C A P Í T U L O 41

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CHRISTIAN ANDERSON

     Os primeiros dias do ano passam voando, e então, assim rapidinho, já é segunda-feira outra vez. Já é dia de aula outra vez. Para quem passou a semana passada inteira trancado dentro de casa, por causa do castigo, eu deveria era estar ultra animadão pra sair.

     Só que não.

     Não estou afim de ir pra escola, ter que ver todas aquelas pessoas de novo – ter que ver a Thereza de novo. Eu não fiz metade dos trabalhos que os professores pediram para o recesso, mesmo tendo tempo de sobra. Também amoleci um pouco e quase não malhei ou sai pra correr, o que significa que eu vou tomar muito no cu durante os treinos da semana. Fora toda essa merda, ainda vou ter que aturar olhar para a Sam pelos corredores sem poder falar com ela, tocar nela, rir com ela, porque não posso. Quase uma tortura.

     Quando meu despertador toca às cinco da manhã, eu quase não me levanto, mas como meus pais ainda estão em casa – por algum milagre divino ou não –, eu preciso sair e correr até a academia. Segundo eles, é a "rotina de um grande astro do futebol americano".

     Saio da cama já vestindo uma bermuda e uma camiseta cinza, meio larga, junto com um casaco moletom.  Com os olhos pesando de sono, me sento na calma e calço os tênis de corrida. Coloco o monitor cardíaco no pulso, e, como estou sem celular, hoje vai sem música mesmo.

     A casa está silenciosa quando desço até a escada – com minha bolsa da academia no ombro – e lá fora ainda está um pouco escuro, o sol clareando o céu bem devagar. A neve na rua é pouca, vejo pela janela da cozinha, e me lembro de quando era uma e sei lá quantas da manhã e estavam limpando a rua; ouvi o caminhão passando, porque não estava conseguindo dormir.

     Pego algumas coisas na geladeira, outras no porta-frutas e depois jogo tudo no liquidificador, pra bater minha vitamina diária, só deixo o abacaxi de lado, porque não tô com paciência pra cortar isso hoje. Sentado na ilha, eu ponho a vitamina pra dentro em segundos e depois lavo a louça rapidinho também.

     Quando saio na rua, o frio parece me despertar um pouco para a vida, mas ainda tenho vontade de voltar para a cama e continuar sonhando com a loirinha que mexe comigo – quando enfim consegui dormir a noite, sonhei com a risada e o sorriso dela. Eu suspiro e tento me concentrar enquanto me alongo para correr, deixando a mente vazia para não me distrair durante o caminho até a academia no centro.

     Tenho essa rotina desde que comecei a treinar para fazer testes pro time da escola, e no início eu até gostava, agora é enjoativo. Tudo bem levantar alguns pesos, trabalhar nas pernas, socar alguns sacos de pancadas, mas todo dia é muito chato.

     Termino de fazer os alongamentos, ponho o capuz na cabeça e então saio correndo. O monitor cardíaco começa a contar meus batimentos, e posso ouvir o "pi pi pi" irritante, junto com meus pés batendo no chão enquanto corro. O movimento nas ruas é quase nulo, até porque, mesmo as pessoas que saem pra correr de manhã, ninguém quer ficar no frio quando se tem um edredom quentinho na cama.

     Quatro quadras depois e eu já estou ofegando rapidamente, sentindo meu corpo queimar contra o ar frio, causando uma leve sensação de tremedeira. Meus batimentos cardíacos estão acelerados, mas o monitor diz que ainda está tranquilo, então continuo correndo no mesmo ritmo. Conforme vou saindo do "bairro nobre", noto mais movimento pelas ruas. Os comerciantes estão abrindo seus negócios, algumas pessoas que provavelmente têm a mesma rotina que eu também estão saindo pra correr, vejo o jornaleiro jogando jornais nas portas das casas – mesmo que a maioria das pessoas leiam tudo no Google hoje em dia –, e homens e mulheres de terno saem apressados de suas casas, segurando uma caneca na mão enquanto fala ao telefone. O ano virou, mas tudo continua a mesma merda, por isso consigo entender meus pais não gostarem sair pra comemorar a noite de véspera de ano-novo; não faz sentido.

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