Helena quase infartou de susto.
Ismael tranquilizou a expressão na hora.
— Eu nem sabia que você tava aqui ainda — disse Helena, forçando um sorriso.
— Tava falando o que pra ela? — exigi saber.
— O que? — ele estranhou. — Não, eu tô tentando botar juízo na cabeça dela por...
— Que porra de botar juízo na cabeça dela, maluco — o interrompi, dando um único passo na direção dele. — Ela é criança por acaso?
— Calma, Alexandre — me pediu Helena, segurando meu braço.
— Não, patrão. Que é isso? — ele tentou se desculpar rápido, sorrindo. Agora que eu via aquilo, reparei que Ismael sorria em qualquer tipo de situação. Até naquela vez, há uns doze ou treze anos atrás, não me lembro direito, que eu dei uns murros nele por ficar ciscando em cima dela quando ela tinha apenas quinze, o viado ficou sorrindo. — Não foi o que eu quis dizer. É que eu tô preocupado com ela andando no carro desse jeito, mas ela não me escuta. Teimosa que só.
— O que o carro tem? — perguntei.
— Tá dando umas falhada. Acho que é problema no câmbio, mas esquenta não que eu já ajeitei de levar no colega meu pra ver.
Oxi, caralho. Eu mesmo tinha comprado aquele Etios zero pra ela não fazia nem três anos ainda e como assim já tava dando problema logo no câmbio?
— Que levar no seu colega, caralho — exclamei, enquanto acendia um cigarro. Já fui dando a volta pra abrir o capô... — deixa eu ver essa porra.
— Não precisa, Alexandre — ela veio até mim, correndo.
— Tá arranhando na hora de trocar a marcha? — perguntei, abrindo. Peguei o celular e acionei a lanterna.
— É... um pouco.
— Sente tranco quando passa de uma pra outra?
— Tenho sentido um pouco mais nos últimos meses.
— Qual a última vez que você trocou o óleo? — peguei a vareta e já fui verificando o nível. O dia estava indo embora, mas tinha claridade suficiente para que eu pudesse ver que o nível estava bom e que estava bem fluído.
— Acho que... quando foi, amor?
— Uns dois meses.
— Estranho — comentei. — Não era pra você tá sentindo isso. O câmbio é o mesmo que a Toyota usava no Corolla uns anos atrás. Não dá esse tipo de problema, ainda mais com tão pouco tempo, mesmo que você tivesse demorando pra trocar o óleo.
— Pois é — Ismael disse. — Por isso que eu ia levar no meu amigo que ele...
Estalei a língua.
— Faz o seguinte — falei. — Leva ele amanhã lá no Bill, sabe onde é, Helena, não sabe? — ela assentiu. — Ele entende bem da mecânica da Toyota e não vai cobrar nada. Mas leva amanhã.
Ismael pareceu meio contrariado, mas não se impôs como sempre fazia comigo...
Mas como pareceu não ter feito com a minha irmã uns instantes atrás.
Isso, eu não tinha esquecido.
[...]
— Opa, opa, opa! — exclamou Capuava. — Tá fazendo o que aí, cidadão?
— Só vim ajudar, moço — disse o rapaz que usava um uniforme que eu não consegui reconhecer.
— Faz parte da equipe? — perguntou Capuava.
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Declínio
Mystery / Thriller"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...