Resistir.

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••• Suz's POV •••

Pego em duas pipocas e levo na direção da sua boca, fazendo-o rir quando se esforça por morder levemente os meus dedos.

    ⁃    Eu sei que tu vive pra cachorrada, mas seja um menino lindo e se comporte, quem sabe eu até te recompense com um ossinho - ele dá uma risada e faz uma cara de enjoadinho, se inclinando para me beijar.

Chris volta a prestar atenção ao filme e, por muito que eu estivesse gostando, acabava precisando de combater o sono. Hoje não dormimos propriamente bem porque o Victor estava inquieto com algo, portanto, eu acabava não pegando no sono também. Decidimos, por fim, nos levantar para arrumar a casa, acabando de o fazer já perto das dezassete. De seguida tomamos banho e concordamos em assistir um filme, V de Vingança, então fui fazer brigadeiro, e pipocas para trazer para o nosso quarto.
O corpo cansado, a mão dele acariciando o meu cabelo e o chamego pediam que eu fechasse os olhos e me deixasse adormecer, contudo, ele não adormeceu quando assistimos o meu filme favorito, então também não farei isso com ele.

    ⁃    Não tem frio? - pergunto inconscientemente e vejo que realmente perdi o foco.
    ⁃    Não, o seu corpo tá quente também e tá colado no meu, então tô bem - pega uma pipoca e leva à minha boca.

Aceno positivamente e volto a tentar me focar na tv, já estávamos assistindo faz tanto tempo que devia estar terminando. De facto, não demorou e o final chocou-me, o que me fez verter pontualmente umas lágrimas.

    ⁃    Quem chora com um filme desses, mano? - ele pergunta quando se apercebe e dá uma leve risada.
    ⁃    Sei lá mano... Olha como ele a fortificou... Ele amava tanto a moça que ia abdicar da operação que planejou durante a vida inteira meu, como você não se emociona?
    ⁃    Já vi tantas vezes que o coração calejou.
    ⁃    Viu tantas assim?
    ⁃    A cada cinco de Novembro - faz referência ao maior acontecimento do filme, que foi a cinco de Novembro.
    ⁃    Nossa! Isso é foda, amor.
    ⁃    Tem uns seis anos que eu descobri esse filme e todos os dias cinco de Novembro eu vou ver ele.
    ⁃    Eu tenho um namorado muito dedicado com aquilo que ele ama - me esforço por conseguir beijar os seus lábios.
    ⁃    É, e falando nisso... - encaro-o seria quando sinto nervosismo não sua voz - Preciso conversar contigo.
    ⁃    O que aconteceu, Victor? - pergunto e sinto meu coração apertar de um jeito absurdo.
    ⁃    Não é nada de mal, boba!

Ele dá uma risada leve e pega o celular, procurando algo que logo me dá a saber. No momento em que li aquele e-mail, nem sei dizer ao certo o que senti. Me senti absurdamente feliz, grata até, ao mesmo tempo que senti um pesar enorme no peito.

    ⁃    Victor...
    ⁃    Antes que você brigue comigo, eu relembro que eu sempre quis fazer essa viagem, agora tive a oportunidade certa.
    ⁃    Mas é muito caro, Victor... Mano, eu não posso evitar me culpada - digo levemente aborrecida - Não pense que é ingratidão, amor, só que...
    ⁃    Só que nada - interrompe - Se eu ganho, é para gastar com o que eu preciso.
    ⁃    Você não precisava fazer essa viagem.
    ⁃    Eu preciso, me recuso a só ter mais duas semanas contigo. Me recuso a permitir que volte sozinha para Portugal. Eu preciso ir para te amparar no primeiro impacto...
    ⁃    Não ponha os meus interesses na frente dos seus...
    ⁃    Esse é também um interesse próprio! A gente vai passear por Coimbra, Porto, cê vai ser a minha guia turística privada...
    ⁃    É muito caro... - ele respira fundo quando eu repito, mas a sua expressão continuava tranquila.
    ⁃    Você quer brigar por conta do dinheiro?
    ⁃    Não quero brigar, mas não posso deixar de te lembrar isso.
    ⁃    Se eu não tiver dinheiro pra voltar, eu fico lá contigo - ele brinca, me puxando mais para si, voltando a unir os nossos lábios.
    ⁃    Que bom que já comprou ida e volta, né? Porque se você ficasse, eu não voltaria em dois anos...
    ⁃    Tá falando que eu sou uma distração ao seu sucesso?
    ⁃    Tô falando que não ia ser capaz de resistir a você - de novo caímos na risada até nos encararmos com um sorriso bobo nos lábios.
    ⁃    É assim que eu gosto de estar contigo, em paz, apaixonados, sem briga...
    ⁃    Mas na frente dos amigos paga de machão.
    ⁃    Ninguém pode saber que às vezes eu sou a parte pequena da conchinha - ele brinca, nos fazendo rir - Ou que tem vezes que sou eu quem dorme encostado no teu peito...
    ⁃    Só falta pedir pra mamar e já é considerado meu neném - aperto as suas bochechas com uma só mão, depositando um leve beijo nos seus lábios.
    ⁃    Mas o que você sente por saber que eu vou contigo? - suspiro ao escutar a pergunta.
    ⁃    Me sinto culpada, como já sabe, com medo de ter que te ver vir embora depois... Mas acima de tudo, me sinto sortuda por ter alguém que se preocupa comigo a esse ponto, ansiosa por te levar aos meus lugares favoritos naquelas cidades, expectante... Grata.
    ⁃    Então não vai ficar aborrecida com essa decisão? - põe uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
    ⁃    Na verdade eu tô, mas a gente brigou feio faz três dias e eu não quero voltar a isso.

Ele acaba soltando uma risada alta, sendo acompanhado por mim, porém, fomos interrompidos pelo celular dele tocando.

    ⁃    É a Yasmin... - diz confuso e eu reviro os olhos - O que terá acontecido?
    ⁃    Enfim... Vou na cozinha.

Respondo levemente irritada, tentando controlar porque ele não tem culpa de receber uma chamada dela e, apesar de tudo são amigos... Ela foi mais uma amiga da onça, porém ele continua a sentir um enorme carinho por ela, eu sei disso.
Pego no prato das pipocas e trago para a cozinha, dando todo o espaço e privacidade de que ele necessitava.

Lavei a louça que usei, tanto para fazer a pipoca, como o brigadeiro e escutei a voz do Chris vinda do quarto, embora não percebendo o que ele falou. Terminando de tratar da louça, tirei o brigadeiro da geladeira e confirmei que estava no ponto. Adicionei granulado e, com muito custo, subi as escadas sem comer nenhum, eles estavam mesmo apetitosos! No caminho, não escutei mais a voz do Chris, então ele deveria ter desligado já, o que era compreensível, sendo que eu demorei uns dez minutos na cozinha.
Chegando no quarto, vi que ele estava sentado com as pernas fora da cama e a cabeça pousada nos punhos cerrados, olhando em frente.

    ⁃    Que cara é essa? O que aconteceu? - pergunto ao me aproximar - Tem aqui uns brigadeiros para te adoçar, pode ser que volte a te deixar de bom humor.

Pouso o prato em cima da cama e noto que na linha de água nos seus olhos, o que faz o meu coração apertar, afinal, quando eu saí ele estava bem.

    ⁃    Victor, o que foi? Você está bem? - passo a mão na lateral no seu rosto e ele respira fundo.
    ⁃    A Yasmin tá grávida, pô...

Encaro-o chocada, foi a única reação que consegui ter e, na realidade, nem tinha palavras, fora que aquela voz dele deixou-me de rastos.

    ⁃    Amor, não deixe que isso te afete... Ela é dona do destino dela, aliás...

Chris volta o seu olhar para mim e me interrompe, sem dizer uma palavra sequer. Calo-me quando vejo as primeiras lágrimas mancharem o seu rosto.

    ⁃    Suzanna, eu vou ser pai.

𝚟𝚘𝚊𝚗𝚍𝚘┊ 𝐜𝐡𝐫𝐢𝐬 𝐦𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora