigando, ou às vezes distantes demais um do outro, mas no Natal parecíamos a família perfeita. Minha mãe e eu começávamos a decorar a casa duas semanas antes do Natal, primeiro por dentro e depois por fora. Meu pai fazia as compras das decorações sozinhos, com uma lista que minha mãe fazia de tudo o que íamos precisar. Ela fazia questão de colocar as luzinhas brilhantes no telhado sozinha, mas meu pai sempre acabava ajudando ela, e os dois se divertiam muito fazendo isso juntos. Na véspera de Natal, minha mãe deixava biscoitos e leite pro Papai Noel embaixo da árvore – uma tradição que ela começou a fazer quando criança, e que continua fazendo até hoje, mesmo não acreditando mais no bom velinho. De manhã, a gente sentava na sala e abria os presentes, os três usando pijama e tomando gemada sem álcool. Depois a gente se arrumava só pra ceiar no almoço, e ir assistir o desfile de Natal da cidade. Como eu disse, era perfeito.

     E agora eu e minha mãe estamos andando no meio da neve, sozinhas, pra tentar comprar alguma decoração de Natal que esteja com um preço no mínimo aceitável, e que fique legal naquele apartamento minúsculo. Ela até disse que preferia me deixar em casa e vir fazer as compras sozinha, porque eu estou de repouso e "preciso descansar", mas tive que insistir em vir, porque não gosto de deixá-la solitária por ai.

     De braços dados, nós duas caminhamos devagar na frente das vitrines das lojas, olhando os preços, enquanto ela discute consigo mesma o que deveria levar. Eu preferia fazer isso dentro de um carro com o aquecedor no máximo; tá congelando aqui fora.

     — Mãe, da pra escolher logo a árvore que você vai levar? — Resmungo impaciente, meus lábios secos se movendo pela primeira vez desde que deixamos o carro no estacionamento público beeeem lá trás.
     — Não é assim também né, Sam. — Ela aperta meu braço com mais força, me puxando para mais perto; aposto que está com tanto frio quanto eu. — Árvores de Natal são caras, eu tenho que escolher uma com um preço acessível se eu quiser comprar o restante da decoração.

     Devia haver uma cláusula no documento de divórcio que separa as decorações de Natal entre cada um, seria tão mais simples.

     — Quem é que deixa pra fazer compras de Natal de última hora? — Arqueio a sobrancelha de forma brincalhona.
     — Eu deixo.

     Damos risada, e minha mãe empurra o quadril contra o meu de forma brincalhona, rindo ainda mais. Tá vendo só? Teria sido bem sem graça se ela tivesse vindo sozinha.

     Quando nós enfim paramos pra entrar numa loja, ela está lotada. A fila do caixa lá trás vai até metade da loja, que tem um espaço bem grande por dentro, embora não demonstre por fora. O burburinho de pessoas conversando, discutindo preços e avaliando opções é bem alto, e ainda tem o choro das crianças birracentas – não suporto criança birracenta, misericórdia. Mas apesar da superlotação do inferno, as prateleiras guardam decorações delicadas e sutis de Natal, é tudo bonito, brilhante e, bom, com espírito natalino.

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