C A P Í T U L O 55

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CHRISTIAN ANDERSON

     Você estava chorando? — Sam pergunta baixinho, seus olhos analisando com preocupação cada canto do meu rosto que deve estar inchado ou meio vermelho, às vezes os dois.

     Não respondo e viro a cabeça para o lado, olhando para a calçada da rua lá fora. Não quero que ela me veja como realmente sou; um cara de 16 anos um tanto sensível e que tem crises de ansiedade igual a um esquizofrênico. Seria patético. Pra falar a verdade, não quero que ninguém me veja assim, nem mesmo minha irmã ou meus pais.

     — Christian... — Sam me chama, ainda mais baixinho que antes. — Olha pra mim...

     Sua mão toca minha bochecha, alisando minha pele com uma gentileza que até hoje só vi nela, não importa quantas garotas já tenham me tocado do mesmo jeito. Eu fecho os olhos e uma lágrima escorre pela minha bochecha rapidamente, deixando um gosto salgado na minha boca em seguida.

     — Christian, por favor, olha pra mim. — Ela insiste — Por favor.

     Respiro fundo e fungo ao mesmo tempo, abrindo os olhos ao virar o rosto para encara-la como pediu. Sam deixa um suspiro escapar, entreabrindo os lábios. Ela está sentindo pena, eu sei que está, posso até sentir e ver na forma como franze as sobrancelhas e se afasta, descendo a mão pelo meu pescoço e pelo meu braço, até tocar a minha segurando no volante. Eu me afasto e cubro o rosto com a mão, me encolhendo no acento em que estou sentado.

     — O que você tem? — Sam continua sussurrando, e me alisando como se eu tivesse acabado de perder um parente, ou sei lá o que. — Por que saiu daquele jeito? E por que está chorando desse jeito?
     — Eu sou um idiota, Sam. — Choro e soluço entre as palavras. — Eu deixei toda essa merda acontecer, e continuo só trazendo dor de cabeça pra você. E é uma tortura ter que vê-la seguindo em frente tão bem, ver que fazer você chorar várias vezes pelos meus erros a deixou tão fria e até vingativa do seu jeitinho. — Passo as mãos no rosto para tentar pegar o máximo possível de lágrimas. — Essa distância...esse lance de amizade tá acabando comigo. Eu não consigo.

     Lentamente, Sam desaba a mão, afastando-a do meu corpo. Parece até que acabou de levar um tapa na cara, ou então acabou de acordar para vida. Mas tenho certeza que ela ficou "chocada" com minhas palavras.

     — Me desculpa. — Continuo e seguro a barra da minha camiseta para limpar meu rosto. — Nunca quis magoar você. Só Deus sabe o quanto estou sentindo saudades de ter você sempre perto de mim, e eu sei que mereço esse castigo por ter magoado você. Meu Deus, eu sinto muito. Por tudo.
    
     Minha consciência pesada está nesse momento rindo da minha cara. Posso até ouvir o som distante na minha cabeça, mas não é a voz da Sam, é a minha própria. Temo olhar para o banco de trás e ver minha versão de 13 anos debochando de mim mesmo. Isso é assustador, mas sei que é efeito da porra do álcool – não é legal quando se tem uma crise de ansiedade e ainda enche a cara junto.

     Sam se recosta direito no banco, olhando para frente intensamente.

     — Eu não fazia ideia de que você se sentia assim. — Ela murmura — Que você pudesse chorar assim.

     Dou uma risadinha soprada e sem graça. As lágrimas não descem mais, mas meus olhos ainda estão marejados e eu ainda estou fungando.

     — Isso se chama ansiedade. — Murmuro de volta — Essa merda me persegue como um bicho papão.

     Se o professor Lupin, de Harry Potter, me desse uma aula prática sobre bicho papão, e me colocasse na frente de um, tenho certeza de que veria a mim mesmo tendo um surto de ansiedade. Acho que é meu maior medo no mundo, superando o medo de lugares fechados sem brechas de luz que me façam sentir confortável. Eu sou muito fodido.

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