O mais difícil foram os momentos que eu não esqueci
Justice – Neverender
A mulher ficou travadona na mesma posição e no mesmo lugar, irmão, com os braços dobrados e os punhos fechados próximos ao peitoral, como se estivesse se protegendo de uma batida.
E ela ficou ali, parada, quase como se quisesse evitar de respirar.
Os cacos do pequeno vaso, escultura ou sei lá que porra que era, porque tinha sido tão rápido que nem vi direito, estavam estilhaçados ao redor dos pés dela.
Ficamos nos encarando por quase meio minuto, em completo silêncio, e ao invés de ir se acalmando gradualmente, parecia que a mulher estava ainda mais tensa, pelo subir e abaixar do peito que só se intensificava.
— Cadê o Arthur e a... — comecei a falar, calmamente, puxando pela memória o nome que eu tinha lido no documento que o Raul havia arranjado pra mim —, a Milena? Cadê eles?
Ela não respondeu.
Continuou parada feito uma presa que tenta se fingir de morta pro predador não reparar.
— Eu vou perguntar de novo — falei, suavemente, dando um passo adentro. — Cadê o Arthur e a Milena?
Ela continuou travada.
Me obriguei a apontar a peça pra ela e repeti pausadamente:
— Cadê o Arthur e a Milena? Eu tô calmo — dei mais um passo, fechando a porta atrás de mim —, eu tô tranquilo e tô perguntando pra você numa boa. Acredito eu que nós dois não queremos nenhum acidente, certo?
Ao menos, ela conseguiu mexer a cabeça e confirmar.
— E se você me obrigar a perguntar isso de novo, eu vou me estressar... e estressado, eu não penso direito e posso fazer uma besteira. Então, pra que isso aqui termine bem, é melhor você colaborar.
Ela tornou a assentir com a cabeça, abaixando os braços lentamente.
— E então? — instei.
— É... eles saíram... — quase que não ouvi a voz dela.
Dei mais um passo.
Do lado esquerdo dela, havia uma entrada que devia levar a um corredor. De onde eu estava, não tinha como ver através dele, mas inclinei minha cabeça mesmo assim, acho que no automático.
— Tirando você, tem mais quem aqui? — questionei.
— Só eu, moço — ela parecia incapaz de desviar o olhar do ferro na minha mão.
— E pra onde eles foram?
Ela fechou os olhos e fez careta como se tivesse chupado limão.
— Não — estendi a arma pro alto. — Sem drama, caralho.
— Mas, por favor, moço, eu não fiz nada, eu só... eu só tô aqui pra limpar a casa, que a dona Milena me chamou e eu... — ela começou a chorar, a voz ficando cada vez mais alta, num tom de desespero que me incomodou.
Chiei alto com a boca, pra ela parar e rapidamente, me obedeceu.
— Eu falei sem drama — reforcei, ainda mantendo a peça estendida. — Não tem necessidade de fazer escândalo, que eu não tô te fazendo nada. Tô te perguntando numa boa.
Ela confirmou com a cabeça.
— Então, respira, se acalma, se controla... que fazer escândalo e vir de chororô pra cima de mim, não vai arrumar nada. Pelo contrário, só vai piorar a situação.
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Declínio
Mistério / Suspense"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em par...