Capítulo Dezoito

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— Caralho, moleque! Nessa idade e já fazendo tudo isso de merda — me dizia o policial que sentava ao lado do outro que dirigia.

Eu queria chorar...

Eu sentia meus olhos ardendo e minha garganta queimando, como se eu tivesse engolido um bolo de meia. Mas eu tinha que aguentar.

Os policiais eram foda. Tavam tudo numa boa, rindo e levando como se aquilo não fosse nada. Então, nem fodendo que eu podia chorar.

Mas era tão difícil.

Acho que, por muito tempo, eu me forcei a pensar diferente, porque sempre fui um otário nesse aspecto, mas sei comigo que chorei no camburão e não foi pouco.

Lembro bem de como minhas mãos não eram grandes... bom, não eram grandes pra como eu estava agora, mas me recordo de alguma coisa sobre eu parecer maior que os outros moleques da minha idade. E o que mais me impressionava era o modo como minha pele era clara e limpa, sem nenhuma sugestão do sem-fim de tatuagens que eu tinha hoje em dia.

Mas, não naquele dia.

Naquele dia, meus braços deixaram para trás os tempos de pele limpa e sem manchas.

Não eram tatuagens que eu tinha visto ali, meio sentado, meio deitado, olhando a rua fugir de mim conforme os policiais cortavam pelo meu bairro rumo ao DP.

Era sangue.

[...]

O sol ia nascendo aos poucos e já era quase sete da manhã.

Encostei o carro em uma das vagas ainda na entrada da delegacia e vi que tinha um policial já na porta. Assim que desci, ele não parou de me olhar.

— Alexandre? — ele me perguntou assim que cheguei na entrada.

— Isso.

Ele se demorou olhando meu carro e foi seguindo pra dentro.

Um policial militar comum.

No balcão da recepção estava o que me parecia ser o delegado plantonista e outro PM, olhando uns papeis.

— Então, você é o advogado do moleque? — me perguntou o delegado.

— Não. Mas ele já tá chegando.

— A gente ia deixar o moleque no castigo um tempo, mas quando vimos esse nome de grã-fino que 'cês tem, resolvemos te ligar — comentou o policial que estava na porta quando cheguei.

Eu ri.

Se ele soubesse que a família do meu pai era vista como a escória de uma cidadezinha no Rio Grande do Sul e que minha mãe tinha passado fome tanto no Paraná como quando chegou aqui na capital, ele não estaria falando merda. Se bem que, certamente, meu carro ajudou a solidificar aquela visão.

— O que foi? — ele quis saber.

— O que aconteceu com ele? — perguntei ao delegado, ignorando o PM.

Foi o outro PM que respondeu:

— A gente encontrou ele e um amigo dele perambulando com uma moto. Estavam vindo de um baile funk na região. Alcoolizados, não tanto, mas estavam um pouco sim. Só conseguimos comprovar do seu irmão.

— O outro se recusou a fazer o teste?

— Estava na garupa. Assim que nos percebeu, ele fez com que seu irmão parasse a moto e fugiu a pé. Acabamos o perdendo de vista.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora