Capítulo Sete

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— Seu noia filho-da-puta! — acho que foi a última frase clara que eu ouvi antes da confusão estourar.

Num segundo, Adriano estava em cima de Rodrigo que não se deixou ser atacado e reagiu, tentando dar um soco nele. Não deu pra ter certeza se alguém tinha acertado alguém.

Logo, minha mãe e minha irmã se juntaram a confusão tentando apartar os dois. Estela começou a gritar pedindo ajuda e as duas meninas gritaram ainda mais alto, chorando. Gabriel deu alguns passos para trás, olhando para o pai, o avô, a briga, para mim, com a garganta trabalhando e sem a menor ideia do que fazer.

Embolados, os dois foram ao chão, levando minha irmã e mãe junto. Algum deles deve ter agarrado a toalha da mesa e puxou, levando alguns pratos ao chão que trouxeram mais notas a música barulhenta que estavam fazendo.

Como se tivesse entrado numa outra dimensão, meu pai simplesmente voltou a se sentar e abriu mais uma lata, o rosto inexpressivo.

Ismael correu para a briga, mas ficou igual um cachorro nessas situações: ciscando de lá pra cá sem saber como intervir.

Calmamente, me levantei, acendi um cigarro, botei o boné de volta na cabeça e fui até eles, abrindo espaço entre minha irmã e minha mãe para poder afastá-los. Os dois se xingavam e se agarravam feito duas putas. De algum jeito, conseguiram se levantar, mesmo com todos agarrados a eles e pude usar isso de apoio para passar o braço em volta do pescoço do Rodrigo e levantá-lo com tudo, o jogando para o lado. Adriano tentou aproveitar a brecha e avançou num contra-ataque, mas foi contido por Ismael e minha mãe.

Com o cigarro ainda na boca, arrastei Rodrigo pela casa até a garagem.

— Seu noia desgraçado. Vou te matar... — deu pra ouvir Adriano dizer lá nos fundos.

Ri comigo.

— O cuzão deu pra moralista agora — falei mais pra mim mesmo do que para Rodrigo, mas ele respondeu mesmo assim:

— Achou graça nisso tudo?

— Não deveria achar?

— Me solta!

Apertei os olhos e o encarei.

Com força o empurrei contra o chão.

Rodrigo caiu sentado e me olhou assustado. Abri os braços:

— Vai vir pra cima de mim também?

— Quem veio pra cima de mim foi ele, não eu!

No meio da confusão, eu tinha conseguido pegar o prensado que tinha caído no chão, nos degraus que faziam o acesso ao quintal e dei um jeito de enfiá-lo no bolso. O peguei, olhei por meio segundo e o atirei na cara do Rodrigo que não moveu um só dedo para reavê-lo depois que rolou pelo chão.

— Foi por causa dessa merda aí — falei.

— Tá tirando uma com a minha cara? — ele zombou, ousado o cuzão. — Logo você querendo me cobrar disso?

Não falei nada.

— Você não tem moral nenhuma pra me cobrar — se levantando, ele me empurrou com as duas mãos. Mal saí do lugar. Se agachando rapidamente, ele pegou o prensado e analisou pra ver se ainda estava bom. — Desgraçado. Eu paguei vinte conto nessa porra... — e riu, acho que porque notou que estava bom. Virando-se pra mim, continuou: — Não vou ficar ouvindo sermão seu por causa disso não, caralho. De você não. De você nunca. Seu cheirador de merda!

Num piscar de olhos...

Um único murro bem dado na fuça dele o fez rodopiar, caindo no chão que nem merda. O prensado deslizou para o lado. Caminhei lentamente e pisei naquela porra, arrastando o pé pra que não sobrasse uma só grama em boas condições. Com ele ainda no chão, o agarrei pela blusa e disse:

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora