Capítulo Nove

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Nem muito menos tô aqui pra fazer média

Racionais MC's - De Volta a Cena 


Rodrigo caiu sentado, me olhando com raiva.

Porra... será que foi desse jeito que bateram no Gabriel?

O que era aquilo? Minha mente me dizendo pra ter dó?

Dó o caralho. Rodrigo não era o Gabriel, mas sim um filho-da-puta sem proceder nenhum que merecia ainda mais.

— Tá achando que tá falando com esses seus coleguinha de merda, filho-da-puta?! — gritei, a raiva inflada de novo. — Comeu bosta, foi?!

Por um momento, pensei que ele fosse reagir, mas ele baixou a cabeça de novo; a ira escoando pra fora por algum milagre. Não. Por dinheiro... que merda. Meu irmão era um verme sem integridade nenhuma.

— Desculpa... — disse ele num tom emburrado.

— Desculpa o caralho! — o tom mais alto o fez abaixar ainda mais a cabeça. — Da próxima vez que você vier com esse tom, me desrespeitando desse jeito, não vai levar só um tapinha de mão aberta não, entendeu? Não quer agir que nem vagabundo, querendo levar uma, não respeitando ninguém? Pois então. A partir de agora vou te tratar que nem vagabundo. Só na base da pancada.

Olhando para os lados — acho que pra se certificar de que ninguém estava vendo ele passar aquele vexame —, ele ajeitou a bermuda e se levantou, me evitando de olhar nos olhos.

— Não. Você tá certo... — dava pra ver que não estava sendo fácil pra ele dizer aquilo. — Eu falei merda demais. Me perdoa... você é meu irmão mais velho. Eu... eu não devia falar isso. Sei lá, cara... acho que é pela situação de casa. O pai tá me enchendo o saco demais. Toda hora me fazendo pergunta, me questionando, desconfiando de mim... sempre achando que eu tô fazendo alguma coisa errada.

— E não tá?

— Caramba, Alexandre. Até você?

— Abaixa esse tom, caralho.

— Desculpa...

— Não sou seu pai, Rodrigo — falei, o encarando fixamente. Porra, eu sabia que tudo aquilo era quase como se fosse uma encenação, pra tentar me amaciar e fazer com que eu liberasse o dinheiro que ele tanto queria... só que o pior não era isso. O pior era que eu estava disposto a dar esse dinheiro a ele. Simplesmente porque... porque seria mais fácil. Apesar de tudo isso, me peguei falando: — Sei lá, porra... às vezes, parece que você não se toca disso. Eu não te botei no mundo. Se você passa o dia inteiro fumando maconha, se daqui a pouco uma dessas vagabundas que você tá comendo vai aparecer grávida, e ambos sabemos que você não vai ter como sustentar a criança, se você comprou a merda dessa moto, que eu tenho certeza que é bode, com algum maluco da quebrada que tá na sua bota pra cobrar o que você ainda não pagou e se você tá virado na noite roubando pedestre que nem um noia do caralho... mermão, pra mim não faz a menor diferença. Eu tô cagando e andando pra isso e pra você.

Ele apenas engoliu aquela em seco, me olhando como se tivesse com vergonha demais até pra desviar a atenção de mim.

— Nada a dizer sobre isso? — perguntei, inclinando a cabeça.

— Mas a mãe e o...

— O que? — o interrompi, rindo um pouco. — A mãe e o pai? Acha que eu fico quebrando minha cabeça de preocupação por eles? Que eu me estresso pensando num jeito de aliviar o trabalho que você dá pra eles?

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora