Capítulo Quarenta e Um

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No limite do horizonte, o céu ia ganhando um tom esbranquiçado pálido, conforme avançávamos pela rodovia. Descendo pela Praia de Juqueí, menos de uma hora e finalmente chegaríamos lá.

Era foda pensar que tudo aquilo tinha levado uma madrugada inteira...

Pra mim, tinha sido há poucos minutos que eu havia entrado no quarto da minha irmã e dado de cara com o Ismael morto.

Não tinha um cidadão na rua e, ocasionalmente, um carro cruzava pela rua aqui e ali. Acordando para nos acompanhar nessa etapa final, apenas o sol que subia de forma tímida, no horizonte, tornando mais claras as formas da Ilhabela.

Colocamos o pequeno tambor no barco e avançamos pelo mar. Eu não tinha tanta experiência conduzindo que nem o Raul, então ficou nas mãos dele traçar o caminho entre a Ilhabela e São Sebastião, pra se afastar dos dois lugares.

O dia trazia a promessa de um céu limpo e ensolarado, embora que eu pudesse ver, no continente, o topo da serra envolvido pelo extenso cobertor branco que eram as nuvens. O ar úmido e salgado que nos circulava purificou meu pulmão e inspirei fundo pra saborear todo aquele clima da praia que eu tanto gostava.

Acho que a gente levou uma meia hora até estarmos distantes o suficiente de todos os pontos para, por fim, terminar com aquele assunto.

Ao sul, dava pra ver a Praia do Jabaquara; a noroeste, Caraguatatuba e ainda mais distante ao sudoeste, São Sebastião.

Era o ponto perfeito.

Emborcamos o tambor na beirada do barco e sem que eu ou o Raul falássemos alguma coisa, esperamos. O mar nos balançava tranquilamente e eu podia ouvir o sacolejo dos produtos químicos dissolvendo o que tinha sobrado do meu ex-cunhado lá dentro do tambor.

— Ácido fluorídrico você falou, né? — perguntou Raul. Dava pra ver nos olhos do bicho que o sono tava pesando.

— Não muito — respondi. — Nem lembro das aulas de química, irmão, mas acho que com a água do mar não vai ter nenhum problema. Mas tenho que pedir desculpas do mesmo jeito. Esse porra do Ismael dá trabalho até depois de morto, poluindo um lugar bonito que nem esse.

E não era nem um exagero, cara.

Pelo menos, não pra mim.

Eu gostava demais do ar fresco, da água meio esverdeada, a areia branca e as palmeiras que estavam por toda a parte, tanto em São Sebastião como na Ilhabela. Era foda conspurcar aquele lugar com o desgraçado do Ismael, mas nem tudo era como queríamos, então, juntos, viramos o tambor pro mar que afundou assim que tocou na água.

Enfim, tinha terminado.

Eu não tinha planejado isso, mas foi atracarmos o barco que eu vi que tanto eu quanto ele precisávamos dar uma parada, então, resolvi levá-lo pra dentro de casa.

Por sorte, a faixa de areia que separava o terreno da minha casa do mar era praticamente "particular", pois não havia rua separando as casas da praia, então privacidade por ali não era um problema.

Entramos através da praia mesmo e larguei as chaves do barco em cima do sofá e me sentei um pouco.

Raul ficou de pé, olhando a casa com curiosidade.

— Que vista da porra, hein... — ele comentou, parando diante da vidraça.

Na área dos fundos da casa, tinha uma piscina cercada pelo deck de madeira e um pedaço com grama, encimado por algumas palmeiras que faziam uma boa sombra. Dava pra ver tudo com perfeição dali da segunda sala do andar debaixo, pois a parede que separava a casa dessa área externa era feita, em sua maioria, de vidro.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora