A casa estava vazia.
Normalmente, o Mateus estaria na sala, uma hora dessas, assistindo algum filme na tv. Mas desde a treta com o Capeta, ele vinha fazendo hora extra na rua. Algo me dizia que era para me evitar.
Mas, por que, porra?
Ele não tinha feito a merda?
Então, já era. O que tava feito, tava feito. Não tinha mais o que se acrescentar nessa história. E, embora eu não estivesse jogando o bagulho na cara dele, nós dois tínhamos que admitir que ele que ramelou.
Então, por que ele continuava me punindo se afastando de mim daquele jeito?
Eu... porra, mano. Eu queria ele por perto. Eu sentia falta de abraçar ele, de beijar ele. Eu sentia falta de meter nele, caralho. Não era justo que eu tivesse que pagar depois de ele ter feito o que fez.
Sei lá, mano. Talvez, eu estivesse pensando errado sim.
Mas eu queria ele.
Eu queria.
Sem cabeça pra voltar pra rua, eu tinha que tentar ir me distraindo até que ele decidisse voltar — quando saía assim, me dava uns perdidos que nem cachorro encontrava.
Era bom ir tomar um banho.
Minha cabeça parecia expandir quando eu tava debaixo d'água quente; eu relaxava, o tempo passava que eu nem sentia e eu conseguia repassar, lembrar, projetar e refletir sobre a pior das merdas sem sentir a cabeça pesada, que a conta de luz me tolerasse.
Mas foi chegando no guarda-roupa pra separar o que eu iria usar depois, que vi que tinha coisa errada.
Tinha coisa de menos.
As roupas dele não estavam ali.
Meu peito foi a baixo de zero na hora e larguei a toalha sobre a cama, vestindo o que tinha encontrado pela frente. Num pulo, peguei de volta a chave do carro que eu tinha deixado na bancada da cozinha e saí cortando com o carro atrás dele.
Minha esperança era que tivesse sido há pouco tempo pra que eu pudesse pegá-lo no caminho ainda.
Por sorte, o trajeto da nossa casa pra casa da mãe dele não abria muitas opções e como ele tava a pé, eu tinha certeza que seria aquele caminho que ele iria tomar.
Não me enganei.
Perto da padaria que ficava a uns sete quarteirões da casa da mãe dele, eu o vi andando na rua vazia, uma mochila cheia nas costas.
Emparelhei o carro com ele e abaixei o vidro, já dizendo:
— Entra.
Ele fingiu que não tinha me reparado ali, forçando o acelerador ao lado dele.
— Larga a mão de ser turrão e entra, Mateus — exclamei.
— Alexandre, eu vou pra casa da minha mãe — ele contou, num tom cansado. — Isso não tá dando certo. Você... eu não acho certo fazer isso com...
— Entra logo, caramba! — o interrompi.
Ele parou na calçada, suspirou e finalmente cedeu, entrando, a cabeça baixa.
— Você nunca mais faça isso de juntar roupa e sair escondido — adverti, fazendo o retorno.
— Se você tivesse em casa, você não ia deixar eu ir embora.
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Declínio
Misterio / Suspenso"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...