Capítulo Setenta e Cinco

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Cortando pra direita, pra esquerda, costurando pela avenida onde só parecia haver gente mole dirigindo, meu coração pulava feito uma britadeira.

— Fica calma, Isabela. Fica calma — pedia Gabriel no banco de trás repetidamente, com a cabeça da menina no colo. O outro maluco que era namorado da prima dele acabou vindo junto pra ajudar, mas foi quase como se não tivesse vindo, porque ele ficava com a cabeça pra lá e pra cá, mais desesperado que a própria menina que tinha sido baleada.

O bagulho havia sido tão rápido que eu nem tinha visto onde ela foi atingida. Foi ela cair, que o mundo virou de cabeça pra baixo e juntou tanta gente em cima dela que foi uma luta tirá-la dali pra botar no carro, porque até a ambulância chegar, já viu.

Olhando por cima do banco, vi que o sangramento só aumentava e o maluco não fazia merda nenhuma.

— Tira a porra da camiseta e pressiona o ferimento da menina, cuzão do caralho! — gritei pra ele.

Desajeitado, ele tirou e foi tentando apertar, mas vi que hesitava toda vez que ela comprimia a cara, com dor, pelo retrovisor.

— Tá doendo muito, Gabriel... — ouvi ela gemer.

— Eu sei, amiga. Eu sei, mas, mas... mas a gente já tá chegando no hospital. Fica calma que vai dar tudo certo. A gente já tá chegando lá.

— Sim... pelo amor de Deus...

Mano, eu nem sei dizer de onde eu tinha tirado aquele hospital da cabeça. Pra falar a verdade, eu nem tinha pensado. Eu só fui me dar conta que tava indo pra aquele hospital em questão quando já tava chegando lá.

Se tinha levado 5 minutos, era muito.

Por mais que a quebrada fosse um buraco da porra, não ficava tão longe do centro e dos bairros mais elitizados, o que foi uma sorte do caralho pra ela.

Assim que chegamos, eu pulei pra fora do carro e fui dando a volta, porque eu sabia que nem o Gabriel, nem o outro maluco conseguiriam carregá-la com facilidade. Não que ela fosse gorda ou grande demais, mas juntava os dois, não dava eu em tamanho.

— Foi só aqui na frente, né? — acelerado, fui correndo um olhar por ela e parecia que sim, que ela só tinha sido baleada na barriga, um pouco abaixo do peito. Não dava nem pra me arriscar a dizer que tava de boa, mas ao menos daria pra eu pegá-la no colo sem machucar.

Fui correndo com ela pra entrada do ponto socorro, quando um segurança e dois enfermeiros me abordaram, confusos.

— O que aconteceu? — um deles perguntou.

— Ela foi baleada.

Rapidamente, uma maca apareceu e eu deitei ela lá, com uma outra enfermeira carregando ela pra dentro.

— Senhor, eu sei que é um momento de desespero, mas talvez o senhor não tenha reparado... é que... é que aqui é...

— Eu sei que essa porra é particular, caralho — quase gritei, sem acreditar que aquele vacilão tava falando aquilo pra mim. — Foi por isso que eu trouxe ela pra cá. Eu vou pagar, fica tranquilo.

Tinha um hospital público bem na entrada da quebrada que ficaria mais perto, mas é foda que, às vezes, nem no caso dela a gente consegue o atendimento que se precisa, então, eu não quis arriscar.

— E a gente também precisa... — o enfermeiro, ou sei lá que porra que aquele cara era, continuou falando, com medo na voz. — A gente precisa acionar a polícia, senhor. Como ela foi baleada, é... é procedimento...

— Eu sei, maluco — exclamei, bufando. — A parte burocrática a gente vê quando der, o que importa agora é cuidar da menina.

— Sim, sim. Claro.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora