Capítulo Quarenta e Sete

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Mal eu pisquei e o Capuava percebeu que eu estava ali e já foi vindo na minha direção, sorrindo.

Embora que, por mais filho-da-puta que fosse, não era do feitio do Capuava fazer aquele tipo de joguinho, então, não pude evitar de me perguntar se tinha o dedo do Robson naquela porra.

— E aí, Grandão — Capuava me cumprimentou primeiro, um sorriso leve na cara. Robson ficou parado uns dois metros mais atrás. Capuava apontou pra ele e falou: — olha só quem tá aqui. Lembra desse cuzão? Claro que lembra; ele tava sempre andando com você. Voltou pra São Paulo esses tempos aí, ele tava me contando.

— Sim, eu sei — encarei o Robson, bebendo mais um pouco da cerveja. — Eu já tinha visto ele antes.

— Ah é? — Capuava ficou meio confuso, lançando um olhar de relance pro Robson que sorria que nem um desgraçado. — Caralho, maluco... pra você ver como eu tô por fora das coisas.

— Tudo bom, Alexandre? — finalmente o cuzão se aproximou, estendendo a mão pra mim. Apertei, medindo a feição do Capuava mais uma vez. Intuição? É foda, maluco, afirmar esse tipo de coisa, mas até então, eu estava julgando que ele não tinha contado nada pro Capuava.

E se tivesse contado, o que o Capuava faria? Ponderei.

Em condições normais, ele ia chegar em mim na moral e contar tudo, mas depois daquela merda com a mulher dele... sinceramente, eu fico meio em dúvida se ele realmente levou isso tão a mal assim.

O foda é que se haviam defeitos a contar no infeliz do Capuava eram o orgulho e a incapacidade de aceitar ser apontado.

O viado sempre se enxergou mais alto do que é, pensei. Não, caralho... viado não. Eu já falei que não posso ficar pensando assim...

— Eu tinha visto o Kalil quando entrei aqui, mas perdi ele de vista... — Capuava estava dizendo, erguendo a cabeça por cima da multidão, procurando de um lado para o outro. — Vi o Neno também... faz um tempo da porra que eu não vejo o maluco.

— Acho que vi ele indo no banheiro — disse a Milla, aparecendo do nada.

— Você veio também? — Capuava se surpreendeu. — Que milagre foi esse?

— Milagre? — Milla ficou confusa. — Foi só a reunião que o Kalil tinha marcado pra hoje. Por isso você viu o Neno aqui.

Capuava ficou sem graça, de repente.

— Reunião sobre o que?

Ela me olhou, fez bico e pegou Capuava pelo braço, dizendo:

— Pensei que você sabia... mas não faz mal, vem um minutinho aqui comigo.

Os dois se afastaram, deixando Robson e eu a sós.

O cuzão ainda tinha aquele sorriso na cara.

— Tá nessa tranquilidade toda por que? — eu quis saber. — Tá achando que só por ter vindo com ele, eu vou me controlar?

— Eu não acho nada.

— Tem certeza? — provoquei. — Eu tô com a impressão que você tá se sentindo mais tranquilo por achar que tem um porto seguro agora. Mas, não, Negão... eu te conheço, porra. Você não seria burro ao ponto de pensar que estar próximo do Capuava iria me impedir de fazer alguma coisa com você, caso eu quisesse.

O sorriso foi morrendo.

— Porque você sabe, não sabe? — me aproximei. — Se eu não fiz nada com você até agora, foi porque eu não quis e não porque alguém não deixou. Até porque naquele dia lá não tinha Capuava, não tinha dívida, não tinha porra nenhuma... você não ficou esse tempo todo desde que voltou enchendo o meu saco com esse assunto de consideração? Pois então, essa é a última parte dela que eu gasto com você.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora