Capítulo Cento e Vinte e Um

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— E aê, Café, que porra é essa? — abri os braços, caminhando numa boa na direção deles. — Juntou os cara aqui pra essa reuniãozinha pra falar de mim, sem mim? Tá tirando, porra?

— Cala a sua boca, seu viado do caralho! — Josué gritou, saltando da plataforma em concreto na qual tava sentado. — Você não é Comando não, porra! Aqui você não tem voz não, entendeu? E não devia ter era em lugar nenhum, porque uma bicha do caralho que nem você não merece respeito é de ninguém!

O sangue bateu no topo da minha cabeça e eu não vi foi mais nada, maluco. Eu só queria voar na garganta daquele arrombado e amassar que nem se faz com uma galinha, mas sei lá que porra que deu que eu não consegui, tava estancado no meio do caminho, meu peito subindo e descendo, inflado feito um sapo.

Acho que já esperando a minha reação, o Tatu e o Raul foram mais rápidos e conseguiram me deter a tempo.

— Vem aqui, então, seu filho-da-puta! — instei, tentando me livrar do aperto dos dois. — Vem mostrar pro viado aqui que você é homem! Vamo', caralho!

— Calma, Alemão — Tatu pediu.

— Calma é o caralho! — me sacudi. — Anda, Josué! Não é você que é homem nessa porra e eu que sou o viado?! Então, caralho, vem pra cima! Tá com medo do viado aqui, é?!

Ele tinha se levantado, mas continuou me olhando, sem falar mais porra nenhuma.

— Perdeu a língua, seu cuzão do caralho?! — questionei, abrindo um sorriso. Meu peito queimava e aquele calor foi como um combustível que usei pra dar aquela gargalhada que ecoou por todo o galpão. — Tomou um sacode ontem, seu inseto. Apanhou como nunca apanhou na vida e como o bom frouxo que você é, veio chorar pro papai aí me pegar, mas é um bosta, cuzão, fraco do caralho. Parasita... só vai pra cima de mulher e de quem não tem tamanho pra te peitar na moral, você é uma vergonha, maluco. Você é um nada. Eu não sei como é que vocês aí têm cara de se sujeitar a ficar perto de um merda que nem esse aí.

— Que moral um viado tem pra falar qualquer coisa de alguém? — ele sorriu. — Pode ser o mais baixo, o mais lixo que for, que nem o noinha do seu irmão, que não vale nem a bosta que caga, mas pelo menos é homem. Você?

— E aí, Capuava, dá uma segurada aí, parceiro — o Gordo interveio, com os braços ainda cruzados e um olhar duro pro filho-da-puta. — Você tá ficando louco, caralho? O Alemão é fechamento, tiozão... eu que pergunto quem é você pra falar pela facção? Eu tô aqui, o Café tá aqui, então... se ponha no seu lugar.

Apesar do apelido, o Gordo era um cara magro e havia sido desde que eu o conhecia, mas nem me perguntem de onde tinha vindo aquele apelido, porque eu não fazia ideia. Ele tinha praticamente a mesma altura do Café e a pele era bem escura, mas tinha aquela textura lisa e limpa que fazia qualquer um duvidar que ele tinha mesmo quarenta e um, mesmo com a barba que ele tava deixando crescer e fazia sua feição ficar mais dura.

Ele era o mais influente ali dentro, tirando o próprio Café — o Miguela não contava muito porque, ele andava com a "respeitabilidade" em alta porque tinha acabado de sair, mas no fundo, ele desempenhava um papel tão importante quanto o do Josué —, já o Gordo, porém, era o Geral da leste e ficava na responsa de administrar a disciplina nas ruas da região; basicamente, todos os irmãos da leste se reportavam a ele. Sem dúvidas, era uma grande pedra no sapato do Kalil por estar ali, numa coisa que, em tese, seria simples, só pra apoiar o Café.

— Eu dar uma segurada? — Capuava se indignou. Indicando o rosto com o dedo, ele acrescentou: — foi esse desgraçado que fez isso aqui.

— Ué, caralho, você não tava falando que o parceiro aí não é homem, que você que é? — Gordo falou, abrindo os braços. — Então, porra... aceita a sugestão dele. Não tem um assunto pra resolver com o cara? Resolve aí no braço com ele... ele mesmo tá te chamando pra isso. Ou vai me dizer que não consegue ir pra cima de um cara que não é homem? Que se for o caso, aí você tá entrando em contradição, meu truta.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora