Já era o quinto cigarro consecutivo que eu jogava pra fora da janela do carro. Uma hora parado naquela porra, esperando aquele filho-da-puta aparecer e nada.
Ele deve tá em casa, refleti. Só podia. Eu conhecia bem o cuzão do Robson. Chegando o final da tarde, ele gostava de dar uma relaxada, assistindo aquelas novelas mexicanas de bosta enquanto tomava café. Agora que ele tava sem trampo, não tinha como estar fazendo outra coisa.
Sendo assim, eu teria de tomar as rédeas da situação antes do previsto.
Saltei pra fora do carro e bati palma na frente do portão até que sua mãe apareceu na porta da sala, confusa.
— Pois não...? Alexandre? É você mesmo, meu filho? Quanto tempo...
— Sou eu mesmo, dona Marilene — eu sorri. — Como é que a senhora tá?
— Tô bem sim, graças a Deus... e você, sua mãe? Como é que vocês tão?
— Tá todo mundo bem.
— Mas como você tá bonito, meu filho — ela desceu os degraus que separavam a sala do quintal, mas parou por ali mesmo, com a mão no rosto. Dona Marilene tava meio acabada, chegando perto dos sessenta, mas quem não a conhecesse diria que já tinha passado. Se o Robson não fosse o verme que era, bem podia ter usado o dinheiro que tinha arranjado para dar o mínimo de conforto e tranquilidade para a coitada que agora eu tinha certeza que ainda se matava de trabalhar arrumando a casa dos outros por aí, como sempre. — Tão grande que eu tenho a impressão de que você ainda tá crescendo, pode isso? — e começou a rir. — Faz quanto tempo que você não vem aqui? Uns cinco anos?
— É, depois que o Robson foi embora e eu acabei ficando cada vez mais enrolado com a empresa, ficou difícil.
— Pois é.
— E por falar nele, cadê o tranqueira?
— É... você não, não falou com ele pelo celular? — ela coçou o cabelo, sem graça.
— Tô tentando desde cedo, mas ele não atende. Do nada o celular dele parou de receber ligação, daí eu vim aqui ver o que tava acontecendo.
— Tá certo... — ela foi subindo os degraus para voltar pra dentro da casa, quando parou no meio do caminho. — Ah, filho, ele não tá... saiu no começo da tarde e não voltou até agora.
— Caramba, que falta de sorte a minha.
— Mas eu aviso que você veio, aí ele vai atrás de você.
— Ok — eu também estava para ir embora, quando decidi mudar de ideia. — Sem querer abusar da senhora, mas é que eu tô longe de casa e tô apertado. Eu podia usar seu banheiro?
Ela apertou os lábios, forçou um sorriso, olhou para a sala e... finalmente, assentiu com a cabeça.
— Claro, filho. Quê isso? Pode sim... o portão tá aberto, pode entrar.
— Licença.
Chegando na sala, encontrei a televisão ligada e a capa do sofá mais bagunçada que o normal. Fazia um tempo da porra que eu não entrava ali, mas me lembrei que o banheiro era o próximo cômodo. Depois de forçar uma mijada e lavar as mãos na pia, saí para o corredor com tudo.
Nada.
Ela tava em pé no meio da sala — na minha opinião —, fingindo prestar atenção na tv.
— Dona Marilene — a chamei. Se virou pra mim com um susto. — Não querendo, mas já abusando ainda mais da senhora, eu vou beber uma água aqui, tá bom?
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Declínio
Mistério / Suspense"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...