Capítulo Cento e Quarenta e Quatro

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— Eu vou levar ele pra tomar um refrigerante — sem que eu soubesse bem como, Nisandro tinha chegado ao meu lado primeiro, já segurando o braço do meu sobrinho, como se quisesse protegê-lo de uma desgraça. Mas de qual desgraça? Eu não tava entendendo. — É melhor, Alexandre.

Eu não tinha entendido, mas confirmei com a cabeça mesmo assim.

Lentamente, voltei minha atenção pra minha irmã do outro lado do corredor e ela tinha afundado o rosto nas mãos, parecendo apertar com força, enquanto o Marlon lhe falava algo, inclinando a cabeça, como se quisesse tranquilizá-la. Meu pai seguia ao lado dos dois, apenas olhando, a expressão tensa, feito uma criança que não sabe o que fazer.

Acho que não era preciso ser o cara mais inteligente do mundo pra entender o que tudo aquilo significava, mas confesso que não foi fácil assimilar de verdade.

Mano, na moral...

Não tinha como uma porra daquelas.

Não era nem questão de ser justo ou não. Era questão do que era certo, porra. Não importa o que foi dito ali dentro naquela merda, ela era a mãe dele, irmão. A mãe!

Meio fora de mim, eu me levantei e fui caminhando na direção deles.

Assim que me viu se aproximando, ela virou pra mim, os olhos vermelhos que só e me abraçou.

— Como é que isso aconteceu? — eu perguntei.

Ela balançou a cabeça negativamente e desatou a falar:

— Um desgraçado esse juiz... ficou me interrompendo toda a hora, só queria dar atenção ao que aquela velha infeliz tinha pra falar. Ele sequer quis ouvir o Gabriel! Eu pedi pra ele ouvir o menino, eu implorei e ele nem quis saber. Veio com conversa, dizendo que o Gabriel era novo demais pra poder falar qualquer coisa! E ela... parece até que aquela maldita deu um jeito de comprar ele, não é possível. Você tinha que ver, Alexandre!

— Que justificativa o juiz deu? — perguntei pro Marlon que suspirou e baixou a cabeça, meio constrangido.

— Infelizmente, ele levou em muita consideração aquele problema que tivemos no dia da festa — Marlon explicou.

— Maldita hora que eu fui me enfiar naquele lugar. Maldita hora! — Helena quase gritou, esfregando a cara como se quisesse arrancar a pele fora.

— E no processo anterior de guarda provisória, tava tudo registrado... o motivo, da Helena ter sido detida com aquela quantia de droga... enfim, só piorou tudo.

— E o que...? — olhei pro Marlon, sem saber como perguntar com a minha irmã ali do lado, a ponto de surtar.

Ligeiro como sempre, ele pescou minha intenção e indicou o outro lado do corredor com a cabeça, falando:

— Vem aqui comigo, rapidinho.

Nos afastamos um pouco dos dois e meu pai tratou de tentar consolá-la enquanto isso.

— E aí, Marlon? Como é que a gente faz pra recorrer dessa merda? — já fui perguntando.

— Esse tipo de processo não é como os outros, Alexandre — porra, eu não tava gostando nada daquele ar pessimista sobre o rosto dele. — Agora... agora, as coisas vão ficar um pouco mais complicadas. A gente só vai conseguir que essa decisão seja revertida se arrumarmos um jeito de provar que eles também não são adequados pra cuidar do garoto. O jeito mais fácil seria, inicialmente, reverter a guarda pros seus pais e por intermédio deles, convencer o juiz que sua irmã é o melhor, já que estando com seus pais, ela estaria mais próxima do garoto.

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