C A P Í T U L O 142

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ALERTA DE SPOILER: Final do livro O Grande Gatsby.

CHRISTIAN ANDERSON

     Foram oito horas e mais alguns minutos de viagem até Seattle. Dormi a maior parte do caminho, tanto no carro a caminho de Portland, quanto no avião a caminho de Seattle. Estou morrendo de sono porque acordamos quatro e pouca da manhã, saindo de casa às cinco.

     Dentro do carro, enquanto entramos no bairro de Ravenna – onde meus avós moram –, meu estômago ronca. Estou morrendo de fome, e já até passou a hora do almoço. Comi no avião, mas aquele sanduíche e o suco estavam uma porcaria.

     Pra piorar, estou de mal humor – não que eu vá admitir isso para alguém. Aquela conversa dos meus pais ainda não sai da minha cabeça. Dormi ontem a noite, mas dormi muito mal por causa disso. Não consigo tirar meu avô da cabeça, pensando em como vou encontrá-lo quando chegarmos na nossa antiga casa. Minha mente já projetou várias cenas diferentes, a maioria – ou quase a maioria – são cenas ruins, pessimistas, sem previsão de felicidade. Simplesmente odeio pensar assim, mas nem sei porque meu cérebro funciona desse jeito.

     Num piscar de olhos, logo estamos na rua da casa dos meus avós. É... estranho estar aqui de novo. Já faz anos, e, a princípio, a rua parece exatamente a mesma. Mas aí percebo que algumas casas mudaram, não há os mesmos carros na rua, algumas árvores parecem mais velhas. Eu não sei. Está diferente. Talvez eu esteja diferente. Via tudo na perspectiva de um pré-adolescente de 13 anos, e agora estou mais alto, e vejo tudo pela perspectiva de um adolescentes de 17 anos.

     Loucura.

     Quase espremo meu rosto contra o vidro da janela, quando me viro para olhar as casas vizinhas. Meus avós moram numa rua rodeada por árvores altas e cheias de folhagem, e de frente para o mato do Cowen Park. A casa deles é azul escuro – se estivesse aqui, Sam daria um nome pra esse tom de azul, certeza –, com um jardim florido e bem cuidado. A casa parece menor também.

     Minha mãe estaciona o carro alugado no meio fio, de frente para a calçada da casa dos meus avós. Tem um cara de costas para nós, andando com o cortador de grama pelo gramado. Não é o vovô; disso eu tenho certeza.

     Abro a porta do carro, saindo ao mesmo tempo que Alyssa. Semicerro os olhos, por causa da luz do sol, quando levanto a cabeça, olhando para a casa.

     Olho para minha irmã, que me olha de volta. Seu olhar é estranho, nostálgico, mas não de um jeito bom. Lar, doce, lar.

    — Oh, vocês chegaram! — A voz da minha vó chama nossa atenção, enquanto meus pais saem do carro.

     Ela desce a varanda, e depois desce na calçada, vindo nos receber. Sua carranca séria e estressada – cara de cu – me lembra um pouquinho a Sam, principalmente quando ela abre um sorriso meticuloso ao me abraçar.

     — Christian Anderson, que saudade. — Ela diz
     — Também senti sua falta, vó. — Tento não aperta-la com muita força, porque não quero machuca-la. Minha vó pode ter uma personalidade dura igual osso, mas é uma velinha frágil.

    Ela me solta, delicadamente passando as mãos em meus ombros antes de ir falar com Alyssa. Acho que minha irmã fica um pouco surpresa com o abraço receptivo, levando em consideração o último encontro em família – eu também ficaria se minha mãe dissesse bem alto e bom som, na frente da família inteira, que eu sou gay.

     Minha vó vai falar com meus pais, e eu vou tirando minhas coisas do carro. Quando subo as escadas do jardim, carregando minhas malas nas mãos, consigo ver melhor o cara que está cortando a grama da minha vô.

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