C A P Í T U L O 84

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SAMANTHA PRICE

     Durante a aula de química avançada, me sento junto com minha parceira de laboratório, que continua sendo Alyssa desde que passamos a ter química no nosso currículo escolar, ou seja, há bastante tempo.

     Nas vezes em que passamos a brigar nos últimos meses, fazer as aulas em que éramos parceiras de mesa ficava estranho e extremamente constrangedor, porque não podíamos trocar de mesa, então tivemos que continuar juntas. Ainda não estamos nos falamos muito durantes as aulas, mas tenho certeza de que, com o passar do tempo, o clima vai ficar mais ameno.

     — Oi. — Digo para Alyssa, sorrindo, e então deixo a mochila no chão depois de ter pego me material para a aula.
     — Oi. — Alyssa retribui o sorriso com uma timidez que só vi quando ainda éramos desconhecidas uma para a outra, e também acena com a cabeça levemente

     Depois disso, ficamos as duas absortas em nossas próprias bolhas de silêncio. É como se a cada vez que eu sentasse ao seu lado durante a aula de química, um muro invisível e embaraçoso se erguesse entre nós duas, e por isso não conseguimos nem conversar como pessoas normais conversam.

     Olho de canto para Alyssa, que está com uma mão apoiada na bochecha, usando a outra para balançar o lápis de forma distraída. Seus olhos estão voltados para a porta, mas ela não parece estar pensando, parece apenas entediada. Suspiro e volto a olhar para meu caderno, mesmo não estando fazendo nada nele, só passando as páginas devagar.

     Mesmo com os olhos baixos, consigo ver Thereza entrar pela porta da sala. Ela para perto da mesa onde a professora está sentada quando olho pra ela. Seus olhos estão arrogantes como sempre, olhos de serpente traiçoeira, mas o modo como não me encara nos meus olhos, já diz tudo.

     Aparentemente, Thereza Armstrong não é mais tão "bem vista" pelo restante da escola desde que ataquei ela no corredor. Isso ainda é pouco, comparado às consequências verdadeiras que ela deve sofrer pela merdas que andou aprontando, mas já é um começo.

     Tess passa por mim, e senta-se na mesa ao lado, junto com seu parceiro de laboratório. Eu sigo cada movimento seu com um olhar duro e furioso, aproveitando o tempo em que perdi pra fazer isso ontem, porque a dona diazepam não veio pra escola. Boatos dizem que os braços dela estão machucados por causa das minhas unhas. Já no rosto, Tess conseguiu cobrir com maquiagem.

     Ela olha para mim outra vez, e eu a chamo de "vaca" sem fazer som. O peito de Tess sobe e desce quando ela respira fundo, antes de se virar para frente, fingindo que não existo.

     Não estou com raiva dela, estou com pena – talvez com um pouquinho de raiva, mas a gente releva isso. Tess quebrou toda a luta contra a rivalidade feminina, da qual eu fazia questão de evitar o máximo possível, e fiz feministas do passado se revirarem no túmulo quando peguei a Tess de porrada, porque eu simplesmente joguei fora todo meu ódio pela rivalidade feminina naquele dia. Felizmente, não sinto mais aquela mesma vontade vendo Tess pagando pelo o que fez agora. Sinceramente, ela merece tudo e um pouco mais, e por isso sinto pena.

     Ver uma mulher ter que passar por isso, tudo por um homem, é triste.

     Balanço a cabeça e tiro os olhos dela. Apesar de querer seca-la com o olhar mais venenoso que tenho, para pagar com a mesma moeda, sei que só vou estar alimentando ainda mais seu narcisismo humano. Tess não merece atenção.

     Olho para Alyssa quando ela me cutuca com o lápis, e ela sorri de canto.

     — Soube que a briga foi épica. — Ela diz — Eu devia ter seguido você pra assistir.

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