Capítulo Trinta

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Eu já tava fodido mesmo, então resolvi rir.

— Ele tá achando graça, viram? — Arthur falou, todo sorridente, o filho da puta. A primeira coisa em que reparei foi a sua cara ainda se recuperando das porradas que eu tinha dado nele da última vez. — Deve ser efeito do presentinho de vocês.

Os dois policiais se entreolharam.

— Justamente por isso, eu acho melhor deixar tudo nas minhas mãos a partir de agora, não concordam? ­— abrindo os braços, Arthur perguntou.

— Amigo, você pode ser um federal e tudo mais, mas não é melhor nem tá acima da gente. A alçada aqui, nessa abordagem, é nossa — disse o PM que me abordou primeiro.

— Hum, talvez seja exatamente como você diz mesmo — falou Arthur. — Mas imagino eu que o presentinho seja mais da minha alçada que da de vocês e a julgar pelo o que vi sobre o tal presentinho, teríamos de investigar mais de uma pessoa. Então, deixo nas mãos de vocês. O que vai ser?

Que porra de conversa era aquela?

O PM pareceu relutar, contra o quê, eu não sabia.

— Vamos, colegas. Ou vão me dizer que hoje vocês estão querendo mostrar serviço? — Arthur insistiu.

Após mais uma troca de olhares, eles simplesmente foram embora. De cara amarrada e com um quê de frustração, mas foram embora sem falar mais nada.

— Que porra de cena foi essa aqui? — eu quis saber.

— Agora sim pode descer do carro — pediu Arthur, ainda de olho nos PM que voltavam pra viatura. Olhei pro meu pai que já tinha parado com o choro e agora estava cochilando. Que vergonha, mano. Eu só podia esperar que eu não ficasse assim também toda a vez que bebia.

— Ou vai me tirar na porrada que nem o PM disse?

— Eu quero que você veja o que eles tinham pra você. Nada demais.

Fiquei curioso, confesso. Desci do carro, dando uma última olhada no meu pai que já até começava a roncar baixinho, e do lado de fora, segui o Arthur que foi até meu pneu traseiro e retirou um pacote todo embalado em durex marrom, na parte interior da roda.

— Que merda é essa?

— O presentinho — esclareceu ele, sorridente, ainda agachado.

— Você tá me dizendo que você botou essa porra aí, armou essa abordagem pra depois vir despachar os PM pra que eu pensasse que você queria era me ajudar?

— Raciocínio rápido o seu, hein. Mas acontece que não fui eu que colocou esse pacote aqui — se levantando, ele veio até mim e me mostrou uma foto no seu celular —, foi esse sujeito aí.

Era o Robson na foto.

— Seu amigo? — ele indagou.

Olhei a foto por só mais meio segundo e me voltei pra ele, aguardando uma resposta.

— Comprou outro celular, foi? — perguntei.

— Com o dinheiro que você me arranjou, não tinha como não comprar, né?

Eu cocei minha barba, irritado.

— Tá. Vamo' supor que tudo isso que você me falou sobre o pacote seja verdade, o que você ganha com isso?

— Eu não tinha dito pra você que precisava do seu suporte para uns projetos meus? Suporte financeiro, especialmente — ele esfregou os dedos. — Pois então. Como é que você ia poder me ajudar estando fodido com uma merda dessas? — e balançou o pacote ao lado do rosto.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora