Capítulo Cento e Vinte e Seis

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Você pode voltar pelas páginas

E não vai achar que eu estava fazendo promessas

The Knocks – Slow Song


O que pensar?

O que sentir?

O que fazer?

Eu apenas fiquei ali, sentindo o que podia ser compreendido como alma ou qualquer bosta em que as pessoas acreditam, escorrer lentamente pelos meus pés, deixando meu corpo cada vez mais gelado.

E a cada segundo que eu sentia o bagulho — o que quer que fosse isso — indo embora, era como se cada parte do meu corpo estivesse morrendo.

Maluco...

E ele continuou me encarando, os olhos vermelhos. Eu nunca tinha visto aquele olhar nele, mano. Eu não sabia nem o que esperar disso, eu apenas...

— O que...? — tentei falar, mas ele me interrompeu, se levantando com tudo:

— Não! Não!

Tentei mais uma vez, mas me vi sem voz. Acho que só mexi a boca... a verdade é que eu mesmo não fazia ideia do que falar. Como aquilo? Eu...

— Como assim, amor? Eu...

— NÃO! — ele berrou, vindo na minha direção. Eu nunca tinha feito nada parecido a minha vida toda, mas alguma força maior, não sei, porra, não sei, mas no automático, eu simplesmente dei um passo pra trás. — Eu disse não!

Então, eu apenas assenti.

— Eu não estou perguntando se você... eu... — apertando o rosto com as duas mãos, o grito que ele tentou estrangular me arrepiou.

Porra...

Eu tava com medo.

Acho que só senti medo assim quando tava na Febem.

— Como é que isso...? O quê que é tudo isso aqui, Alexandre?! — abrindo os braços, ele foi olhando pela casa como se já reconhecesse o lugar. — Que merda é essa que você tá fazendo?! Que desgraça você quer com isso?! Hã?! Me responde!

— Amor, eu...

— NÃO ME CHAMA DE AMOR! — e ele voou em cima de mim me dando um empurrão com uma força que eu jamais sonhei que ele pudesse ter. — Você não abre a boca pra me chamar disso! Você... você, eu não consigo. Que inferno é esse? O que você quer? Por que você fez tudo isso?! PRA QUÊ?!

— Eu não...

— Você "não" o que, Alexandre?! — ele bateu no meu peito com tudo. Eu... eu acho, mas só acho mesmo, que senti minha primeira lágrima escorrer. É possível chorar de vergonha? — Chega! CHEGA! Você não vai se fazer de idiota pra cima de mim, porque você sabe EXATAMENTE do que eu tô falando! VOCÊ SABE! — e ai ele voltou correndo pro sofá onde tinha deixado a caixa e fuçou numa violência descontrolada até pegar um pendrive e só não o esfregou na minha cara, porque eu recuei a tempo. — Eu passei o que tinha aqui pro celular. E eu vi... EU VI! Você tava de touca, mas é óbvio que era você. Era o Robson e você! Eram vocês dois! E você... por que você teve que ser tão baixo, tão lixo de fazer isso comigo, Alexandre?! Você veio... você gosta de homem de verdade? Você só veio pra cima de mim pra...

— Eu te amo mais do que tudo, Gabriel. Eu...

— CALA A SUA BOCA! — e ele se jogou em cima de mim de novo, com os braços estendidos e maluco... acho que juntou a fúria dele com o meu desnorteamento e eu quase caí pra trás. Tropiquei, tentei recuperar o equilíbrio, mas eu me sentia mais fraco do que um gato. — Eu tô vendo na sua cara que você... isso não era surpresa pra você, não é?!

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora