Minha primeira reação foi correr pra varanda e me encostar na parede. A porra da varanda era aberta, então, havia um espaço muito pequeno de parede ao qual eu podia me esconder, mas era tudo o que eu tinha no momento. E eu tentei contar também com a longa cortina pra fazer com que tanto quem estivesse do lado de fora como quem já estivesse do lado de dentro não pudesse me ver.
E era importante que ninguém que estivesse lá fora me visse porque, apesar de eu ter dito que era uma varanda, o bagulho ficava no andar térreo; então, se um desses caras que tavam virados no capeta matando todo mundo cismasse de ir ali pra ver, não ia prestar.
Milla fez o mesmo e se encostou ao meu lado, mas se abaixando pra tentar se esconder atrás do parapeito.
'Cê é louco, ela tava resfolegando como se tivesse acabado de terminar uma maratona, os olhos imensos de tanto medo. E com certeza não devia estar com a cabeça em ordem, porque assim que se encostou ao meu lado, ela teve a loucura de erguer a cabeça um pouco, sobre o parapeito, pra olhar.
— Abaixa, caralho! — sibilei, entre dentes e ela obedeceu na hora.
Os tiros ecoavam cada vez mais alto e Milla tremia em cada um deles.
Teve um que soou tão alto e tão perto que até eu não me controlei e estremeci também, forçando minha nuca ainda mais contra a parede, como se isso fosse me fazer entrar dentro dela e ficar fora de vista.
Porra, o Raul... pensei, fechando os olhos.
Foi só nele que eu consegui pensar naquele momento.
Não, irmão... eu não sei como eu ficaria se acontecesse alguma coisa com ele.
Minha respiração começou a descompassar.
Não, relaxa, caralho. Relaxa. Raul é civil... é ligeiro, tem treinamento, ele vai... ele vai conseguir se virar e...
E Deus devia tá ouvindo minha agonia, porque meu celular começou a vibrar no meu bolso e pelo visor, eu vi que era o Raul ligando.
— Tá onde? — já fui perguntando, ouvindo uns ruídos ao fundo da ligação e a respiração ofegante dele.
— Tô descendo nos mato aqui, mano — contou. — Só sei que ouvi os tiros, vi uns caras chegando com as armas nas mãos e eu corri, porra. A gente nem viu, Alemão, mas lá perto da piscina, tinha um caminho que ia descendo até um bagulho que, que...
— O que foi, porra?
— Nada. Eu só pensei que tinha um cara atrás de mim... mano, eu só sei que eu consegui fugir. Desci esse caminho, pulei o muro e tô descendo o mato aqui, correndo. 'Cê tá onde?
— Dentro da casa ainda.
— Caralho... eu vou voltar.
— Não! Não, porra... é... o foda é que a gente veio no mesmo carro, se não eu ia falar pra você dar no pé, mas fica escondido aí que eu vou dar meu jeito de sair daqui pra gente pegar o carro e sair fora. Já chego aí.
— Cuidado, irmão. Tô te esperando.
— O que... o que a gente vai fazer? — Milla perguntou, agachada.
Quase tinha me esquecido dela.
Ela deve ter pressentido algo assim no meu olhar, porque ficou mais desesperada.
— Ai, Alexandre, você não vai me deixar aqui, não é? Pelo amor de Deus, eu não... eu não quero morrer. Não me larga aqui, cara. Por tudo que é mais sagrado.
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Declínio
Misteri / Thriller"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...