All For Love ✓2

C A P Í T U L O 12

SAMANTHA PRICE

     Abro meu armário, e começo a catar algumas roupas para guardar na mala, porque daqui a pouco minha mãe vai chegar e eu preciso estar com minhas coisas prontas. Como eu costumo passar apenas o final de semana lá com ela, eu não tenho um armário cheio de roupas como aqui, que é onde fico a maior parte do tempo, eu sempre levo uma mochila com tudo o que preciso. Mas agora já está decidido que vou ficar com minha mãe até meu aniversário, que é daqui a duas semanas – 31 de dezembro.

     Começo pegando as roupas de inverno no fundo do armário, já que lá fora está congelando, e ainda nem começou a nevar. Como eu sei que provavelmente vou ficar em casa todos os dias, eu pego pouca coisa que esquenta mesmo, tipo puffer jacket, touca e essas outras coisas mais pesadas. Vai ocupar mais espaço na mala para roupas casuais.   

     Geralmente, eu não sou toda paranóica e detalhista quando preciso arrumar uma mala, mas agora estou precisando de uma distração e arrumar minhas coisas parece ser uma boa opção. Bom, arrumar mais ou menos.

     Passo os olhos ao redor do quarto, reparando na minha "baguncinha" natural – pincéis velhos, papéis amassados, roupas sujas ou limpas, livros e mais um monte de outros materiais de arte; tudo espalhado por aí. Eu arrumaria, mas pooooxa, tô em recuperação de um ataque cardíaco, que pena.

     Brincar com a desgraça, para não chorar.

     Volto a pegar minhas roupas no armário. Tento dobrar tudo da melhor maneira possível, mas roupa de frio é um negócio muito grosso, vou ter que amassar tudo no fundo da mala para caber as outras roupas. Enfim, eu pego minhas calças de moletom, minhas blusas grandes e largas, meias... provavelmente tudo e somente o que eu vou usar, enquanto passo o dia inteiro deitada na cama. Mesmo se eu não tivesse que ficar de repouso, ficar na cama ainda é tudo o que eu quero –  sem contato humano, sem conversas, sem ver a luz do sol; apenas eu, meu laptop e uma maratona de filmes tristes, para eu ter onde pôr a culpa da minha tristeza e das minhas lágrimas. Uma experiência adolescente completa.

     Termino de colocar as roupas na mala, incluindo calcinha e sutiã, então começo a pegar outras coisas – como sapatos, os arquinhos de cabelo que eu tanto uso, os absorventes internos que peguei com a Sofia; não é muito, porque já tenho algumas coisinhas na minha mãe. Quando termino de pegar tudo o que preciso, eu sento em cima da mas e fecho o zíper, aliviada por ter fechado com aquele monte de coisa dentro. Acho que me vejo fazendo as malas para ir morar com a minha mãe já faz um tempão. Não estou indo pra morar com ela, mas já é alguma coisa.

     Deixo a mala em cima da cama e pego minha mochila, para juntar meu material de arte. Sinceramente, eu estou tão sem ânimo, que não sinto vontade de pintar ou desenhar – o que significa que estou péssima –, mas vai que aparece uma inspiração ou eu fique entendiada de assistir filmes. Não pego muita coisa, apenas algumas tintas acrílicas, meu bloquinho de desenho, meu estojo de carvão e uns dois pincéis. Não faço ideia da onde vou arranjar tela para usar as tintas, mas acho legal levar.

     Olhando para minha mesa de desenho, começo a pensar na quantidade de material novo que eu estou precisando. Seria muito mais fácil ter tudo o que preciso, se eu ganhasse o kit que pedi para meus pais, mas já até sei o que eu vou ouvir se pedir outra vez. Não vou nem comentar das telas pra pintura que eu não tenho. Adoro desenhar em telas, é libertador, mas nem espaço pra pintar eu tenho. Ser artista é foda, e não no sentido bom.

     Fecho a mochila também, já pronta para ir embora, é só esperar a mãe agora.

     Me sento na cama, suspirando. Estou um pouco cansada depois de ter andado pelo quarto todo, revirando tudo atrás das minhas coisas no meio dessa bagunça. O lado bom é que minha cólica deu uma aliviada, mas bem de leve; ainda está incomodando. Quando a dor não é no coração, é no útero, oh vidinha de merda...