Capítulo Cento e Um

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Você me traz algo que eu não consigo definir

Disclosure – Help Me Lose My Mind


Tive que apertar o passo pra atravessar a rua, porque o fluxo de carros tava meio alto.

Mesmo nesse curto tempo, o filho-da-puta que eu não fazia ideia de quem era continuou lá, falando alguma coisa pro moleque, rindo feito um cuzão do caralho; queria ver se eu afundasse a cara daquele comédia no chão, ele continuaria rindo como tava.

— Dá licença aqui, maluco, fazendo o favor — falei pra ele, o afastando... com alguma sutileza, pro lado. Em minha defesa que costumava chegar já batendo nesse tipo de situação, eu apenas o segurei pelo braço e o forcei pro lado e ele, acho que no automático, acatou.

— Oi, Alexandre — a prima mais nova dele que tava sentada do outro lado da mesa sorriu pra mim, tímida, o que fez com que o próprio Gabriel que tava sentado de costas pra mim se virasse pra me encarar.

— Por que você não avisou que vinha pra cá? — perguntei pra ele. — Não tava respondendo minhas mensagens, nem minhas ligações...

— Mas eu respondi — ele falou. — Inclusive, até falei que tava na minha tia na última que eu te mandei. Você não viu? Pra mim, aparece que você visualizou.

— Você só avisou quando já tava aqui.

O cara que tinha passado a mão nas costas dele olhava pra nós, confuso. Na verdade, parecia que o bar todo tinha parado pra acompanhar a cena; pau no cu de todo mundo.

Gabriel olhou para as duas primas muito rapidamente e depois pra mim.

— Você... você parou o carro aqui? — ele perguntou bem baixinho.

— Ali atrás.

Comprimindo os lábios com força, ele apenas assentiu, se levantou e foi em direção a saída do bar. Antes de ir atrás dele, eu demorei um pouco pra ganhar a cara do maluco, porque eu não ia esquecer. O filho-da-puta tinha cara de ter seus vinte e oito, devia ter mais de um e oitenta, era magro, a pele clara, não tanto quanto a minha, tinha aquele toque ligeiramente bronzeado e usava cavanhaque, que ao contrário do que o formato causava em outros caras, o fazia parecer ainda mais novo.

Assim que chegou no carro, o moleque se encostou no porta-malas e cruzou os braços, olhando de um lado para o outro, como se quisesse desaparecer.

— Quem era esse filho-da-puta do caralho que tava passando a mão em você? — foi a primeira coisa que perguntei assim que o alcancei.

— É o Emerson, ele é amigo do Rafael.

— E quem caralho é Rafael?

— Tá falando assim comigo nesse tom por que? — ele se projetou pra mais perto.

— Desculpa — colocando as mãos na cintura, me afastei um pouco, pra dar um espaço pra ele e ver também se eu conseguia me acalmar. — Eu só... eu não gostei desse cuzão do caralho.

— E desde quando você gosta de alguém?

— Também não é assim, moleque. Gostei pra caramba da sua família e...

— Das minhas primas e da minha tia, você quer dizer. Toda a vez que eu converso com algum cara, você faz essa palhaçada.

— Não é verdade. Eu me dei bem com o seu primo e o marido da sua tia também.

— Mas eles são parentes, é diferente.

— Tá bom, tá bom — levantei as mãos pro alto com tudo. — Mas tinha necessidade desse arrombado do caralho ficar passando a mão em você? O cuzão não consegue conversar só com a boca nessa porra?

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora