C A P Í T U L O 133

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SAMANTHA PRICE

     Minha está sentada no sofá, costurando o que parece ser um buraco num vestido branco com bolinhas pretas.

     — Oi, querida. — Ela diz ainda sem olhar pra mim, concentrada em consertar o buraco no vestido. — Demorou pra chegar.
     — Desculpa, perdi o ônibus. — Digo

     Quando pouso o capacete da minha moto em cima da mesinha perto da porta, minha mãe levanta a cabeça, provavelmente por causa do barulho. Ela olha pro capacete, depois pra mim, e fica alternando entre esses olhares até eu sorrir animada.

     — Da onde veio isso, Samantha? — Ela até para de costurar o vestido.
    
     Dou de ombros, e passo andando para ir até a cozinha. Minha mãe me segue com o olhar, virando o corpo junto.

     — Hum...meu pai devolveu minha moto. — Digo calmamente, tentando não parecer que estou surtando por dentro.

     Minha mãe disse que demorei pra chegar em casa, e realmente foi pelo ônibus, mas também porque eu dei duas voltas no quarteirão antes de vir para o prédio. Não pude evitar; é muito bom andar de moto para cima e para baixo.

     — Espera aí...ele fez o quê?! — Minha mãe se levanta na mesma hora, e vem até a cozinha.
     — Me devolveu a moto. — Repito, tão calma quanto da primeira vez.

     É engraçado ver a reação dela, porque é exatamente assim que me senti quando vi meu pai me esperando com a moto na caçamba da caminhonete.

     — Assim do nada? — Minha na continua perguntando. — Quando foi isso? Como? Por que? Sam, eu preciso de respostas.
     — Meu Deus, você tá parecendo a Beth e a Aly querendo saber de fofoca. — Dou uma risadinha, e me viro para pegar o jarro de água na geladeira.
     — Sam! — Exige
     — Tá, eu falo. — Balanço a cabeça

    Antes de começar a falar, bebo a água bem devagar, provocando. Minha mãe começa a ficar ainda mais impaciente. Sei que ela está ansiosa para saber melhor sobre essa história – que pegou todo mundo de surpresa –, mas é até estranho.

     — Hum... então — Enfim começo —, eu tava saindo da escola com o Christian, que ia me acompanhar até o ônibus. Mas o ônibus já tinha ido, então a gente ainda tava resolvendo o que eu ia fazer pra voltar pra casa. Foi aí que vimos o meu pai me esperando, perto da calçada, sabe, onde os carros entram pra deixar e pegar os alunos. Enfim, eu fui até lá, ele disse que você já tinha feito o pedido de guarda unilateral, depois ele me deu a moto, e aqui estou eu. Voilà! — Bebo mais um pouco de água, porque fiquei até de boca seca depois dessa.

     Minha mãe fica me olhando, provavelmente digerindo tudo o que acabei de lhe dizer. Nem é tanta coisa assim, mas estamos falando do meu pai, o "Sr. Cabeça Dura", então é até compreensível. Além disso, citei o pedido de guarda unilateral, coisa que minha mãe ainda não havia conversado sobre comigo. Suspeito que ela iria fazer isso no jantar fora – minha mãe não costuma mais sair pra jantar fora, principalmente porque é só nós duas em casa.

     — O quê...? — Confusa, minha mãe franze a testa e agita a cabeça. — Ele te contou do pedido? Ah, meu Deus...era uma surpresa!
     — Então devia ter dito isso pra ele. — Argumento com sarcasmo
     — Sam, não me teste. — Minha mãe ergue a sobrancelha, e sorri de canto. — E fico feliz que ele tenha devolvido sua preciosa e mortífera máquina de acidentes ambulante.

     Rindo, eu reviro os olhos de forma brincalhona. Quando ganhei a moto, minha mãe a chamou de passagem só de ida para o inferno. Fiquei magoada, mas não porque ela não confiava em mim para pilotar uma moto com cuidado, mas porque sugeriu que eu iria pro inferno quando morresse. Eu sei que vou, mas mesmo assim, né...

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