Capítulo Trinta e Um

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Cara...

Talvez, tenha passado uns... um minuto, menos talvez ou mais, não sei... e eu só consegui ficar ali sentado vendo ele se afastar rindo, alegre, provavelmente de alguma coisa que a Maira tinha dito pra ele. Ver que ele tinha um celular funcionando e meio que entender o porquê de ele ter me contado que não estava me fez cambalear um pouco, cara, eu tenho que falar.

Será, então, que eu tinha me enganado e, no final das contas, ele não gostava de homem? Talvez, fosse apenas o jeito tímido e mais delicado dele. Sei lá, mano, deve haver outros caras que sejam assim e que gostam de mulher. O mundo tem de tudo.

Mas não.

Eu sabia que não era o caso.

E só tava cogitando aquela hipótese porque eu queria me sentir mais tranquilo e não admitir o mais provável: o Gabriel gostava de homem sim, mas não de mim. Não do tipo de cara que eu era.

E ele tinha mais do que motivos de não gostar.

Eu era muito mais velho que ele, tava meio gordo, só falava merda, eu era ignorante demais e não tinha porra nenhuma pra oferecer pra ele.

E se eu fosse pra uma academia, evitasse de beber tanta cerveja e comer tanto, tirasse essa barba da cara e ficasse mais parecido com aquele filho-da-puta que eu tinha visto conversando com ele lá no dia que eu deixei a Maira na faculdade?

Será que ele me olharia melhor?

— Oi, Alexandre.

Me tirando da viagem, Paulo Henrique passou por mim e sentou no banco que tinha sido ocupado pelo Gabriel.

Não gostei daquela imagem.

Não gostei nada.

Apenas acenei com a cabeça.

— Você tá bem? — ele se inclinou pra me olhar melhor. — Parece meio cansado, meio preocupado, um pouco desanimado.

— É, Paulo Henrique... às vezes, a gente tem dias bons, às vezes não.

— Nossa, mas o que aconteceu?

— Nada não. É coisa minha.

— E eu não posso mesmo saber? — ele sorriu.

Fiquei aqui olhando pra cara dele por um tempo, sem falar nada, pra tentar ver se eu entendia qual era a desse moleque comigo. Porque, porra maluco, depois daquela cena feia lá na Vila Olímpia; até bater nele, eu bati e mesmo assim ele ainda insistia naquela frescuragem comigo.

— Não. Não pode saber — eu disse. — Eu não falei que é coisa minha? Se é coisa minha, é coisa minha e não sua. Qual a sua dificuldade em entender um bagulho tão simples como esse?

— Não... é que eu só quero te ajudar — ele explicou, sem perder sua animação de sempre. — Confia em mim. É bom poder desabafar, contar o que tá acontecendo e ouvir uns conselhos das outras pessoas.

— Pode ser bom sim. E se eu precisar do conselho de alguém, eu peço, o que eu não fiz pra você. Então, você não tem que esquentar a cabeça com isso.

— Mas eu esquento, porque eu sempre me preocupo com as outras pessoas — ele insistiu, se ajeitando no banco. — A gente pode tentar aqui pra você ver como pode ser bom desabafar. Porque, pelo pouco que eu te conheço, já me arrisco em dizer que você não é do tipo de pessoa que costuma desabafar com os outros.

Ao menos naquilo, ele estava certo.

— Eu posso começar te contando uma coisa que tá acontecendo comigo e aí você opina sobre isso, porque eu só contei pra algumas pessoas até agora e tô morrendo de medo que outras descubram — prosseguiu, sorrindo de forma semelhante à daquele dia que ele pediu que eu batesse mais nele. — Eu estou conversando com um cara faz pouquíssimo tempo, mas eu já estou me sentindo muito envolvido. Só tem algumas amigas minhas que sabem e a maioria delas estão simplesmente me detonando — e ele riu, colocando a mão na minha coxa, que eu tratei de tirar rapidamente.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora