All For Love ✓2

C A P Í T U L O 19

SAMANTHA PRICE

     Eu sonhei com uma boca. Literalmente com uma boca – lábios masculinos, carnudos, meio avermelhados, ten-ta-do-res. Estava escuro, e ao redor de nós só havia luzes azuis piscando, como numa boate. Eu só via o rosto do cara do nariz pra baixo, mas ainda sim sentia que eu o conhecia muito bem. De fundo, tocava uma música de festa, mas uma bem sensual e envolvente, e mesmo que não estivesse nítido, podia ver na mente da minha eu do sonho os corpos das pessoas na boate dançando esfregadas umas nas outras. E tava quente; muito quente. E aí eu toquei a mão do cara, que entrelaçou os dedos fortemente nos meus e me puxou para perto. Senti seu hálito em meu rosto, muito familiar; cereja. O cara se aproximou mais, e me segurou pela cintura com a outra mão, e havia uma certa familiaridade com a brutalidade em seus gestos. Depois disso, ele roçou os lábios nos meus, e passou a ponta dos dedos no meu rosto tão suavemente, que acho que foi o toque mais gentil que já senti.

     E então eu ouço sua voz, um sussurro, mas ainda sim clara como a luz do dia:

     — Você continua sonhando comigo, linda?

     E aí eu acordo.

     Foi estranho porque, ao mesmo tempo em que pareceu tão real, pareceu ser tão falso. Agora que estou acordada as imagens parecem meio borradas na minha cabeça, mas meus lábios formigam toda vez que penso em Christian tão perto, quase me beijando. Me sinto tão hipócrita desejando alguém que me faz chorar tanto. Mas, desde criança; nunca tive controle sobre meu próprio coração.

     Tiro os fones de ouvido – o que interrompe a bela e doce sinfonia de Justin Bieber, DJ Khaled e mais uma galera em I'm The One –, e esfrego as orelhas doloridas antes de suspirar, enquanto encaro meu bloquinho de desenhos. Contorno o dedo lentamente pelas curvas dos lábios entreabertos que desenhei a lápis, sentindo apenas folha e grafite, ao invés de sentir a pele macia. Eu já beijei muito essa boquinha linda pra ter certeza de que o desenho está 100% idêntico ao original.

     Christian filho da puta. Faço uma careta e tombo a cabeça pra trás, suspirando. Como que tira um cara da cabeça? Sério, eu não aguento mais pensar nele. Qual é, eu tive um ataque cardíaco, e nem nisso eu tô pensando! Às vezes só me lembro que estou de repouso, porque minha mãe me lembra dos remédios e prepara um monte de coisa saudável da dieta que o Dr. Hawkins me passou para comer. E não é nem porque eu não ligo para minha saúde – pra falar a verdade, eu tenho medo da minha própria saúde –, é porque eu sempre me distraio pensando nele. Eu começo a pensar em alguma coisa, qualquer coisa, e sempre termino com o Christian na cabeça. Isso é bem irritante, pra ser sincera.

     É por isso que eu não gosto de ficar sozinha quando estou triste, porque acabo tendo pensamentos desnecessários até demais. Mas quando estou com alguém, conversando, assistindo um filme, o que seja, aí eu já me sinto bem mais leve e descontraída. Já não quero mais ficar sozinha, exatamente como eu queria quando recebi a bomba da traição do Christian.

     Fecho meu bloquinho de desenhos, depois estalo os dedos, ao mesmo tempo em que estico os braços para espreguiçar. Devo estar sentada nessa cama desde que acordei, levantando rapidamente só pra usar o banheiro e tomar café. Ficar deitada aqui o dia inteiro já faz parte da minha rotina de coração partido/repouso de uma angioplastia. Amanhã – segunda feira –, vou voltar no hospital pra tirar os pontos da perna, o que é ótimo porque não aguento mais ficar com medo de dar merda nisso toda vez que eu vou tomar banho.

     Eu pego meu celular, e desligo a música, que ainda estava tocando. Há uma notificação de mensagem da Aly que chegou agorinha.

A: Tô subindo!