Sentimento ou instinto?

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••• Chris' POV •••

Acordo com o meu celular tocando e só aí noto que a série tinha travado.
Pego o celular e vejo que é a Suzy, então logo atendo, temendo que ela estivesse passando mal naquele momento como na outra vez.

⁃ Oi, Suzy, você está bem?
⁃ Victor, eu tive um acidente - ouço a sua voz fraca e já saio da cama.
⁃ Você está bem, Suzanna? Onde você está? - questiono exaltado.
⁃ Eu não sei onde eu estou... Eu vinha de casa do Rodrigo - pego umas calças de moletom e uma blusa, vestindo o mais rápido que consigo.
⁃ Mas você está bem? Está machucada? Manda a sua localização, por favor!
⁃ Não, eu não me machuquei... Eu acho, eu não sinto nada - ela responde confusa e eu pego uma sweater, o celular e desço as escadas.
⁃ Manda a sua localização pro whatsapp, eu vou aí agora!

Me calço com pressa antes de pegar a chave do carro. O meu coração batia rápido demais só pelo susto que tomei ao acordar dessa maneira.
Ela falou que está bem, mas e se não está? Se falou isso pra eu não me afligir mais? Morro de medo que aconteça alguma coisa com ela!
Ligo pro Samu enquanto dirijo, dando as coordenadas todas de onde eles deviam ir.
Deixo de pensar racionalmente e dirijo o mais rápido que consigo, sabendo que só descanso quando me certificar de que ela está realmente bem.
Aqueles minutos pareceram uma eternidade para mim, o caminho não acabava mais e parecia que eu não a ia encontrar nunca. Cheguei até a ponderar que talvez tivesse errado o caminho, mas consegui ver que estava certo quando reconheci o seu carro. Ele estava em contra mão, do lado de uma ribanceira o que fez o meu coração bater mais rápido ainda até notar que ela está fora do carro.
Estaciono o mais à direita possível e saio, indo ao seu encontro. Ela faz o mesmo, vem na minha direção e eu noto que ela está pálida, noto todo aquele choque na sua expressão.

⁃ Desculpa - fala quando os nossos corpos se tocam e eu aperto o nosso abraço - Foi o seu contato que veio na minha mente...
⁃ Tudo bem, não se preocupe com isso - beijo o seu cabelo, acariciando as suas costas pelo conhecimento que tenho de como isso a acalma e sinto-a chorar - Você está bem, está viva, é o que realmente importa, princesa! - ela começa a soluçar e o meu coração vai se partindo cada vez mais.
⁃ Eu destruí o meu carro, Victor... Foi o meu pai que praticamente o pagou... Como é que eu vou falar isso pra ele?
⁃ Isso não importa, o que importa é que você está aqui!
⁃ Victor, mas foi ele que...
⁃ Não importa, princesa - seguro o rosto dela, limpando as suas lágrimas com os meus polegares - O carro você vai recuperar, a sua vida é que não seria possível! E você está aqui, nada mais importa - beijo a sua testa com uma enorme vontade de beijar os seus lábios, mas não seria certo - Ja avisou mais alguém?
⁃ Só o Mozart, eu tenho medo de o meu pai saber... Amanhã eu falo pra ele.
⁃ Eu já liguei pro Samu e contei o que ocorreu... Ou o que eu sabia naquele momento...
⁃ Eu não consegui ligar, eu nem sei onde estou - quebro o nosso abraço e tiro a minha sweater.
⁃ Veste isso, deve voltar a chover.
⁃ Eu tenho o casaco...
⁃ Veste, princesa, é melhor - interrompo - Você precisa começar a acalmar-se.
⁃ Mas você só tem uma blusa!
⁃ E ainda assim continuo quente - não faço caso, o frio não me incomoda naquele momento.

Ela tira o seu casaco e me entrega, vestindo então a minha sweater.
Sentimos um carro se aproximar e, olhando, vemos que é o do pai dela. Ouço o seu suspiro quando se apercebe. Do carro sai o Mozart e o Duarte, vindo na nossa direção.

⁃ Boa noite - cumprimentam e o pai se aproxima dela - Filha, como está? Está machucada?
⁃ Desculpa - eles se abraçam e ela volta a chorar - Eu destruí o carro...
⁃ Eu quero que o carro se foda, quero saber de você! - acaricia o cabelo dela, encarando-a de seguida - Você está bem, filha? - ela acena positivamente e ele volta a abraçá-la.

Era notável como ele estava assustado e o Mozart, do meu lado, estava bem ansioso. Escutamos os bombeiros chegar, acompanhados de um carro da polícia. Eles quebram o abraço conforme as pessoas se aproximam.
Ela explica o ocorrido, e eles pedem que ela os acompanhe ao carro da ambulância.

⁃ Você estava com ela? - Duarte me pergunta.
⁃ Não, eu estava passando aqui e acabei reconhecendo o carro, tive que parar.
⁃ Eu preciso saber como isso aconteceu! Ela deve ter bebido demais!
⁃ Ela não está bebada, pai! - Mozart fala pela primeira vez desde que está ali.
⁃ Eu não sei, filho, ela veio daquela festa la, vai que bebeu e se aventurou... Eu não sei, mas eu tenho o meu coração nas mãos nesse momento!
⁃ Ela está bem, o Senhor precisa se acalmar. A sua menina está ali, ela está viva, nada mais importa.
⁃ É verdade, Chris, que se dane o resto se a minha pequena está bem.
⁃ A Dona Isa já sabe? - pergunto.
⁃ Não! Eu estava chegando em casa quando o Mozart ia sair e acabei sabendo aí... É melhor ela saber quando ver que a filha está bem!
⁃ Verdade, a Dona Isa é muito preocupada.
⁃ E obrigado, filho, por ter parado aqui para ver se ela estava bem - se aproxima e bate nas minhas costas - Eu fico muito grato.
⁃ Nada, Senhor Duarte! Faria isso por qualquer pessoa, por ela principalmente!
⁃ É bom saber isso, rapaz!

Ele responde e ela sai do carro, vindo na nossa direção. Só aí abraça o Mozart fortemente. Ele cobre-a totalmente no seu abraço enquanto eles falam sobre alguma coisa. Ele beija a sua testa e volta a abraçá-la.

⁃ Então, filha, está tudo bem?
⁃ Estive a explicar pra polícia o que ocorreu com mais detalhes enquanto os bombeiros viam se eu tinha alguma lesão - ela fala ainda abraçada ao irmão - Mas mesmo assim eu preciso ir no hospital, eles precisam se certificar de que eu estou bem.
⁃ Concordo com isso!
⁃ Mas eu não quero, eu odeio hospitais...
⁃ É pelo seu bem, Suzy, a gente nunca sabe se você não tem uma lesão interna... - falo e ela me olha, suspirando.

O pai dela se dirige ao lado dos policiais que estão do lado do carro dela e pega a sua bolsa que estava ao lado da porta do passageiro.

Tive tanto medo de perder você - ouço o Mozart murmurar enquanto continua a acariciar o cabelo dela.

Fico admirando o momento deles antes do seu abraço ser quebrado pelo bombeiro que avisa que ela precisa acompanha-los ao hospital.
Ela vem na minha direção e sorri fraco para mim.

⁃ Quer que eu te acompanhe?
⁃ Não precisa, sério. Eu fico muito grata por você ter estado aqui, sabe? - se prepara para tirar a sweater e eu impeço - Mas está frio...
⁃ Eu já vou para casa, não preciso.
⁃ Desculpa eu ter te chamado, nego - sinto o que as pessoas chamam 'frio na barriga' ao escutar isso - Eu não queria incomodar, mas...
⁃ Foi um privilégio saber que você levou a sério quando eu falei que estou contigo em tudo - faço carinho no seu rosto e ela inclina a cabeça de encontro com a minha mão - Depois fala alguma coisa, só vou dormir quando você me falar que está bem.
⁃ Obrigada por teres vindo, por tudo - me abraça e fala perto do meu ouvido - Você é o melhor.

Aperto o nosso abraço, sentindo-me ainda mais grato por ter o privilégio de a ter ali.

⁃ Cara, é sempre tudo por você - beijo o cabelo dela, acariciando-o de seguida - Eu te amo tanto, porra... - começo a tremer quando me apercebo do que havia falado.
⁃ Eu também - responde baixo quase instintivamente.

Ela se afasta um pouco e me encara. Os seus olhos brilham, mas a expressão está indecifrável, aí eu noto que não tive mais filtro. O seu rosto estava tão perto do meu que eu tive que me segurar para não tentar um beijo ali mesmo.
Chamam o seu nome de novo e ela acena positivamente antes de sorrir para mim e puxa o meu rosto para o beijar. Vejo tudo aquilo acontecer mas fico sem conseguir realmente reagir face a isso - ela falou o que sentia, ou por puro instinto como uma resposta programada?

𝚟𝚘𝚊𝚗𝚍𝚘┊ 𝐜𝐡𝐫𝐢𝐬 𝐦𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora