Capítulo Trinta e Seis

2.7K 204 281
                                    

— Que porra é essa na sua cara, Helena?

— Ah, isso aqui...? — ela passou a mão no olho que já estava começando a ficar roxo, sem graça, como se desse pra esquecer um bagulho daqueles. — Não é nada não... é besteira, minha...

— Cadê o Gabriel? — me exaltei, olhando de um lado para o outro. Não sabia se ia para a cozinha, para a sala ou para os quartos. Mermão, quando me subia aquela fervura, era como se a minha visão fosse reduzida; de cem coisas que botassem na minha frente, eu só conseguia enxergar mesmo uma e olhe lá... — Cadê o moleque?!

— Calma, Alexandre — ela veio até mim, passando a mão no meu braço, acho que pra tentar me conter. — Ele tá no quarto...

— Aqui?!

— É.

— É isso mesmo. É pra deixar ele aí — e já fui me virando na direção da saída, feito um louco.

— Onde você vai? — ela correu pra me alcançar, junto do meu pai.

— Eu vou matar esse filho-da-puta agora! — grunhi, fazendo ela grudar em mim com tudo, tentando me impedir de abrir a porta para a garagem. Helena até podia ser um pouco mais alta que a maioria das mulheres, mas ainda era mais de vinte centímetros menor do que eu, além de não ter nem de perto a mesma força e eu loucão do jeito que eu tava, não serviu pra muita coisa. — De hoje, esse verme não passa.

— Pelo amor de Deus, meu filho. Não fala uma coisa dessas — ouvi minha mãe suspirar.

— Calma, Alexandre! — pediu meu pai.

— Calma é o caralho! — gritei. — E não é pra ninguém ligar pra esse desgraçado avisando que eu tô chegando lá, que se avisar, quando eu voltar pra cá, eu ponho a porra dessa casa abaixo! Tô avisando.

— Para, Alexandre! — Helena tentou fazer sua voz se sobrepor a minha, dando a volta e se colocando na minha frente.

— Sai da frente, Helena! — tentei forçar caminho.

— Para de loucura, meu! — ela tentou me empurrar. Nem saí do lugar. — Ele não fez nada.

— O caralho que não fez! Olha o seu olho como tá!

— E eu falei que foi ele?

— Nem precisa, porque eu não vou acreditar! Porque não é de hoje que eu venho reparando que tem alguma coisa errada nessa merda e ninguém aqui me conta!

— Dá pra entender, não dá? — ela questionou.

— Quero nem saber! Sai da minha frente que eu vou resolver isso agora! — e botei ela de lado, já abrindo a porta.

— Me escuta, Alexandre! — ela berrou, correndo atrás de mim. — Para com essa sua loucura! Você vai me escutar.

— Escutar o que, caralho? O que eu preciso saber eu já tô vendo aí na sua cara!

Porra, mano, como é que aquele miserável tinha a ousadia de fazer uma merda daquelas, mano?! Como?! Na minha irmã, caralho!

— Mas me escuta, meu! Não foi o Ismael!

— Então foi quem?!

— Eu briguei na escola do Gabriel com a mãe de um menino.

— Aaaaaaaaah, Helena! Você tá achando que eu sou otário?!

— Então, pergunta pro seu sobrinho. Pergunta pra ele. Ele bateu nesse menino, quase quebrou o braço dele e essa maluca cismou de querer acertar as coisas batendo no Gabriel. Duas crianças! Aí eu tive que ir buscar e levar ele na escola todos os dias, até que mesmo comigo lá, ela avançou pra bater nele e a gente se pegou lá mesmo.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora