Capítulo Quarenta e Quatro

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Fé em Deus que ele é justo!
Ei, irmão, nunca se esqueça
Na guarda, guerreiro, levanta a cabeça, truta

Racionais MC's - Vida Loka Parte I


Nem falei nada, mano.

Avancei na direção dele e empurrei o arrombado com tudo no chão. Deu nem espaço de ele tropeçar em alguma coisa; caiu de costas sobre um dos canteiros da praça que era recoberto de mato.

— Ô, caralho... me empurrou por que? Tá louco? — ele foi se arrastando pra tentar se levantar, mas não deixei. Apoiei meu pé no peito dele e o empurrei contra o mato de novo.

Ele quase engasgou, o que me deu tempo de abaixar por cima dele e agarrar aquele verme pela gola da camisa do Real Madrid que eu me lembro ter comprado pra ele há uns meses atrás.

— Mas virou um noia filho-da-puta mesmo, né? — falei, me segurando pra não descer o murro naquela cara cínica.

— Oxi, Alexandre. Por que tá falando assim comigo? — assustado, ele tentou se livrar de mim, mas não conseguiu. — Eu só perguntei quem era o moleque... só isso.

— Não bastasse ter roubado a coitada daquela menina, agora tá dando pra roubar as coisas de dentro de casa, seu lixo do caralho?!

— Tá falando do que, maluco? Eu não peguei na...

E a paciência atingiu um dos meus picos, que já eram baixos pra porra.

Desci a mão aberta na cara dele mesmo e se não fosse eu ter segurado ele, o cuzão tinha batido a cabeça no chão de terra com tudo.

— Você não tá falando com a mãe nem com o pai não, seu noia do caralho — puxei ele de volta pra que ele me encarasse o tempo todo. — Você tá falando comigo! Eu tava lá na boca quando eu vi a porra da tv lá na mão dos caras...

— Mas, eu tô te falando, eu não peguei nada. Eles não falaram pra você que invadiram a casa e...

— O caralho que invadiram, rapaz! — ergui minha voz. — O mano lá que você pagou falou que foi você que deu o bagulho pra ele. O próprio, seu arrombado!

A convicção dele vacilou e aquilo só me fez querer bater mais, mas fui suspirando e tentando botar a cabeça no lugar. Puta que pariu! Mas por que, infernos, eu tinha que ter uma merda que nem aquela como irmão?

— O que? — debochei, olhando bem no fundo do olho dele. — Achou que o maluco lá ia ficar de bico fechado só porque você pediu? — ele não respondeu. — Eu não sou os cuzão dos seus coleguinha não, Rodrigo. E aqui, ninguém liga pra opinião e pra vontade de noia, entendeu? Por que é isso que você tá virando. A porra de um noia! Tá faltando o que agora? Tá fumando pedra já? Porque aqui depois dessa palhaçada que você fez, você não arruma mais merda nenhuma. Vai começar a dar o cu pra arrumar droga?

— Isso você não precisa fazer, né? Já tem dinheiro — ele falou pra mim, num olhar que se dividia entre raiva e vergonha. — A diferença aqui é essa, se for olhar pelo seu lado; dois noias, um com dinheiro e o outro sem...

E que se foda bater de mão aberta.

O arrombado não queria bancar o problemático? Ia ser de mão fechada dali em diante. Um soco só e eu já vi o rastro vermelho sujando a cara dele. Dei mais um e me levantei, porque ainda não tinha me entregue a ira. Mas é aquelas, né, e eu não era o mais controlado dos caras e comecei a picar a bicuda nas costelas dele até que surgiu um cidadão vindo de canto algum e me puxou pra trás falando:

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora