Se tinha uma coisa que eu odiava era acordar cedo, mas daquela vez, acordei tão naturalmente que nem senti aquele peso de cansaço.
Maluco, ainda era meio irreal saber e ver que o moleque tava ali, dormindo tranquilo. E não apenas isso, ele dormiu mesmo do meu lado e eu me lembro que minha pica ainda tava estralando pouco antes de eu cair no sono também e agora que eu acordava, ela ainda estava do mesmo jeito, me passando a sensação de que eu tinha ficado a noite inteira de pau duro.
Ok que ele tinha dito que não se importava...
Mentira, ele não disse que não se importava, mas também não reclamou quando eu admiti pra ele.
Mas eu queria mesmo passar a imagem de respeito.
Porra, eu não queria que ele sentisse que eu só queria tacar a rola nele e sair fora.
Porque, em partes, eu queria mesmo tacar a rola nele sem dó. Mas não apenas isso. Vamos admitir — tá, eu admito — que eu queria, provavelmente, continuar tacando a rola nele depois que ele me deixasse chegar lá.
De bico fechado, eu saí do quarto e dei uma raspada na padaria perto de casa e comprei uns negócios frescos pro moleque comer antes de sair. Eu não sabia se ele preferia café, leite, chá, suco... então, sei lá, mano... resolvi fazer tudo mesmo.
Havia uma certa sensação de calma e tranquilidade que repousava sobre mim sempre que eu tava na cozinha fazendo alguma coisa. Eu só não fazia mais por preguiça e falta de tempo mesmo.
Faltando dez pras sete, eu subi no quarto e tentei acordar ele.
— Ei... Gabriel — fui chamando ele baixinho.
— Oi... — a voz dele ficava tão bonitinha, mano, quando ele acordava. Tinha um toque de manha que me ganhou e só Deus sabe como eu fiz pra me controlar e não dar um beijo que fosse nele. — Que horas são?
— Falta dez pras sete...
Ele arregalou os olhos e se sentou na cama com tudo, buscando alguma coisa.
— Cadê meu celular?
— Tá aqui — peguei pra ele no criado-mudo. Ele destravou o bagulho com tudo, apavorado. — Calma.
— Nossa, ele não tocou. Mas eu coloquei pra despertar...
— Eu vi... eu desativei pra você dormir mais um pouco.
— Mas por que você fez isso? Eu tô todo atrasado...
— Você não falou que entra as sete e meia?
— É, mas e o tempo pra chegar lá... eu vou chegar umas oito, meu Deus.
— Não, moleque, não vai — tentei acalmá-lo, apertando seu ombro de leve. — De carro daqui pra lá é uns vinte minutos, menos se duvidar... e não vai ter trânsito porque é contra fluxo nesse sentido. Saindo daqui, a gente vai do centro pro bairro... a pista é praticamente toda livre.
— Não precisa me levar...
— Sem conversa, moleque — eu ri de leve. — Dá tempo de você tomar banho e descer pra tomar café comigo. Vai lá. Eu pego a toalha pra você.
Acho que eu posso dizer com toda a certeza que o Gabriel era a pessoa mais educada que eu tinha conhecido na minha vida; o tipo de filho que toda mãe teria orgulho. Sempre recusava tudo o que eu oferecia — ainda que isso mais me incomodasse do que me transmitisse a imagem de respeito por tamanha educação —, pedia permissão para absolutamente tudo, desde abrir a boca a dar um passo pela casa. Então, dá pra imaginar que a hora do banho foi naquelas, né, visto que ele precisava usar o sabonete, escovar os dentes e tudo mais...
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Declínio
Misterio / Suspenso"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...