— Nem sei como te dizer isso, mas... — mal tínhamos dado três passos após sair do carro e Arthur parou pra me falar. Nem conseguia me olhar direito e a garganta tava num sobe e desce que Deus me livre. — Você pode fazer um favor pra mim?
— Claro. Pode falar.
— É que... não pensa que eu tô com vergonha de você ou alguma coisa do tipo, mas é que meu pai é militar aposentado, meio fechadão, das antigas... você sabe como é, não sabe? Então, aí eu ia pedir pra...
— Ah, entendi — forcei um sorriso de compreensão. — Não, nem precisa esquentar a cabeça com isso. Eu... a gente fica numa boa, nem falo nada. Ele... ele não precisa saber que a gente... fica tranquilo, eu nem vou lá se você preferir assim.
— Não, não. Eu quero que você conheça ele, mas eu queria ir com calma, você consegue entender, né?
— Do jeito que for melhor pra você — desviei minha atenção pro mar que se estendia até onde eu não conseguia enxergar, através da mureta branca que limitava o pequeno estacionamento onde Arthur parou o carro.
Nem precisei olhar muito pelo arredor pra entender o nível das pessoas que moravam por ali.
Militar aposentado também, não devia ser surpresa, pensei comigo o acompanhando pela rua de paralelepípedos que ia descendo até o nível do mar. O lugar era quase como um condomínio fechado, mas eu não tinha visto guaritas nem nada do tipo. Porém, ainda havia aquele ar fechado de que não era qualquer um que podia andar por aquelas ruas.
Arthur me apontou a casa do pai enquanto ainda descíamos a rua e vi que ela ficava exatamente no nível da faixa de areia e até parecia tomar um espaço particular da praia como quintal dos fundos... exatamente como a casa do Alexandre em São Sebastião. Mas só eram parecidas nisso, porque a casa do Alexandre era mil vezes melhor e mais bonita.
Só de pensar em...
Arthur até tinha dito que não seria bom comentar sobre nossa relação, mas pensei que o pai dele já sabia ou ao menos desconfiava de algo, pois nem nos recebeu quando Arthur o chamou do portão. Como estava aberto, Arthur abriu caminho e fomos encontrá-lo na varanda de fora, sentado numa cadeira e mexendo no celular, com uma lata de cerveja ao lado da mesa de canto.
— E aí, pai, tudo bem? — Arthur entoou.
O pai apenas resmungou, sem tirar os olhos do celular.
— Esse aqui é um colega meu que tá me ajudando com um trampo importante lá em São Paulo — Arthur emendou.
Então, ele finalmente se virou pra me ver e abriu um sorriso, me estendendo a mão:
— E aí, meu jovem, tudo bem?
— Tudo sim e... e com o senhor? — apertei a mão dele de volta. Apesar de ter falado tranquilamente, não sei explicar bem, mas me senti um pouco apreensivo.
— Senhor não, garoto, que aí você me quebra. Sei que estou velho, mas... mas pela educação, a gente esquece — e riu alto. — Mas tô bem sim. E você se chama como?
— Gabriel.
— Prazer, Gabriel. Me chamo Ludovico.
— O prazer é meu.
— Fica à vontade aí. A casa é sua — e voltou sua atenção pro celular de novo. — Se precisar, Arthur, deixei os papeis lá no quarto dos fundos.
— Ah, não precisa não, pai — Arthur ficou meio sem graça.
— Não é com esse serviço que o rapaz aí te ajuda?
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Declínio
Mistério / Suspense"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...