C A P Í T U L O 148

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CHRISTIAN ANDERSON

     Pela primeira vez na semana, eu acordo bem cedo de manhã. E eu nem precisei de despertador, nem de tapas na orelha da mão pesada da Alyssa, ou um balde de água gelada da minha vó – isso já aconteceu uma vez. Simplesmente acordei sozinho por pura e espontânea vontade.

     E nem é insônia. É disposição!

     Levanto de cama já disposto a sair para dar uma corrida no parque. Eu tecnicamente tenho uma semana de folga das minhas "obrigações" como atleta de ensino médio. Mas não hoje; hoje eu quero dar uma corridinha, bater uma vitaminazinha de abacate, quem sabe até não fazer umas flexões depois.

     Eu nem sei da onde veio toda essa energia repentina. Acho que só devo estar mais feliz do que nós outros dias, sem precisar ficar repassando mentalmente o manual de jogadas o tempo inteiro. Simplesmente não estou pensando em absolutamente nada que me afete de uma maneira ruim hoje.

     Visto uma bermuda de moletom cinza, uma camiseta branca e um par de tênis para corrida. Ando pela casa em silêncio na hora de sair, porque todo mundo parece ainda estar dormindo.

     Fecho a porta da sala lentamente, porque ela faz um barulho alto quando emperra no chão de madeira, e eu preciso levantar ela e fechar com cuidado pra não fazer barulho. Quando me viro para descer até a calçada, me deparo com meu avô.

     Ele ainda está usando pijama, sentado nas escadas do jardim, olhando para a mata do parque no outro lado da rua. Somente isso, e mais nada. Está parado demais, como uma daquelas estátuas falsas, que na verdade são pessoas pintadas com tinta dourada ou prateada, e que encontramos nos centros das cidades.

     O que está fazendo aqui fora sozinho a essa hora da manhã?

     Me aproximo cautelosamente, tentando não assusta-lo, nem fazer muito barulho. Mas quando me sento do seu lado, meu avô nem se mexe para olhar pra mim, como se ainda não tivesse notado que não está mais sozinho.

      De repente, todo o meu bom humor e minha disposição para o dia é sugada por uma súbita preocupação e ansiedade avassaladora. Nesse momento, meu Departamento de Controle Mental está agitando na minha cara o cartão de visita de algum um terapeuta imaginário que eu provavelmente deveria procurar pra ver se enlouqueço um pouco menos.

     Por alguns segundos eu não sei o que fazer, e eu hesito quando decido que devo chamar sua atenção, mas logo acabo finalmente cutucando seu ombro.

     Meu avô pisca, depois olha para mim – não de um jeito lento e bizarro, como nos filmes de terror, mas de um jeito confuso e surpreso, como se pela primeira vez tivesse me visto aqui. Ele pisca de novo, depois franze a testa.

     — O que está fazendo aqui, Stanford? — Ele pergunta, e meu coração se aperta em uma dor emocional que derruba a última barrinha de felicidade que eu tinha hoje.
     — Eu não vou o tio-vô Stan. — Digo tranquilamente, e tento pegar na mão do meu avô. Ele desvia. — Vô...
     — Me deixe em paz, Stanford. — Resmunga ele

     Tento ajudar enquanto se levanta com dificuldade, mas meu avô continua achando que sou o tio-vô Stan, desviando das minhas mãos. Pelo menos me levanto e o sigo pelo caminho de concreto até a porta.

     — Já não basta toda a confusão que fizeste noite passada? — Vovô continua resmungando. Ele está brigando comigo?

     Tio-vô Stan nem mora aqui, ele mora num asilo do bairro – por escolha própria. Vovô diz que é uma escolha burra, e que preferia se jogar de um precipício do que viver num asilo.

All For Love ✓2Onde histórias criam vida. Descubra agora