C A P Í T U L O 110

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CHRISTIAN ANDERSON

     Ainda não estou preparado para entrar na cabana, quando volto para o lago e estaciono meu jipe próximo ao píer. Mas eu entro mesmo assim. Está tudo estranhamente silencioso; silencioso demais. Eu diria que estou sozinho, e que todo mundo foi embora sem me avisar, mas os carros estacionados junto do meu lá fora, dizem completamente o contrário.

     Deixo minha jaqueta no armário de casacos antes de subir as escadas. Prefiro passar lá em cima antes de enfrentar a cara da minha família, isso se já estiver todo mundo lá embaixo – já vai dar 11 da manhã, mas depois de ontem, imagino que o climão não tenha evaporado ainda.

     Vou direto pro meu quarto, trancando a porta antes que alguém resolva aparecer para tornar meu dia estressante. Nem consegui dormir a noite, só dei algumas cochiladas, mas logo acordava. A única coisa que me impedia de surtar na madrugada, era olhar para o lado e ver minha Sam dormir toda torta enquanto babava. Tive que segurar meu lado mais imaturo para não tirar uma foto.

     Sentado na cama, eu apoio as mãos na cabeça baixa, e respiro bem fundo. Preciso organizar minha mente antes de fazer qualquer coisa. Uma hora vou bater de frente com os meus pais, que já me botaram de castigo muito antes de eu chegar – quer dizer, se as palavras que minha mãe me disse ontem ainda estiverem valendo.

     "Acordo" de meus pensamentos quando ouço algumas batidas na porta. Primeiro acho que é minha mãe, mas sei que ela não bateria, mas sim já ia tentar entrar e depois gritar meu nome porque não conseguiu. Suspirando, me levanto e vou abrir a porta.

     — Eu sabia que você tinha chegado. — Meu avô bate levemente com a bengala na minha canela, e eu abro espaço para que ele entre no quarto. — Mas não ter ido falar com seu vô foi ultrajante.

     Ele sorri para mim, e vai sentar na minha cama. Sorrindo de volta, um pouco menos do que meu vô, fecho a porta outra vez.

     — Desculpa, vô. Tô com a cabeça quente. — Suspiro de novo — Desculpa ter saído daquele jeito ontem também.
     — Até eu teria fugido dessa merda. — Ele resmunga quando senta na beirada da cama, abrindo as pernas para manter a bengala apoiada entre elas. — Você, meu neto, foi é inteligente. Como está a garota?

     Penso na Sam. Ela estava muito frustrada ontem a noite, mas isso pareceu acabar num estalo de dedos depois que...hum... relaxamos juntos. Quem ficou frustrado depois fui eu, depois da visita da minha mãe nada amorosa. Mas meu avô quer saber da Sam, não de mim.

     — Ela está bem, acho. — Dou de ombros, e depois jogo meu corpo em cima de uma poltrona, tentando relaxar. Estou todo dolorido, principalmente nas coxas e nos quadris – culpa da Sam. — Ficou um pouco chateada com o que aconteceu, mas ela já está melhor.
     — Sua mãe tem titica na cabeça. — Meu vô resmunga, e eu ponho a mão sobre a boca para tentar esconder um sorrisinho cheio de graça. — Onde já se viu sair espalhando merda por aí durante um jantar? Um velho de 60 e poucos anos no pode nem mais comer em paz dentro de casa. Seus pais são um porre, Deus que me perdoe!

     Dessa vez não consigo esconder e nem segurar a risada. O melhor no meu avô, é que ele fala o que pensa, quando e onde quiser, e mesmo assim todo mundo vai continuar amando ele. O velho tem estilo.

     — Da próxima vez que eles tratarem a pobre da Alyssa desse jeito, vou dar bengalada na cabeça de todo mundo.

     Começo a rir, mas aí penso: Alyssa? Pensei que estivessemos falando da Sam. Claro que minha irmã também foi muito afetada pelo desastre de ontem, mas realmente achei que meu vô estava falando da Sam primeiro.

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