All For Love ✓2

C A P Í T U L O 9

CHRISTIAN ANDERSON

     A casa está estranhamente silenciosa quando volto da escola. Quando fecho a porta atrás de mim, espero ouvir minha irmã gritando com os nerds de League of Legends como sempre, mas há um silêncio maravilhoso na casa. Espero que ela não tenha voltado do hospital ainda, porque quero paz por pelo menos vinte minutos.

     Passo na cozinha antes de subir para o quarto. Pego um pacote fechado de batatinhas Pringles de salsa e cebola, uma garrafa de refrigerante de cereja que eu misturo com energético na garrafa de vidro mesmo, e então subo as escadas segurando tudo nas mãos. Essa noite eu vou me entupir de porcaria, maratonar Grey's Anatomy e talvez tentar não pensar na Samantha. É meio difícil fazer isso, porque estou preocupado – será que ela está bem? Ainda está sentindo dor? Será que em algum momento vai querer me ver? Conhecendo bem a Sam, tenho todos os motivos do mundo para ela não querer me ver agora. Mas em algum momento vamos precisar conversar, e eu tenho esperanças de que seja uma conversa no mínimo amigável.

     Dou um gole no meu refrigerante, sentindo a bebida geladassa descendo pela garganta; é assim que fica bom. Sabe o que seria melhor? Uma cerveja bem geladinha, trincando...eu encheria a cara, ficaria bêbado para esquecer tudo isso...que ideia tentadora do caralho. Mas não vou fazer, por mais que seja minha maior vontade. Beber é quase uma sentença de morte pra mim.

     Dou mais um gole na bebida, pra saciar a vontade do álcool e então empurro a porta meio aberta do meu quarto com o pé...

     Levo um susto ao ver alguém sentado na minha cadeira da escrivaninha, de costas para mim. Mas logo a cadeira gira, provavelmente porque minha irmã me ouviu xingar um "puta que pariu" bem alto. Os olhos esverdeados de Alyssa me encaram, e em seu rosto há uma expressão séria que gela até o sangue. Não me surpreenderia se ela estivesse segurando uma faca na mão.

     — Porra, quer me matar do coração? — Resmungo, franzindo a testa e deixando meu lanche nada saudável em cima da cômoda com gavetas. — O que você quer?
     — Conversar. — Ela diz, e sua voz está mais calma do que eu esperava. Por mensagem ela tava parecendo um dragão.
     — Não pode deixar isso pra depois?

     Abro meu pacote de Pringles, e pego duas batatinhas pra comer de uma vez só. Alyssa revira os olhos.

     — Não, é agora. E você já sabe sobre o que é...

     E lá vamos nós de novo. Me lembro como se fosse ontem o dia em que a Aly me contou sobre sua verdadeira sexualidade, e sobre o que sentia de verdade pela Samantha. Era de madrugada, basicamente um dia antes da festa de halloween da Tess, quando ela ainda convidava todo mundo e não era uma vaca completa. Alyssa me acordou e deitou do meu lado, dizendo que precisava conversar e então começou a chorar, falando sobre gostar de garotas. No início não entendi muito bem, mas quando me dei conta, fiquei um pouco assustado. Quer dizer, não me importo com quem minha irmã sai – garota, garoto, unicórnio –, mas foi uma surpresa pra mim, eu definitivamente não estava esperando por uma revelação daquelas, ainda mais no meio da noite. Enfim, ela continuou chorando e eu abracei ela, disse que tava tudo bem, contanto que tivesse certeza absoluta de que era isso o que sentia sobre si mesma. Foi aí que a Samantha entrou no meio. Alyssa contou que descobriu que era lésbica quando percebeu que sentia ciúmes da Sam com outros garotos, e isso me incluía. Fiquei meio incomodado com isso, porque eu também sentia um pouquinho de ciúmes da Sam e estava planejando chamar ela para ir na festa da Tess comigo, mas isso não aconteceu. Alyssa disse que sabia que não tinha chances com a loirinha, mas também disse que mesmo assim não queria me ver com ela porque ia ser "doloroso", então tive que prometer que ficaria longe da minha pequena crushzinha de 13 anos. Depois disso, ela continuou chorando um pouco, até dormir abraçada comigo. Eu não consegui mais pregar os olhos pelo resto da noite.