Introspectivo.

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Chris' POV.

17:24.

A Suzy tinha vindo cá pra casa como o combinado. Enquanto assistíamos um filme e conversávamos de vez em quando, ela acabou viajando pro mundo dos sonhos. Deitada com a cabeça no meu colo, recebendo o meu carinho, ela dormia.
Estava perdido em pensamentos aleatórios, pensando na minha conversa com o Daniel na noite anterior, pensando em tudo o que tem vindo a acontecer entre mim e a Suzy, ponderando talvez que nós estivéssemos a precipitar demais as coisas ainda que não propositadamente. Não é que eu não quisesse, eu me apeguei mesmo, porém, como ela mesma disse, ambos estamos presos em uma depressão severa que não tem jeito de ir embora. Outro fator é que, mesmo já se tendo passado quase dois anos, por vezes ainda me vinha ao pensamento momentos que passei com a minha ex namorada. Eu não quero voltar pra ela, de todo, foi um relacionamento de excessos em que eu só piorei, contudo, ela só me deu o que eu precisei na altura. Eu sentia prazer em todos os excessos cometidos, eu amava ela, só passámos a ser tóxicos demais um pro outro. Os ciúmes dela terminaram com a nossa história antes que qualquer tragédia pudesse terminar. As discussões já eram frequentes e nunca chegavam a lado nenhum, sempre terminavam com droga, sexo e assuntos por resolver. Eu soube que tinha que terminar quando eu notei como tudo aquilo afetava a minha mãe. Ela mudou comigo, passou a me encarar com um olhar de pena, vazio, triste e isso era algo que terminava comigo. Eu lembro das palavras que me fizeram admitir a mim mesmo que tudo tinha que mudar, eu tinha que terminar com aquilo antes que aquilo terminasse comigo e, consequentemente, com a minha mãe. "Todo o dia eu adormeço chorando enquanto oro pra Deus tirar você desse caminho. Até quando, Victor, até quando você vai continuar até entender que essa moça não é pra você? Que essa vida não é a que você devia escolher? Que você merece bem mais do que eu isso? Eu não tenho o direito de julgar ninguém, não me cabe a mim, mas você precisa largar ela pra conseguir se livrar de todo o mal", lembro também de como fiquei irritado com isso, não aceitando que ela tinha toda a razão, e elevei o tom falando com minha mãe "você só diz isso porque não gosta dela!", o que doeu demais foi que ela nem se irritou por eu ter elevado a voz, ela falou bem baixo e me encarando com lágrimas nos olhos, "não gosto, uma mãe não gosta de quem só destrói o seu filho.". Após terminar com ela eu me perdi mais ainda, eram excessos comigo mesmo, excessos com meninas que se interessavam em conhecer o meu quarto. Tive o meu momento de idiotice nessa fama. Terminar com ela não tinha feito com que a minha mãe ficasse melhor, pois eu mesmo ainda não tinha mudado. E eu tentei, embora fosse difícil, e seja ainda hoje, eu estou tentando deixar os excessos pra me arrepender no futuro e sentir vergonha alheia do que fiz anteriormente. Isso deixa a minha veia orgulhosa e acaba me deixando feliz.
Eu decidi que devia assentar, por muito que fosse difícil. Quando temos dinheiro, não faltam pessoas que gostavam de fazer você mudar, aclamando falso amor e destruindo ainda mais. Isso me fez cauteloso, tornou o meu coração gelado. Quem mandou eu começar a gostar da pessoa mais genuína que já conheci até hoje? Ela começou a derreter esse coração. Por ela eu tenho melhorado. Creio que será a única nora que a minha mãe vai gostar de primeira. Pelo que ela já me falou quando a Clara decidiu ter a língua maior que a boca e explanar que eu estava ficando com "a Portuguesa", eu sei que ela não desgosta da minha mina, mesmo sem ainda a conhecer. Isso é um marco na minha vida!
Passeei os dedos pelos fios de cabelo da Sú enquanto lembrava uma das conversas mais impactantes que tive com a minha mãe. Cresci só tendo ela, o que me fez notar que tinha que ser bem diferente do homem que me fez, eu tinha que encontrar o amor da minha vida e tratá-la como o tesouro que ela é, sem a abandonar jamais. A minha mãe sempre chegava muito cansada do trampo, ela trabalhava demais por mim e pela Clara, isso acabava deixando ela de rastos. Não tinha ninguém pra lhe dar carinho quando ela chegava, só tinha eu e minha irmã pra tentar consolá-la, falar sobre os nossos dias, contudo eu tinha noção de que isso não era suficiente, ela precisava de mais carinho, mesmo que a gente não admita, sempre precisamos de alguém. Isso me fez pensar muito. Um dia, quando eu ainda era um menino, fui falar com ela sobre isso. Nessa altura eu ainda era criança, ainda era romântico. Perguntei pra ela como se deixava uma mulher feliz.
"- é dando chocolates pra ela, mãe? - ela sorriu e sentou do meu lado.
        não é difícil fazer uma mulher feliz, filho. dê chocolates e flores pra ela, mas muito mais importante é você lhe dar muito amor e atenção. respeite ela, dê valor aos seus esforços. quando ela chegar em casa pergunte como foi o dia dela, mesmo que você esteja muito cansado pra ouvir, se mostre interessado. - escutei atenciosamente.
        tenho que fazer isso com todas as mulheres que passarem na minha vida, mãe?
        tem filho, principalmente quando você encontrar a mulher certa.
        como vou saber que a encontrei? - ela passa a mão pelo meu queixo e sorri carinhosamente.
        você vai sentir isso nessa altura e aí vai entender que a encontrou."
Passo a mão pelas bochechas da minha princesa, chegando ao queixo dela. Sorri, deixando umas lágrimas caírem por conta dessa viajem toda no meu interior.
Você estava certa mãe, eu estou sentindo.

𝚟𝚘𝚊𝚗𝚍𝚘┊ 𝐜𝐡𝐫𝐢𝐬 𝐦𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora