— Como é que você me entrega um negócio importante desses na mão de qualquer um, Bill? — questionei, desacreditado.
— Mas o cara não é qualquer um, Alexandre — ele abriu os braços, tenso. — Ele tá sempre fazendo esses serviços pra gente e...
— Peraí. Você tá me dizendo que ele já mexeu nas câmeras antes?
— Não, nas câmeras não... mas quando a gente precisa de alguma peça, lâmpada, uma memória aí pros computadores, a gente pega lá que sempre tem. Eu mesmo conheço ele de muitos anos, o cara é de confiança.
Suspirei.
Suspirei e me forcei a me controlar porque não tava apenas ele e eu na sala. As meninas nos olhavam, confusas e até o Túlio parou de mexer no computador.
— Faz quanto tempo que você levou as câmeras pra esse maluco?
— Não tem muito tempo. Foi pouco antes de eu te ligar.
Ou seja, praticamente uma hora atrás.
— Túlio, desliga esse computador aí, fazendo o favor — acenei pro moleque com a cabeça que sem hesitar, se levantou da cadeira e desligou o bagulho. — Você vai me levar nesse cara agora. Vamo' — me virei pro Gabriel que parecia ainda mais confuso que os demais. — É rápidão, moleque. Me espera aqui que eu já volto.
Ele assentiu com a cabeça e desci a passos largos, ouvindo o Bill seguindo logo atrás de mim.
— Me desculpa por isso, Alexandre — ele começou a falar assim que saímos pra rua. — Eu fiquei com um medo do caramba quando as meninas me falaram que tinha bem menos se comparado com a última vez que elas fizeram a contagem. Você sabe que comigo, não tem esse negócio; se tem uma coisa que eu não aceito é pilantragem. Tenho uma parceria boa com você, que nunca deu problema, daí acontece isso pela primeira vez, eu fiquei apavorado. Aí, eu já quis tirar a limpo e te provar que esse tipo de coisa aqui não acontece e passa batido. Nunca deixei passar nem quando era só eu, ainda mais agora com você. E fiz o que você falou e...
— O que eu falei, você não fez — o cortei, seco. — Que eu falei pra você não mexer em nada até eu chegar.
— Mas eu já tinha deixado as câmeras no Juninho antes de te ligar.
— Ligasse primeiro, porra.
— É aqui, ó — ele indicou com a mão.
O bagulho ficava uns oito estabelecimentos pra baixo.
Curiosamente, era uma versão parecida da Recap, só que voltado para informática e essas fitas; uma parte era voltada a vender de peças a itens inteiros de computadores, videogames e até celulares e a outra era voltada para consertos.
— Ô, Bill... — um maluco exclamou assim que entramos. Um cara meio baixo, pele morena e usando uma camiseta do estabelecimento. Parecia ser uns poucos anos mais novo que o próprio Bill e tinha o cabelo meio bagunçado. — O menino já vai pegar suas câmeras pra destravar a memória. Ele só tá terminando um outro cliente, mas fica sossegado que é rapidinho.
— Nem precisa se dar ao trabalho, parceiro — falei, mais tranquilo. — Pode trazer as câmeras pra mim do jeito que tá, fazendo o favor.
— Não, cara, mas é rapidinho. Demora muito não. Esse tipo de coisa é rápido.
— Você não entendeu, irmão. Não vai precisar mais destravar, nem era pra destravar, pra falar a verdade. Pode ir lá pegar do jeito que tá.
— Ele é o meu sócio — Bill esclareceu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Declínio
Mystery / Thriller"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...