Minha risada ecoou por todo o campinho.
Dei uma volta ao meu próprio redor e acabei perto do Café que não tava achando a menor graça na situação, pois o pescoço tava tão tenso que parecia que se alguma coisa encostasse ali, iria cair. Mas, não deixei de aproveitar a graça na bagunça toda e continuei rindo pra ele, dando uns tapinhas de leve no peito dele com as costas dos dedos, enquanto falava:
— A bucha é sua, irmão. Resolve aí.
Café suspirou fundo e não tirou os olhos do Josué.
— Você tem prova do que você tá falando? — ele perguntou pro arrombado e eu não acreditei.
Antes que o filho-da-puta do Josué pudesse responder alguma coisa, eu fui mais rápido e entrei no meio:
— O quê que você falou? — e entrei no meio literalmente, porque fiquei entre o Café e o Josué. — Você tá perguntando se ele tem prova? É isso mesmo? — Café ficou me olhando como se não entendesse o que eu dizia. — Vai tomar no seu cu, seu filho de uma puta do caralho!
— Oxi, Alemão, eu...
— "Oxi, Alemão" é o caralho, seu vacilão! Depois de toda essa porra aqui, você tem a audácia de ainda perguntar pra esse desgraçado se ele tem prova? Você tá ficando louco?
— Eu preciso saber de tudo que...
— Precisa saber do quê? Precisa arrumar mais uma desculpinha esfarrapada pra passar a mão em cima da cabeça dele?
— Responde aí, Capuava — Gordo falou, me olhando de canto, como se esperasse que eu fosse pra cima dele. — Você tem prova disso?
— Eu não teria outra razão pra fazer isso se...
— A minha pergunta não foi essa — Café o interpelou. Eu não tinha alternativa, apesar de irritado, eu tinha que deixar aquela merda continuar. — Eu perguntei se você tem prova disso que você levantou sobre o Alemão.
O desgraçado do Josué me olhou por meio segundo e falou:
— Eu mandei o moleque botar o grampo no carro dele pra poder provar. Eu não ia fazer um negócio desses de graça.
— Então, não tem prova — declarou o Gordo.
— Mas tem indício — o desgraçado insistiu, inclinando a cabeça.
Eu não aguentei, mano.
Que chamassem de cena aquela porra, eu não tava nem aí. Eu podia ter feito o caralho que fosse, tava pouco me fodendo. O que eu não conseguia aceitar era ser cobrado por um verme feito aquele. E foda-se se um dia eu fosse morrer por conta da porra do orgulho, mas eu jamais iria permitir me ver reduzido por conta de um lixo como o Josué, mas nem fodendo.
Eu esfreguei minha cara com força, com as duas mãos.
— Eu não tô acreditando numa porra dessas — grunhi, minha respiração empolada. — Não, na moral, não dá pra aceitar!
Me virei pro Café que seguia travado, os olhos fixos no Josué.
— E você vai continuar aí com essa cara de cu sem falar nada, hã? — o questionei. Ele me olhou como se tivesse acabado de acordar. — Ou o que? Vai perguntar pra ele que indícios são esses que ele falou? Que ele me viu ou que alguém falou que me viu falando com uma pessoa que cruzou com o Kalil, que eu tô agindo estranho, que ele teve um sonho que abriu os olhos dele ou sei lá que caralho esse parasita dos infernos vai inventar? — Café até chegou a abrir a boca pra falar alguma coisa, mas eu tava tão estressado que nem deixei ele ter a oportunidade: — não, não, não, já sei, nem precisa falar, irmão, nem precisa falar. Você deve tá aí pensando num jeito de encontrar uma margem pra justificar o lado dele, não é? Vai me dizer que não é bem assim; que a gente tem que tá de olho em tudo; que ele tá só pensando no teu lado; que eu posso relevar, vai fingir que vai dar uma bronca nele e igual daquela vez que juntou a Final toda pra acertar essa porra, você vai me prometer que ele nunca mais vai fazer isso, vai dar a tua palavra. A tua palavra de merda que não me serviu pra porra nenhuma desde então! A tua palavra que não me garantiu desgraça nenhuma quando esse arrombado do caralho foi pra cima do meu moleque e bateu nele como se o moleque fosse um saco de pancada! Pra mim já deu essa porra aqui, jão!
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Declínio
Misterio / Suspenso"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...