— É... sou eu sim — respondi, com meio sorriso na cara.
— Gente, como o tempo passa — ela disse; um sorriso mais alegre que o meu.
Porra, eu não conseguia deixar de reparar na barriga...
— Acho que já faz uns seis, sete anos, desde que te vi pela última vez — ela continuou. — Sei que você tem a transportadora ainda, não é?
— Tenho sim.
— Você mudou pouca coisa — ela falou, me olhando de cima abaixo. — A não ser pela barba que tá maior, mas você continua grandão como sempre — e riu.
Você, por outro lado...
Mariana ainda tinha aquele brilho alegre nos olhos. Tá ligado aquelas pessoas que tem um tipo de riso no olhar; não de deboche, mas de alegria mesmo? Pois então. Acho que ela nunca perderia isso. Mas todo o resto estava diferente. Ela tinha pintado o cabelo de louro e não sei se ficou muito legal e ela estava com a expressão muito cansada, como de alguém que não dorme direito.
— Pintou o cabelo... — comentei.
— Você notou? — brincou, passando a mão neles.
— Não sabia que podia pintar o cabelo com... — e acenei, sem graça, pra barriga dela. — Você sabe...
— Ah, ficou sabendo que eu engravidei?
Não tinha por que mentir.
— Tatu me contou.
— Ai, nem me fala do Tatu, viu. Meu irmão ficou andando com aquele menino que trabalha com ele esses tempos aí e só faltou matar minha mãe do coração. E eu também, né. O menino não é ruim, mas não tem futuro...
Era engraçado ela falar aquilo sendo minha ex.
— A amizade da molecada é assim mesmo — falei. — Não é porque um faz uma coisa que o outro vai fazer também. É só amigo.
Ela ficou subitamente sem graça.
— E você tá fazendo faculdade agora? — perguntei. De quantos meses será que ela tá? Era o que eu queria saber. Será que com mais de dois meses...?
Deus, me perdoa por ser um filho-da-puta, mas eu não queria que ela estivesse grávida a mais de dois meses.
Ela riu.
Mariana sempre foi de rir.
— Quem me dera — disse. — Eu tô é trabalhando no restaurante aqui na frente — e apontou pro outro lado da rua. — Tô na minha hora de janta agora.
Olhei para o lugar. Não era uma porcaria, mas... sei lá, cara. Naquela época, eu mal deixava ela pegar um copo pra beber água. Mas quem era eu pra julgar como as pessoas conseguiam levar suas vidas?
— E aí, tá namorando aquela moça, é? — perguntou, brincalhona, olhando a Maira de canto, enquanto ela trocava ideia com Gabriel e o outro filho-da-puta.
Não era o tipo de pergunta que eu esperava.
Olhei pra barriga de novo.
— Que porra é essa, Mariana? — falei. — A menina é minha funcionária. Só trouxe ela aqui hoje porque ficou resolvendo umas bucha pra mim lá na transportadora e ia se atrasar pra vir se fosse de busão.
— Ah, sim — pareceu mais tranquila. — Ia falar que ela é meio novinha pra você.
Olhei automaticamente pro Gabriel.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Declínio
Mystery / Thriller"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...