Preciso de tempo.

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A condução do Chris estava a assustar-me, ele dominava o carro bem demais, porém a maneira rápida como ele o manobrava deixava-me assustada, ansiosa, e eu sou sempre quem mais ama velocidade.
Estávamos em uma rotunda e um homem que queria entrar não deu prioridade. O Chris devia parar, mesmo que ele tivesse a prioridade de continuar na rotunda, para evitar um acidente. Como ele tem dias que parece acéfalo, acelerou e ficou lado a lado com o outro carro num espaço que só dava para um deles. O homem viu-se obrigado a parar.

⁃ Você é doido, porra? Viu o que fez caralho? - elevo o tom de voz assustada.
⁃ A prioridade era minha, ele só tinha que ceder. - fala calmamente como se fosse a coisa mais normal do mundo.
⁃ Você não pensa, Victor!

Deixo que a minha respiração volte ao normal.
Momentos depois respirei bem fundo, agarrando o seu braço quando ele trava o carro quase em cima do outro. Estou habituada a deixar sempre a distância de segurança e vê-lo travar com pouca distância fez com que todo o ar abandonasse o meu corpo por segundos.

⁃ Encosta, eu mesma irei conduzir! - ele coloca a mão na minha perna.
⁃ Eu sei o que estou a fazer, não conduzo à toa.
⁃ Não parece!
⁃ Calma, princesa. Estamos a chegar.

Respiro fundo e ele continua a marcha, com as suas manobras arriscadas até que chegamos no café.
Era um espaço bonito, bem calmo e não tinha muita gente naquele momento.

⁃ O que você vai querer? - questiona.
⁃ Um café mesmo.
⁃ Não quer cerveja?
⁃ Não, vou guardar o fígado pra logo - ele ri.
⁃ Vai no show? - aceno positivamente - Depois vai na casa do DoisP? - continuo a acenar positivamente. O garçom aproxima-se da nossa mesa.
Boa tarde, o que vão desejar?
⁃ Boa tarde - falamos em simultâneo - Um café e uma Brahma, por favor.

O garçom anotou os pedidos e não muitos minutos depois chegou com eles. Agradecemos.

⁃ Como tem estado? - ele encara enquanto eu mexo o açúcar no café.
⁃ Você sabe - falo olhando pra baixo.
⁃ Me perdoa, eu nunca quis te magoar.
⁃ E você? - olho pra ele.
⁃ Nada melhor... - suspira - Eu sei que você não quer falar, mas entenda que eu não te traí, só isso Sú, eu não beijei ninguém sequer.
⁃ A traição nunca é só física, Victor. O que você não fez, eu sei que você pensou. É isso que dói- engulo a seco - Porque fica o pensamento de que se você comesse "em casa", não precisava procurar fora.
⁃ Não fala isso, é sério! - ele procura agarrar a minha mão - Eu estou bem do jeito que a gente está, Sú. Eu não nego que por vezes eu desejo até que o clima esquente entre a gente e algo aconteça, porém eu sei que por agora não dá, e está tudo bem! Estará tudo bem até você se sentir preparada.
⁃ Não é tão fácil assim, Victor. Eu não sou difícil assim por opção. Acredite... - suspiro de tristeza - Se fosse por opção eu já tinha sido sua faz tempo, o problema...
⁃ Qual é o problema? - ele me encara.
⁃ Ah - suspiro - Esquece isso.
⁃ Sou eu?
⁃ Não, não, por favor, não pense isso - faço carinho no rosto dele - Você jamais será o problema.
⁃ Então qual é? - me olha preocupado.
⁃ Vamos mudar o tema de conversa, por favor... - olho pra ele tristemente, embora tenha tentado disfarçar.
⁃ Desculpa - ele coloca a mão no meu queixo - Você sabe que pode contar comigo pra tudo, não sabe? Eu jamais falharei com você. - aceno positivamente e sorrio fraco.
⁃ Como foi reencontrar a sua mãe? - ele sorri.
⁃ Incrível, como sempre. Aquela mulher é o meu mundo, estar do lado dela é sempre tão bom, eu me sinto seguro. - ele dá uma risada e me olha - Levei tapa no braço por conta do que aconteceu.
⁃ O quê? - questiono surpresa.
⁃ Com a Milla! Ela viu a marca no meu pescoço e me deu um tapa, defendendo você!
⁃ Ela conhece-me? - pergunto assustada - Chris! Que vergonha!
⁃ Ela gostou de você e nem te conhece pessoalmente - ele sorri - Apresentei como a irmã do Mz, a Suzy. Ela falou que se eu faço mais isso, ela me dá surra - dou risada.
⁃ Devia dar mesmo!
⁃ Olhe que ela era mulher pra me dar surra se eu precisasse! - ele fala sério, isso fez-me rir mais alto.
⁃ Que mulher! - sorrio.
⁃ Só faltou a Clara, tenho saudades - fala dando um gole na cerveja de seguida.
⁃ Quem é a Catarina de quem você falou quando disse que a ia levar a casa? - ele esboça um sorriso de ternura quando eu questiono.
⁃ É a minha filha. Só estou com ela quando vou a BH. Já está tão crescida, já manda beijinho até - ele dá uma pequena risada - Queria estar com a Bruninha e com o Guigo, porém não tive oportunidade dessa vez.
⁃ Seus filhos também? - questiono surpresa.
⁃ Aham - fala e dá mais um gole na cerveja.
⁃ Você não tem direito a estar com eles mais tempo? Porque só a mãe tem? - questiono confusa.
⁃ Sú... Eles não são mesmo meus filhos, são filhos emprestados - ele sorri - Eu ajudo os pais deles para que eles não tenham que passar pelo que eu passei, entende?
⁃ Até a Catarina?
⁃ A Catarina é um caso ligeiramente diferente...
⁃ É sua filha mesmo?
⁃ É, não é de sangue, mas ela é minha filha - ele me olha - Um irmão meu foi preso, eu cuido dela pra que nada falte, pra ver sempre aquele sorrisinho no seu rosto... Eu sou tão apaixonado por ela, sabe? Não é que eu não seja pela Bruninha e pelo Guigo, eu amo eles com todo o meu coração, mas a Catarina eu vi nascer, ela cresce comigo - ele suspira - Eu sempre quis ser pai, ser um pai bem presente, ao contrário do homem que me fez, e estar presente na vida deles completa-me, motiva-me, inspira-me.
⁃ Eu tenho tanto orgulho em ti - falo emocionada e algumas lágrimas caiem. Ele trata de as limpar.
⁃ Não se orgulhe, morena, eu falho mais do que acerto.
⁃ Orgulho sim, não é qualquer pessoa que faz isso - agarro a sua mão - A mulher que tiver a sorte de dar à luz o seu filho, vai ser a mais sortuda de todo o mundo. Você será um marido e um pai incrível, cada vez mais me convenço disso.
⁃ Eu morro de ansiedade que chegue esse dia, de ter a minha vida organizada, chegar em casa e ver minha mulher brincando com os nenéns, ou ver ela chegando e recebê-la com o nosso filho no meu colo. - ele suspira - Eu sei que ainda estou longe, mas eu já estive mais. Hoje em dia eu estou focado.
⁃ E você vai conseguir! Eu quero ser convidada pro casamento, viu?
⁃ Você vai ser a estrela dele - ele me olha com ternura e sorri. Agarro a mão dele e acaricio.
⁃ Vai por mim, procure melhor, eu sou uma pessoa que carrega uma história pesada dentro dela, tenho um feitio horrível e sou difícil de lidar.
⁃ Por isso que eu gosto de ti, dessa adrenalina, de saber que todas as palavras que vêm de você são genuínas! Gosto desse seu jeito, gosto de saber que tenho o que nenhum outro teria.
⁃ Chris, você teve... - falo baixo.
⁃ Sú, vamos resolver tudo...
⁃ Preciso de tempo. Vá nessa turnê totalmente disponível, sério - passo a mão no rosto dele - aproveite o que tiver que aproveitar. Eu vou ficar disponível também, vou fazer o que tiver que fazer. Daqui a duas semanas a gente vê... Se o sentimento prevalecer, talvez seja melhor a gente voltar ao que era.
⁃ Você fala isso, mas se eu pegasse alguma você não ia gostar. Pelo menos eu não ia gostar que você ficasse com outro.
⁃ Não pense isso. Nós estamos sozinhos agora. Não temos que ficar ofendidos. Chris, fica com quem você quiser durante essa turnê, mano, se der vontade pode ficar mesmo, eu nem preciso saber, se for esse o seu receio. Eu só preciso de tempo pra pensar em tudo.
⁃ Eu vou estar pensando em você - ele acaricia o meu rosto.
⁃ Acredite, você também não me sairá do pensamento.

𝚟𝚘𝚊𝚗𝚍𝚘┊ 𝐜𝐡𝐫𝐢𝐬 𝐦𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora