Não vai.

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Estaciono o carro e pego o meu ramo de flores antes de o trancar. Apesar de tudo, eu me sinto feliz demais com essa ação.
Entro na esperança de não me cruzar com ninguém e subo imediatamente pro quarto, pegando o meu celular ansiosa com o que viria de lá.
Dentre todas as notificações, a que mais me chamou a atenção foi obviamente a do Messenger. Ainda sem estar certa se deveria ou não abrir as mensagens, decidi fazê-lo de coração palpitando de ansiedade.

• Victor Silva de Lima

"Bom dia, Suzy. Lembrei que você talvez não tivesse me bloqueado no Facebook, né? Eu vou mandar áudio porque estou dirigindo agora.
Ainda tentei esperar por você, mas o Konai precisava de mim no estúdio o mais rápido possível e eu vim, porque nem tinha certeza se você iria na faculdade ou não."

"Você deve estar me odiando nesse momento, sei lá, sabe, por ter enviado flores pra você, mas eu ouvi você falando que nunca tinha recebido e pensei que fosse boa ideia eu te dar flores... Ainda lembro que as suas favoritas são rosas e nem sei se a preferência mudou, mas certamente ainda está aí o gosto por elas.
É... Sei lá... Enviei hoje porque é dia dos namorados e mesmo que a gente esteja cada vez mais longe de o ser, você ainda é importante pra mim, tá ligada? E ainda consegue ter o meu coração porque no final das contas... No final das contas fui eu quem te mandou embora, então o meu coração não vai te deixar ir tão facilmente."

"Desculpa isso, eu sei que não é nada do que você queria escutar, mas é que foram esses motivos que me levaram a fazer isso. E eu queria te pedir uma coisa e não me mate por isso, se não quiser, pode falar, eu não te censuro... Eu gostava que a gente tivesse uma última conversa, sabe? Quer dizer, eu espero que não seja última, mas no mínimo... Eu queria falar contigo cara a cara, tenho tanto pra falar, tanto pra me desculpar, tanto aqui preso e eu queria que você soubesse..."

"Isso é muito irónico, eu sei, precisa nem falar... Se estiver disposta, me fala, eu estarei aqui pronto a qualquer momento... Não precisa ter pressa, eu não posso te forçar a nada, era só algo que eu faço muita questão que acontecesse...
Eu espero que você esteja bem... Se não quiser as flores pode jogar no lixo mesmo, não tem problema, eu entendo a sua reação."

"Fica bem, se cuida aí morena e conte comigo pra qualquer coisa, apesar de tudo eu me preocupo demais contigo, tá bom?
Um beijo enorme na testa, lembrando como você sorria sempre que recebia um"

Ouvi aquele último áudio umas três vezes, chorando sempre um pouco mais. Ouvi pela peculiaridade de escutar aquele "morena", de saber que ele se lembra de pequenos detalhes, de escutar a sua voz, de saudade.
A minha cabeça latejava, a minha mente se divide. Eu não quero conversar com ele porque eu sei que vou cair, mas eu preciso. Eu fico me odiando pela indecisão que crio em mim. Cara, ele duvidou de você, te jogou contra a parede, te fez sentir culpada por tudo! Caralho, coração, não chega de ser trouxa?

Ainda assim, a vida era mais leve quando tinha o contato dele disponível a qualquer hora do dia para ligar e desabafar sobre os problemas mais banais, ou só para falar da simplicidade do dia. A vida era mais leve quando eu podia descansar a cabeça no seu peito e escutar o seu coração enquanto os seus dedos passeavam no meu cabelo, ou nas minhas costas.

Enquanto luto dentro de mim para me tentar entender, alguém bate na porta do meu quarto. Limpo as lágrimas inutilmente e bloqueio o celular.

𝚟𝚘𝚊𝚗𝚍𝚘┊ 𝐜𝐡𝐫𝐢𝐬 𝐦𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora