Já passou.

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••• Suz's POV •••

Meu pai sai a porta enquanto eu me calço e o Chris surge na sala, ainda acabando de vestir a sua blusa.

⁃ Tem certeza que fica bem? - pergunto e o Mozart, que está jogado no sofá, ri.
⁃ Porque não ficaria? - encolho os ombros e Chris solta uma leve risada, se aproximando de mim - Vou no estúdio com esse lesado.
⁃ Vão almoçar onde?
⁃ Nem tomei o café da manhã ainda e tu já tá me falando de almoço - Mozart me responde - A gente já tem tudo controlado, não se preocupa.
⁃ Me dá um beijo antes do teu pai voltar - Chris fala enquanto me levanto e isso me faz soltar uma risada com o Mozart, o que o leva a rir também.
⁃ Ué, mas o meu pai não sabe que a gente namora?
⁃ Mas é foda... Vem cá.

Ele me puxa pela cintura para perto de si, me beijando por fim enquanto apertava o nosso abraço.

⁃ Aproveita esse dia, princesa, viu? - aceno positivamente, ainda com o meu rosto perto do dele - Tô certo de que tu vai amar!
⁃ Vai ser incrível - sorrio antes de retribuir o seu beijo novamente.
⁃ Já tá pronta?

Meu pai volta pra sala pra procurar por mim e isso faz o Mozart soltar uma risada, o que faz com que eu e o Chris ríssemos levemente também.

⁃ Tenham um bom dia no estúdio, se cuidem - digo ao pegar minha bolsa.
⁃ Aproveitem, se divirtam - Chris responde.
⁃ Bom dia - Mozart diz ao parar de rir e o meu pai esboça uma expressão curiosa, mas animada, falando de seguida.
⁃ Bem... Tenham juízo, até logo.

Dou um selinho no Victor e me despeço deles, seguindo o meu pai até o carro logo depois. Primeiramente, íamos tomar o café da manhã juntos no Coffeetown, já que somos uns apaixonados por esse lugar, então ele começa a dirigir até lá.

⁃ O que eles aprontaram pro seu irmão começar a rir quando cheguei? - rio com a pergunta do meu pai, o que o faz ficar mais confuso.
⁃ Nada não... - tento terminar o assunto ali já sabendo que isso não o satisfazia - É que o Victor tinha falado que queria me dar um beijo antes de você voltar e cê voltou precisamente nesse momento - meu pai solta uma risada ao escutar isso, me fazendo dar uma risada tímida - Enfim, não há palavras pro Victor.
⁃ Ele não quer que eu o veja beijando a minha filha, mas hoje dormiu com ela lá na minha casa - meu pai me olha de relance - Algo aí não é muito coerente.
⁃ É só por conta daquela noção de respeito, eu acho.
⁃ Ele não me falta ao respeito por te beijar. Vocês namoram, isso é uma das coisas que os casais fazem, é natural.
⁃ Eu sei, mas...
Mas... - ele me interrompe rindo levemente - Como se vocês só beijassem na boca e dormissem juntos - meu pai volta a olhar pra mim ao parar num semáforo e eu não reprimo uma risada que, mesmo tímida, foi alta - Tô errado? Vocês já, não já? - intensifico a risada, fazendo-o empurrar levemente o meu braço como brincadeira - Pronto, é um assunto delicado pra falar com o pai.
⁃ Não, é um assunto normal né... É lógico que sim, pai, cê sabe que já.
⁃ Eu não sei. Se tu não me fala, eu não sei.
⁃ Claro que sabe, a mãe já deve ter te contado.
⁃ Hum... Todo mundo sabia menos eu então.
⁃ Para de mentir - digo ao rir levemente.
⁃ Eu só deduzi isso porque vocês vivem grudados agora, dormem juntos lá na casa dele, ou na casa de vocês, não sei como chamam, então...
⁃ Isso não quer dizer nada, a gente já tinha dormido juntos antes e não aconteceu.
⁃ Eu já tive essa idade, filha - ele ri - São sinónimos.
⁃ Não têm que ser sinónimos, pai... Sei lá, nada a ver - de novo ele me olha de relance e eu volto a rir - Isso é o mesmo que falar que a gente... Que a gente acaba fazendo amor sempre que dormimos juntos e você sabe que não é desse jeito.
⁃ Lógico que não, vocês fazem mesmo sem ser hora de dormir - dessa vez sou eu que empurro o braço dele, rindo alto, o que o faz rir também.
⁃ Você é muito ridículo, hein Duarte?
⁃ E fala pro pai, agora mais sério, vocês fazem amor ou é você que faz?
⁃ A gente, né? - respondo tentando entender a pergunta e ele me olha novamente - Sim, pai, o Victor não é cuzão, é a gente - digo por fim ao entender tudo.
⁃ Fico feliz, filha! Fico feliz que não tenho que dirigir pro estúdio nesse momento pra confrontar o meu genro, né? - ele diz tentando ficar sério e eu começo a rir.
⁃ Cê é tá muito engraçadinho hoje, né?
⁃ Tô só feliz. Sabe que não é todo dia que a minha filha bipolar quer passar tempo com o pai. Desgrudar do namorado deve ser difícil, né? Quer dizer, agora eu compreendo porquê.
⁃ Para com isso, Duarte Báez! Nem vem! - digo repentinamente e ele solta uma risada alta, estacionando na frente do Coffeetown - Eu em! Guarda as suas indiretas, tá bom?
⁃ Agora eu vou falar sério mesmo, filha - fala enquanto tiramos os cintos de segurança e me encara - Usem capa, toma alguma coisa, pensa noutro jeito, mas se cuidem! As coisas não acontecem só com os outros, você sabe - o olhar dele me mostra o que ele queria falar com aquela ultima frase.
⁃ Eu sei, pai, não se preocupe comigo.
⁃ Contigo eu não me preocupo - responde ao abrir a porta do carro - Eu me preocupo é se tu deixar com o Chris. Homem não pensa, Suzy, e é fácil agir por impulso.
⁃ Não, ele é preocupado também.
⁃ É, eu vi ontem que ele é...
⁃ Mas aí fala a voz da experiência, né? - digo ao entrarmos no estabelecimento - Você foi pai com 21 anos também.
⁃ Mas a sua mãe era certinha pra caralho - cerro os olhos, como que duvidando dele, conforme nos sentamos - É, filha, o teu irmão não foi um acidente.

O garçom se aproxima e nós fizemos os pedidos, havendo uma pausa na nossa conversa, porém logo voltamos a nos focar.

⁃ Então? Tu e a mãe planejaram o Mozart?
⁃ Não foi planejado, mas a gente sabia perfeitamente que ia acabar acontecendo, só não pensou que fosse logo no primeiro ano que a gente tentou.
⁃ Eu acho que nunca conversei com vocês sobre isso, pensei sempre que só tinha acontecido - ele anui e eu pouso a cabeça sobre o meu punho, esperando ele continuar.
⁃ A tua avó, minha sogra, teve dificuldades para engravidar, por isso que só teve a tua mãe, e ela era muito irregular, então a gente pensou que ela podia ser como a mãe dela. E dois adolescentes que não pensam direito, tiveram a brilhante ideia de começar a tentar porque se houvesse algum problema, a gente tratava - arregalo os olhos - A gente só não pensou que ia pegar tão cedo.
⁃ E como foi descobrir? Vocês ainda estudavam.
⁃ Eu estudava e trabalhava lá em Lisboa, a sua mãe só estudava porque medicina é difícil pra caralho, então a gente já tinha um pouco, muito pouco, de independência financeira, mas mesmo assim foi um choque... Um filho exige muito de nós.

Ele volta a parar de falar quando o garçom volta com nossos pedidos. Agradecemos e voltei a olhar pra ele, esperando a continuação.

⁃ A tua mãe tinha um exame médico ao sangue pra fazer porque ela andava muito fraca, mal conseguia comer, cansava muito fácil, e os médicos pensavam que podia ser anemia. No dia que ela foi entregar o resultado dos exames eu fui com ela porque nessa manhã eu estava livre... E as coisas acontecem porque têm que acontecer. Aí a médica falou que os valores estavam bem, e que não sabia se era do nosso conhecimento, mas que ela estava grávida de dois meses.
⁃ Nossa! Que medo! Vocês não desconfiavam sequer?

Ele anui, dando um gole no seu café, antes de voltar a falar.

⁃ A gente não desconfiava porque a tua mãe menstruou, então pra nós estava tudo normal.
⁃ E qual foi a reação? Tanto a de vocês, como a dos avós? - pergunto já levemente assustada.
⁃ A sua mãe ficou em choque, ela não lidou bem com isso nos primeiros três dias. Eu fiquei em choque, mas ainda lá no hospital eu comecei a ficar feliz. Eu sempre quis ser pai, não tão cedo, mas queria... E o seu tio foi uma força enorme pra nós, por isso que o André era o padrinho do teu irmão, até quando a gente foi contar pros seus avós, era ele que estava lá para deixar tudo mais calmo.
⁃ E a reação dos avós foi má? - ele anui, encolhendo os ombros.
⁃ Depois de feito, o que é que a gente podia fazer? Aceitar e criar - respiro fundo, assimilando tudo - Eu tava com medo do que o seu avô ia achar, a filha dele ainda tinha vinte anos, mas como a gente já estava junto desde os quinze, dezasseis, e eu estava terminando o meu curso, a reação de todos foi melhor do que esperávamos.
⁃ E se fosse eu a chegar com uma noticia dessas em casa? - ele suspira e arregala os olhos.
⁃ Não sei, filha... Eu não espero isso de você, acho que ia me desiludir, mas no fundo eu ia ficar feliz, é um neto, cara... - ele sorri genuinamente, me fazendo sorrir também - Mas tu não tá grávida, pois não?
⁃ Acha mesmo que sim? Como que o Chris se ia virar com dois filhos?
⁃ Falando nisso – ele fala enquanto eu dou um gole no meu cappuccino e uma parte de mim congela sabendo o que vem daí - Você está realmente bem com isso? - aceno positivamente de um jeito natural - De verdade, filha? Aceitou bem?
⁃ Ele teve uma vida antes de mim, pai, e há consequências dessa vida que se fazem sentir agora, essa gravidez é uma delas... - encolho os ombros - De inicio eu fiquei triste... Quer dizer, nem sei se posso falar triste, mas eu fiquei sem chão mesmo. Eu gostava de ser a primeira pessoa a fazer o Victor se sentir desse jeito um dia... Só que ele estava tão desolado que eu soube que tinha que ficar bem para o ajudar a ficar. Não tá sendo fácil pra ele, embora pareça.
⁃ Não parece não. Dá pra ver que isso mexe demais com ele. E contigo também.
⁃ Eu tô feliz. Vou ter um enteado - dou uma leve risada e ele me acompanha - Vou ter a experiência do que é ser mãe, só que de um jeito leve.
⁃ Ele tá pronto pra ser pai?
⁃ Eu acho que ele vai se sair bem, tal como todos da idade dele têm que se sair quando a responsabilidade aperta, né?
⁃ Eu estava do mesmo jeito e hoje a minha primeira grande responsabilidade tá um homem feito.
⁃ Você se deu muito bem - falo e ele segura a minha mão, sorrindo genuinamente.
⁃ Vocês vão se dar bem também.

𝚟𝚘𝚊𝚗𝚍𝚘┊ 𝐜𝐡𝐫𝐢𝐬 𝐦𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora