C A P Í T U L O 99

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SAMANTHA PRICE

     Minha mãe e eu chegamos ao mesmo tempo que meu pai. Mas, como o Uber não pode entrar na propriedade privada da cabana no lago, nós paramos nos portões. Meu pai oferece uma carona rápida até a cabana, mas eu me recuso a entrar no carro, então vou andando com minha mãe. Não é tão longe assim, só alguns metros, embora seja desconfortável andar de salto na terra.

     Não sei porque estou tentando tão desesperadamente manter distância do meu pai, se ele está aqui justamente para se redimir e ficar perto de mim. Parte minha ainda está magoada por ontem e pelos outros dias. Se ele acha que apenas se comportar no jantar vai ser o suficiente para eu perdoa-lo, está muitíssimo enganado. Talvez até precise de muito mais tempo pra isso.

     Meu pai está nos esperando perto de seu carro estacionado entre vários outros. Parece que a família inteira de Christian está aqui, e meu coração vai parar na garganta só com a ideia. Até agora esse jantar não está nem perto da imagem tranquila que eu estava projetando na minha cabeça, já começando pelo meu pai, que apareceu do nada e está aqui, completamente fora dos meus planos.

     Sinto que essa noite está num estado da lei de Murphy; se algo pode dar errado, dará.

     Respiro fundo enquanto subo as escadas rangentes da varanda, repetindo para mim mesma que vai ser uma noite tranquila e que vou causar uma boa impressão. Antes de tocar a campainha, me viro para meus pais, que estavam me seguindo e ao mesmo tempo mantendo distância um do outro.

     — Tudo bem, antes da gente entrar ali vamos estabelecer algumas...regras. — Digo, firme e séria. Minha mãe sorri, achando graça minha tentativa de manter o controle na voz e em qualquer outro gesto. — Por favor, tentem não brigar na frente de todo mundo. Se possível, nem conversem diretamente um com o outro, apenas quando estiverem juntos numa conversa com outras pessoas.

     Junto as duas mãos, como se implorasse.

     — Se alguém perguntar a vocês porque se divorciaram, sobre hipótese alguma digam que meu pai estava transando com a secretária dele. — Minha mãe mexe os ombros de forma desconfortável, olhando para o outro lado, enquanto meu pai apenas engole em seco. Ignoro os dois e continuo falando. — Apenas digam que não deu certo; é o suficiente. Pai. — Olho para ele — Não preciso nem repetir o que eu disse antes de sairmos de casa, ou preciso?
     — Não, eu...eu entendi. — Seu sorriso parece falso, mas não preciso de mais essa pra me preocupar agora.
     — Mãe. — Olho do meu pai para ela.

     Minha mãe está sorrindo, mas consigo ver que é uma confiança falsa que a faz respirar devagar, mas forte. Ela também mal se mexe livremente, olhando fixamente para todo lugar, menos para o homem de terno ao seu lado. Eu entendo o desconforto; esse deve ser o maior recorde de tempo dos meus pais juntos e sem brigas.

     — Por favor, não provoque Donna. Seja o mais gentil possível. — Peço gentilmente, mesmo sabendo que quem provoca é a mãe de Christian e não a minha. Só quero garantir que nada saia do controle.
     — Não tenho culpa se ela age como uma adolescente de quinze anos quando estou por perto. — Minha mãe se defende, balançando a cabeça e sorrindo como uma serpente pronta para atacar.

     Se tem uma coisa que minha mãe não perde com o passar dos anos, é o veneno da adolescente popular que conheci por suas histórias de quando tinha minha idade, que dá o bote quando precisa. Só em quem brinca com a serpente, é claro, fora isso ela é e sempre foi um amor de pessoa com todo mundo.

     — Mamãe...sororidadeee... — Cantarolo num tom brincalhão, finalmente sorrindo pela primeira vez desde que sai de casa.
     — Cala a boca e toca logo essa merda de campainhaaaa... — Ela arregala os olhos, cantarolando e rindo em seguida.

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