C A P Í T U L O 30

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SAMANTHA PRICE

     Minhas botas de inverno afundam na neve quando pulo pra fora da caminhonete. O bosque que cerca a cabana e o lago Woods Pond foi tomado por uma grossa camada de neve. Eu solto ar quando suspiro de frio, olhando para o lago congelado bem ao lado da cabana. A trilha de pedrinhas até o pier também sumiu embaixo de toda aquela neve. A paisagem que antes era toda verdinha, agora está toda branquinha, principalmente porque algumas árvores ficaram "peladas".

     Puxo minha mochila de dentro da caminhonete, e fecho a porta, tentando não bater com força – odeio bater a porta do carro dos outros com força exagerada, porra, só falta eu enterrar a cabeça na terra de tanta vergonha. Enfim, abraço meu corpo enquanto caminho até Alyssa, tendo que fazer esforço nas pernas para conseguir andar aqui.

     — Que merda, vou ter que limpar essa neve toda. — Diz Hank. Ele tá com uma carinha de cu desde que saiu de casa, provavelmente porque não tava muito afim de vir até aqui.
     — Olha a boca na frente das meninas, Hank. — Repreende Donna

     Se ela soubesse a quantidade de palavrões que só os filhos dela falam...

     Por falar em filhos, o Christian ainda não chegou. Mordo meu lábio inferior todo rachado pelo frio, e inclino meu corpo para trás, tentando enxergar a estrada que nos trouxe até aqui. Nem sinal do Land Rover. Alyssa olha pra mim, depois vira o rosto na mesma direção que eu.

     — Já sei: tá esperando ele? — Ela pergunta com deboche, depois olha pra mim de novo, erguendo uma sobrancelha.
     — Não viaja, só tô... só tô observando. — Reviro os olhos, dando graças a Deus pelas minhas bochechas já estarem vermelhas de frio, caso contrário ficariam vermelhas por outra coisa.
     — Uhum...sei. Vem, vamos entrar que eu tô congelando aqui fora.

     Passando o braço pelo meu, Alyssa praticamente me agarra enquanto seguimos seus pais em direção a cabana. Ela está exatamente do mesmo jeitinho de que me lembro, desde a última vez em que estive aqui, no jantar de Ação de Graças pra ser mais exata. A madeira range quando subimos as escadas da varanda, e o vento gelado corre por nossos corpos, me fazendo tremer mesmo estando usando um puffer jacket, uma camiseta de lã grossa por baixo, luvas grossas, meia calça também grossa por baixo da legging, um par de meias, botas e uma touca com lados largos para as orelhas. Eu gosto do inverno, mas é pra ficar dentro de casa bebendo coisinhas quentinhas.

     Ouço o som de carro se aproximando, e na mesma hora me viro para trás, sentindo meu coração disparar ao ver o jipe do Christian estacionando atrás da caminhonete – aparentemente, estou estreando muito bem o stent na minha artéria. Desvio o olhar antes dele sair do jipe, porque não quero que o me pegue o olhando – foco na indiferença, Samantha.

     Respiro fundo e então entro na casa com Alyssa, logo atrás dos pais dela. Eles vão acendendo as luzes pelo caminho do hall de entrada, pelo corredor até a sala e na sala em si.

     — Bom, aqui estamos nós. — Donna sorri de canto, e passa os olhos ao redor da casa. — Não limparam direito, tem teia de aranha no teto.

     Suspirando, ela larga a mala no chão, assim como Hank, e depois o segue até a cozinha. Aly e eu sentamos no sofá macio, de frente para a TV abaixo da cabeça de alce empalhada.

     — E agora, como todo casal faz, meus pais vão começar a planejar horas divertidíssimas de vários nadas pra fazer. — Diz Alyssa, com um sarcasmo na voz que me faz rir. — Eles provavelmente vão sumir no quarto lá em cima, porque estão sempre trabalhando.
     — Melhor assim, certo? — Sorrio, tentando achar um lado positivo em relação aos seus pai terem vindo até aqui atoa.
     — É... talvez.

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