Eu não quis nem me dar ao trabalho de falar.
A primeira coisa que minha cabeça traçou foi a perna dele. A dobra do joelho.
Eles estavam no final do corredor, o que deixava os três de lado pra mim.
Eu já cheguei descendo o pé na dobra do joelho, de lado mesmo. Ele gritou e se projetou pra frente, bem a tempo de eu encaixar um murro bem dado na cara de merda dele. Agarrei a garganta do filho-da-puta e a usei de apoio pra jogá-lo contra a gondola de sucos mais atrás. O impacto podia ter sido maior, já que foram ao chão apenas umas oito, nove ou dez caixas de suco. Então, com ele apoiando as costas na prateleira pra não cair, eu afundei com gosto meu pé na barriga dele. Aí sim... quase a gondola inteira veio a baixo e ele caiu junto.
O outro, o magricelo alto que era o encarregado finalmente se deu conta que era eu e arregalou os olhos. Ele ergueu as duas mãos pro alto, se afastando, enquanto dizia pra mim:
— Cara, eu não falei nada, eu não...
Em linha reta mesmo, eu amassei o nariz do filho-da-puta que já era torto pra caralho com um murro bem dado.
O cuzão tava todo pá, se dizendo "homem" pra cima do meu moleque, mas um só murro fez as pernas dele bambearem e ele se estatelou no chão, feito uma mocinha.
E aquilo era o suficiente pra mim?
Mas nem fodendo.
Sentei mais duas bicudas nas costelas dele e já fui encaixando a terceira, quando ele e o Gabriel quase que gritaram ao mesmo tempo.
— Para, Alexandre! Não faz isso... — o moleque me pediu, olhando a cena em pânico. Ele até já tinha descido da escada sem que eu tivesse reparado.
Apontando na outra direção do corredor, eu falei pra ele:
— Vai pegar suas coisas que isso aqui já deu.
— Alexandre, eu não...
— Vai pegar suas coisas agora, Gabriel — eu não tava com um pingo de paciência pra conversa.
— Cara, eu não... eu não quis... — o que eu tinha batido primeiro tentou falar, meio atordoado, enquanto se arrastava com as costas se apoiando na gondola pra tentar se levantar.
— Mas você tá de brincadeira com a minha cara mesmo, irmão — eu dei risada, indo até ele. — Qual foi a fita, maluco? Você tem alguma deficiência, algum problema de memória, algum problema cognitivo? A porra que eu falei pra vocês dois da última vez não ficou claro não, caralho?
— Ficou, ficou, eu... — erguendo a mão na minha direção pra tentar se defender, ele perdeu o equilíbrio e tornou a cair, sentado, as costas ainda apoiadas na gondola. — Eu só tava, eu só tava... eu só tava brincando com...
— Você só tava o caralho, seu filho de uma puta! — pegando a vassoura que ele tinha deixado cair no chão, eu desci com tudo contra o braço dele. — Abaixa essa porra, cuzão do caralho! — e foi mais duas vassouradas. Na segunda, eu acabei quebrando o cabo contra o braço dele e finalmente ele o abaixou, chorando. — Vai chorar agora, seu arrombado? — eu dei risada.
— Alexandre... — acho que era o Gabriel me chamando.
— Não tava falando que o moleque tinha que virar homem, seu vacilão do caralho? Tá de brincadeira com a minha cara, filho-da-puta — e sentei mais duas pesadas na barriga dele até que ele fez um barulho estranho com a boca como se fosse vomitar.
Na mesma hora, pelo canto do olho, eu vi que o tal encarregado tava conseguindo se levantar, na direção contrária, acho que tentando fugir. Reparei que eu ainda estava com a vassoura quebrada na mão, mas ainda havia cabo o suficiente pra eu virar ela com tudo, acertando em cheio a cara do magrelo que foi ao chão, se esbarrando em mais uma gondola, derrubando umas garrafas de água sobre si. Ele caiu de bruços, o que me deu abertura pra sentar o pé nas costas dele até que o Gabriel tentou me puxar para trás pelo braço. Nem tinha cabeça pra argumentar com ele.
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Declínio
Misterio / Suspenso"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...