Entrando na delegacia, busquei de um lado para o outro, mas nada. Nenhum conhecido.
— Ai, meu filho, graças a Deus que você chegou — minha mãe apareceu de repente, com uma bolsa do lado, vindo até mim.
— Levaram eles pra onde?
— Lá pra dentro — ela fez um aceno brusco com a mão, impaciente. — Já perguntei pro moço ali o que tá acontecendo, mas ele só sabe me dizer pra esperar. Eles queriam falar com você também.
Já era o esperado.
— Eu falei pra sua irmã que isso não ia dar certo, que chegar na casa dessa mulher assim, sem mais nem menos, do jeito que ela tá atormentada com tudo que aconteceu, não ia dar certo, não ia — minha mãe seguiu reclamando. — Mas ela não me escutou, nunca me escuta. É teimosa que nem vocês todos. Ai, meu Deus.
— Fica sossegada, mãe. Eu vou resolver isso — passei a mão pelo braço dela, ainda focado em ver se eu reconhecia alguém por ali. — O advogado já tá chegando.
— Ai, que bom — ela suspirou, a mão no peito. — Menos mal.
— É o Marlon que vai vir. Espera ele chegar que eu vou falar com eles pra já ir adiantando.
Fui até o balcão principal e o policial que tava lá, parecendo focado nas mensagens do celular, apenas levantou os olhos pra mim, como se eu não fosse nada e arqueou as sobrancelhas, me instando a falar.
— Boa noite, eu... — passei a mão pelo meu rosto e tentei me acalmar. — Eu acho que me chamaram pra prestar depoimento.
— Tá, me dá o documento aí — ele estendeu a mão, impaciente. Botei na mão dele e, ou ele não tava nem aí pra situação ou ele tinha uma memória do caralho, porque nem chegou a olhar o bagulho e já me devolveu, falando: — só esperar.
Pelo menos, não foi muito.
Marlon chegou já na sequência e menos de cinco minutos depois, o delegado nos levou até a sua sala. Por onde minha irmã e meu pai tinham saído, eu só pude imaginar.
— Eu tinha pedido seu depoimento também, mas não conseguimos te encontrar — o delegado comentou. Era um cara quase tão alto como eu, barba cheia e grisalha, com poucos fios sobre a cabeça. Apesar dos traços fortes, ele me parecia aquele tipo de cara que não era capaz de se alterar nem se o mundo desabasse sobre a sua cabeça. Esse era o pior tipo de policial que existia.
— Eu transito bastante pela cidade por conta do meu trabalho, então, eu não costumo ficar muito num mesmo lugar... especialmente durante o horário comercial — esclareci. Se bem que, na realidade, eu nem tinha trabalhado. Passei o dia todo zanzando com o moleque no shopping, até levá-lo pra faculdade.
— Entendo — ele forçou um sorriso. Pegou um papel sobre a mesa, correu o olhar por ele e falou: — imagino que você já tenha uma noção de qual é o assunto aqui.
— É, eu sei.
— A senhora Mirtes Pereira, que é sogra da sua irmã, fez uma acusação formal contra você, seu pai e sua irmã. O filho dela, o senhor Edivaldo também. Já conversei com a sua irmã e com o seu pai... — ele voltou sua atenção para o papel. — Sobre você, ela te acusou de agressão e tentativa de homicídio. Ela falou que você estava armado.
— Isso não é verdade.
— Você não agrediu...?
— Ela, não. Eu agredi o filho dela — em condições normais, um advogado me interromperia, mas Marlon já trampava comigo há um bom tempo pra saber como as coisas funcionavam. — E eu não tava armado. Eu fui pra cima dele na mão mesmo. E só fui pra proteger a minha irmã.
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Declínio
Misterio / Suspenso"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...