•Para uma melhor experiência deste capítulo, ouça Never Let Me Go – Florence + The Machine.
SAMANTHA PRICE
O coração de porcelana está partido em vários pedacinhos. Seus caquinhos de todos os tamanhos flutuam ao redor dos pedaços maiores, que foram partidos ao meio violentamente...
Estou fazendo esse desenho desde que acordei hoje de manhã, e ainda não consegui terminar. Estou sempre ajeitando uma parte, apagando outra e refazendo, ou então tendo que olhar uma foto de um coração real pra ter certeza de que estou fazendo certo. É muito difícil desenhar um coração, ainda mais um coração partido.
De qualquer jeito, difícil ou não, eu tenho uma coleção de desenhos do coração. Literalmente do coração. Tenho uma pasta exclusiva só para esses desenhos, onde existem várias versões diferentes do coração humano – um coração com vasos sanguíneos manchados e rosas pretas murchas saindo de seus buracos, um coração sendo atravessado por uma flecha, um coração de cristal vermelho brilhando, um coração geométrico, etc. Eu não sei, gosto de desenhar corações e demonstrar o que estou sentindo nesse desenho.
Ninguém sabe da existência desses desenhos, a não ser daquele coração florido que eu pendurei na parece do quarto – aquele inspirado em A Cinco Passos de Vocês. A coisa é que, muito antes da Abby fazer desenhos de pulmões floridos para a Stela, eu fazia desenhos de corações modificados para se encaixarem na minha imaginação.
Eu paro de rabiscar e re-rabiscar o desenho na folha A4 e o encaro, vendo o que mais posso modificar para ficar perfeito. Acho que assim já está bom. Já posso pintar.
Me inclino para pegar meu estojo de giz de cera pastel dentro da mochila, que está no chão, e então a porta do meu quarto se abre. Minha mãe entra, olhando o relógio no pulso enquanto fala.
— Ok, então, eu preciso passar no mercado pra comprar algumas coisas pra você comer. — Ela diz, depois olha pra mim, sorrindo. — Vai querer alguma coisa específica?
Antes que eu perceba, já estou até respondendo, a palavra simplesmente deslizando pela minha boca.— Cerejas.
Eu tô com uma puta vontade de comer cerejas, já que minha mãe não está me deixando tomar o refrigerante do mesmo sabor – óbvio que tem diferença entre a fruta e o refrigerante, mas tanto faz.
— Uh, sério? — Minha mãe ergue uma sobrancelha. — Desde quando gosta de cereja?
Dou de ombros e mordo a ponta do meu lápis – desde que o Christian me beijou, e ele estava com gosto de cereja, penso comigo mesma. Eu nunca fui fã da fruta, mas depois daquela noite de halloween, eu peguei uma obsessão enorme por ela. Não sei, passou a ser docinha e nostálgica. Além disso, já que eu provavelmente não vou mais beijar o Christian, é bom ter uma lembrancinha de seu gostinho...
— Tudo bem, que sejam cerejas então. — Minha mãe sorri, vindo até mim para beijar minha bochecha antes de ir. Eu pressiono desenho contra meu peito, para que ela não o veja. — Tá desenhando o que aí, que eu não posso ver?
— Nada demais. — Sorrio de canto, mordendo a bochecha por dentro. — O de sempre...
— Você está aí desenhando a semana inteira, e ainda não me mostrou nenhum desenho. — Sorrindo, minha mãe arqueia uma sobrancelha e apoia uma mão no quadril, esticando a coluna outra vez. — O que tem aí?
— Nada, mãe...Reviro os olhos. Não gosto de mostrar esses desenhos do coração, porque é íntimo demais, é como se a pessoa que visse os desenhos estivesse me vendo nua – uma lógica que não faz muito sentido com minha mãe, já que ela trocava minhas fraudas quando eu era bebê. Enfim, eu fiz desenhos de corações humanos a semana inteira, é por isso que ela não viu nenhum, mas até então não tinha dito nada sobre isso.
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All For Love ✓2
Roman pour AdolescentsLivro #2 OBS.: Sinopse possui spoiler do livro #1 Samantha Price estava de coração partido. O garoto pela qual jurava estar apaixonado por ela havia cometido um erro - o erro que ela mais temia acontecer. Depois da terrível - e quase fatídica - no...