Capítulo Cento e Vinte

1K 101 76
                                    

Últimos capítulos da segunda parte


Eu sabia exatamente onde ficava a porra do campinho.

Na parte mais alta da quebrada, ficava perto da loja do Tatu e da curva aonde eu tinha beijado o moleque pela primeira vez.

Era um campo relativamente grande, em terra batida. Não era exatamente isolado, porque ele se conectava a uma rua por um dos lados, rua essa onde haviam várias casas por toda a sua extensão, mas a maior parte do campo era cercada por um grande espaço vazio de mato que ia descendo, num morro irregular e íngreme.

Acabei largando o carro na mesma rua e fui saltando sobre o declive que se seguia logo após a guia. Só Deus pra dizer como não me estrepei, porque simplesmente não havia a possibilidade de ter precaução numa situação daquelas. Eu sentia como se meu peito fosse explodir a qualquer momento, tamanha a agonia.

Sei lá que horas eram naquele caralho, mas já tava bem de noite; céu escuro e a rua em si tinha poucos postes funcionando; o campo em si? Praticamente nenhum, mas assim que saltei pelo declive, eu soube que eram eles bem no centro do bagulho.

O desgraçado do Josué tinha levado o carro até lá — e se eu tivesse parado pra pensar um pouco melhor, poderia ter feito o mesmo e ainda melhor; já chegando com o carro a cem por hora, passando por cima do filho-da-puta se possível. — Pelo menos, a falta de iluminação naquela porra tava me servindo pra alguma coisa; não me parecia que nenhum deles tinha me notado correndo feito um louco na direção deles.

—... deixa ele em paz, Josué! — era a Isabela que gritava. Conforme fui chegando até eles, me dei conta que ela tava logo atrás do arrombado que... que tava batendo no meu moleque caído no chão. Mano, mano... mano...

Eu me sentia capaz de chorar de ódio e já me sentia ofegando pela corrida. Eu tinha que chegar neles, porra. O campo parecia ter mais de um quilômetro de diâmetro naquela desgraça.

Eu vi, à distância, ele dando uma bicuda na barriga do moleque.

— EU FALEI PRA VOCÊ DEIXAR ELE EM PAZ, SEU DESGRAÇADO! — Isabela berrou, fazendo sua voz reverberar por todo o campo e num ataque de loucura, ela se jogou nas costas dele, enquanto grunhia: — seu lixo, miserável, filho-da-puta... sai de perto dele!

Com um movimento que não entendi, o arrombado a jogou no chão com tudo.

— Me solta, sua vagabunda do caralho! Você é a próxima, tá entendendo? Vai tomar um cacete também pra largar de ser puta, sua piranha maldita!

Eu pensei que ele fosse pra cima dela, mas ele deu mais outra bicuda no meu moleque e já alcançando eles, eu pude ouvi-lo gemer de dor.

— Vai chorar, seu viadinho do caralho? Quando tá dando o cu, não reclama, agora...

Eu já tava com a minha ponto engatilhada, mas eu não queria resolver a situação fácil assim, eu queria diluir meu ódio, eu queria fazer ele sentir na pele, caralho, então, eu apenas me joguei em cima dele, feito um leão que salta da moita pra pegar sua presa.

Sei nem como, irmão, mas assim que caímos, eu tava no jeitinho certo de imobilizar o cuzão e já estendi minha primeira coronhada na fuça daquele lixo; a cara dele virou com tudo pro lado, eu trouxe de volta com mais outro murro da minha mão livre. E um e dois e três e quatro e...

Até que alguém me puxou pra trás com tudo e eu caí no chão de costas.

— Solta ele! — era a Isabela às minhas costas e, por um instante, até pensei que tinha sido ela quem tinha me arrastado, mas de onde havia surgido aquela força? Eu percebi, então, que eu tava com o espaço livre a minha volta e me botei de pé em menos de um segundo, pra descobrir que ela, louca que só a porra, tinha era ido pra cima do largato que tava com o Josué e provavelmente tinha sido o responsável por me puxar. Ela não ia aguentar com ele.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora