— Seu louco! — a menina gritou, se abaixando desesperada perto do Gabriel. Como era mesmo o nome dela? Gabriela, Isabela? Sei lá.
Meu peito foi a baixo de zero no mesmo instante e fui com tudo pra perto do moleque, quando mais dois caras me seguraram de repente, como se eu tivesse indo pra bater no meu moleque.
— Me solta, caralho! — mandei.
— Para, chefe. Vai fazer besteira — um deles me disse.
— Que porra de besteira, maluco! Você tá achando que eu vou bater no moleque? Tá me tirando?
Cuidadosamente, ela conseguiu botar meu moleque de pé de novo. Eu nem sei onde tinha acertado ele.
Porra, cara... por que aquilo tinha que ter acontecido?
Eu nunca... eu nunca iria tocar nele desse jeito, mano. Nunca. Eu só... eu só tava preocupado com ele. Ele tava com aquele bagulho no rosto; alguém tinha machucado ele. Mas eu... eu também, agora. E... ah, cara.
— Gabriel... me perdoa — pedi. — Eu não quis... eu só...
— Tudo bem, Alexandre — ele disse com uma cara que me quebrou, me estilhaçou e jogou fora. Ele tava tão triste, mano. Eu quis chorar. — Eu sei que você não fez por mal.
— Gabriel, por favor, eu... — eu fui me aproximando dele, quando a menina botou a mão no meu peito e tentou me parar.
— Cara, não. Agora não — ela pediu e eu vi um brilho de compreensão nos olhos dela. Passei a acreditar, então, que ele tinha contado, pelo menos, parte da história pra ela. — É melhor você ir agora, esperar todo mundo se acalmar. Não piora as coisas.
Eu não forcei caminho, mas lancei um último olhar pro Gabriel que desviou a atenção de mim e foi se afastando, com ela indo o apoiar.
Ela queria o bem dele e ele tava mais confortável do lado dela, eu reparei, conforme ela passava a mão nas costas dele e ia procurando onde eu tinha batido.
A mãe dele, acho, faria algo assim, uma voz ecoou na minha cabeça.
Eu quis chorar.
Eu quis me ajoelhar e implorar pra ele voltar comigo; ter aquela esperança de que as coisas poderiam voltar a ser como antes e...
E nada daquilo fazia sentido, nem se encaixava naturalmente no mundo real.
Era só molecagem minha.
Então, eu consenti, mesmo que nem ela nem o Gabriel estivessem me olhando pra perceber e voltei pro carro.
Antes que eu desse no pé, ainda completamente deslocado com relação a tudo, a menina correu até o carro e bateu no vidro.
— O que foi? — eu quis saber.
— Eu tava conversando com ele... — ela comentou, desconcertada. — Você tem o meu número ainda, não tem?
— Tenho.
— Me liga amanhã que... não sei, eu posso conversar com você ou te ajudar, quer dizer vocês dois. Mas só amanhã... ele já tava meio zoado com tudo isso, depois dessa confusão. Me liga amanhã.
— Tá.
Amanhã.
Digamos que tudo aquilo tinha começado porque o Gabriel me pegou cheirando dentro de casa e eu, mais do que tudo, queria o Gabriel de volta. Era só naquilo que eu conseguia pensar. Eu só conseguia pensar nele.
Então...
Por que eu fui buscar refúgio naquela porra de novo?
O foda é que eu já reconhecia que aquilo era um refúgio, coisa que eu sequer pensava comigo mesmo há uns anos. E mesmo tendo a ciência disso, eu não parava. Era quase como se aquilo fizesse parte de mim.
![](https://img.wattpad.com/cover/246946417-288-k205008.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Declínio
Mister / Thriller"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...