Não sou de ferro.

827 72 6
                                    

Ficámos nos encarando por uns segundos e só nesses mesmos segundos a minha respiração tinha acelerado. Ele aproximou-se um pouco da minha cara, o que me fez pensar que talvez ele me fosse beijar. A música mudou para Xamã do Profjam.

⁃ essa é boa também - ele fala perto do meu ouvido e brinca com o seu nariz na minha pele perto da minha orelha, depositando um beijo na minha bochecha seguidamente.
⁃ é, das minhas favoritas. - falei baixo, talvez ele tivesse notado o meu desapontamento pelo desenlace do momento, uma vez que riu pelo nariz e se afastou.
⁃ trouxe vinho pra gente - tento esboçar um sorriso, sentindo as minhas bochechas a arder.
⁃ que ótimo! vamos jantar? - digo enquanto me dirijo pra mesa. ele me impede de avançar, prendendo a minha cintura com um dos seus braços.
⁃ hey! morena, que foi?
⁃ nada não - tento andar e ele acaba abraçando a minha cintura, ficando atrás de mim.
⁃ olha pra mim - fala perto do meu ouvido. eu olho - que se passa?
⁃ você acha que uma pessoa fica totalmente bem depois de sentir alguém a abraçá-la quando ela, alegadamente, estava sozinha em casa? - minto sobre o motivo de estar amuada e dou uma risada falsa - eu fiquei assustada.
⁃ você estava tendo um momento tão seu que não queria estragar, mas depois acabei achando você irresistível e me aproximei - ele puxa mais o meu corpo pro dele.
⁃ vamos comer então? - acena positivamente com a cabeça à minha pergunta, depositando um beijo na minha testa.

Livro-me dos seus braços e repreendo-me por ter amuado por um motivo tão idiota. Eu não faço acontecer e reclamo por ver que ele não avança.
Respiro fundo e começo a aproveitar aquele jantar com ele.
Enquanto jantávamos falámos do nosso dia, acabei dando risada com o que ele contava sobre o seu dia, admirando as gargalhadas que ele dava que o impediam de contar as histórias de forma contínua.

⁃ vocês são doidos! - eu falo quando consegui parar de rir.
⁃ não nego - levanta o copo e bate no meu, bebendo de seguida. fiz o mesmo que ele.
⁃ já terminou de jantar?
⁃ eu não aguento mais comida - ele responde pondo a mão na barriga.
⁃ ainda tem que ter espaço pra sobremesa, Chris!
⁃ a sobremesa que quero não ocupa espaço - ele passa a sua mão na minha e me encara. fiquei confusa.
⁃ você não se referia ao que eu acho que você se referia, pois não, Victor? - franzi o sobrolho.
⁃ depende do que você acha a que eu me referia. - ele recolhe o seu braço, colocando os dois quase cruzados em cima da mesa, na frente do corpo dele que estava inclinado.
⁃ eu acho que você sabe.
⁃ eu sei ao que eu me referia. - voltei a ficar sem jeito e as bochechas começaram a queimar de novo.
⁃ ah, vai se ferrar - falo enquanto me levanto e começo a arrumar a mesa.
⁃ eu falei pra você que ia fazer essas bochechas arder, não falei? - ele se levanta.
⁃ você já pagou com o susto que me pregou, não precisa me torturar mais, né?
⁃ foi você que começou - ele fala enquanto me tira a louça da mão - e agora é a minha vez de trabalhar, você já preparou tudo antes.
⁃ mas você esteve a trabalhar o dia todo, eu não - continuo a arrumar a mesa enquanto ele coloca a louça suja pra lavar.
⁃ você esteve no seu trabalho, estudar exige esforço também - ele lava as mãos e enquanto as seca olha pra mim - e estudar no ritmo que você estuda, deve dar ainda mais trabalho.
⁃ é a minha obrigação, eu ainda não faço mais nada senão isso - falo colocando o bolo em cima da mesa. - quando você morava com a sua mãe, tinha que ajudar ela, né?
⁃ óbvio - ele ri - ainda hoje se eu vou lá eu tenho que ajudar. eu ajudo, levei tanta surra na adolescência que fiquei traumatizado - eu rio alto enquanto corto duas fatias de bolo e lhe entrego uma.
⁃ levava surra porquê?
⁃ oh mano, eu tinha os meus 15 anos, ou 16 anos, eu queria mesmo era aproveitar e por vezes nem lembrava que a minha mãe trabalhava demais, sabe? - ele ri e abana a cabeça negativamente, se repreendendo - então como a minha namorada na altura quase nunca podia vir lá pra casa porque a minha mãe por vezes chegava do trampo mais cedo, eu ia na casa dela porque não tinha ninguém nessa hora. depois eu ainda ia jogar futebol com amigos, ou seja, eu já estava cansado e ainda me ia cansar mais - ele ri e me olha - eu chegava em casa depois da minha mãe e não tinha feito o que ela pediu, óbvio que ela dava surra.
⁃ isso só aconteceu uma vez, certo Victor? - questiono tentando não rir.
⁃ óbvio que não, eu nem queria saber, só queria aproveitar. então eu ia mesmo sabendo que ia levar, e a minha mãe deixava tarefas mesmo sabendo que eu não ia fazer e ela ia me bater - solto uma gargalhada alta com o seu jeito natural de falar e ele acaba rindo também.
⁃ você é tão burro!
⁃ oh mano, eu queria estar com a minha mina, e queria jogar futebol, queria aproveitar, era jovem. - ele fala com a boca cheia ainda - o seu bolo está tão bom!
⁃ como alguém já disse, tudo o que eu faço é bom - pisco o olho, lembrando da conversa que ele tinha tido com o CT na minha frente quando se ofereceu pra me preparar um gin.
⁃ preciso de mais provas, não me posso basear só num elemento. porém, eu acredito! você tem cara de quem faz mesmo - ele coça a barba e reviro os olhos, sem esconder o sorriso.

Depois de tudo arrumado fomos pra sala, ele escolheu um filme de terror pra gente assistir. Escolheu A Entidade.
Eu estava a morrer de medo durante o filme, era pesado demais. Acaba escondendo a cabeça contra o peito dele e abraçando ele mais.

⁃ tenho que fazer você ver filmes de terror comigo mais vezes! - ele ri enquanto via o filme como se fosse animado.

Num dos momentos de mais suspense, naquele momento em que você não descola da tv, ele acaba tossindo. Meu coração parou por sentir algo bem perto de mim enquanto esperava algo acontecer na tv. Ele riu alto ao ver o salto que eu dei.

⁃ olha Chris, vai se foder! - falo de forma agressiva, ele ri tanto que o ar falta e eu acabo rindo, sentindo o meu coração a bater bem rápido - eu quase morri - encosto a cabeça no pescoço dele.
⁃ mano, queria ter gravado isso! - ele faz pausa pra falar e logo volta a rir.
⁃ para - coloco a sua mão no meu peito pra que ele sentisse o meu coração - veja só como está acelerado.
⁃ de facto, eu tenho que te assustar mais vezes - ele me olha no fundo dos olhos e sorri maliciosamente.
⁃ porquê? por isso? - aperto a mão dele fazendo com que ele apalpasse a zona onde tinha a sua mão.
⁃ não faz isso, morena, eu não sou de ferro! - ao ouvir estas palavras eu sentei no seu colo, olhando bem no fundo dos seus olhos.
⁃ e quando foi que eu te pedi pra ser? - questionei antes de iniciar um beijo tudo menos calmo.

𝚟𝚘𝚊𝚗𝚍𝚘┊ 𝐜𝐡𝐫𝐢𝐬 𝐦𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora