Eu juro que não entendo esse cara. Empresário. Dançarino. Rico. Educado. Estudioso. Ocupado até não poder mais. E bonito. Admito. Não é lindo, tipo deus grego, mas é bonito. Agora, o que é que ele quer sentado na minha cozinha num domingo à noite? Não tem mais nada para fazer? Uma educadinha qualquer de sociedade para levar ao cinema...
─ É de bronzeador? – Ele comia amendoins e lia o roteiro da campanha publicitária.
─ É sim. – Eu tirava uma jarra de suco da geladeira. E uns sanduíches naturais de atum que a Sônia deixou para mim. – Daqui a pouco chega o verão. Acho que as pessoas me associam a essa estação. – Ponho os sanduíches perto dele. Coloco um copo de suco para mim e outro para ele. Carlos Eduardo me oferece amendoim. Eu recuso.
─ Você nunca come?
─ Como, é claro. Acha que eu vivo de luz? Só não quero me entupir de gordura antes de fazer um comercial de biquíni. – Roubo uma folha de alface do prato de sanduíches. Estou faminta, mas me controlo.
─ Você não vai engordar de uma noite para o dia.
─ Você não sabe do que as mulheres são capazes em termos de calorias. – Ele levantou os ombros, não entendia mesmo.
─ Você faz muitas campanhas de biquíni, não é mesmo?
─ Você agora fica controlando quantas vezes eu uso biquíni, senhor Carlos Eduardo? – Perguntei carregando na malícia, eu sabia que ele ficaria constrangido. – Por um acaso não consegue tirar os olhos de Bruna "Delícia" Drummond? – Fui me aproximando sensual. Ele ficou rígido na mesma hora. Não acredito que esse cara seja lá muito bom com as mulheres.
─ Nã.. Não. – Ele se levanta tentando tomar distância. – Semana passada, acho, você me disse uma coisa parecida, não foi?
Fiquei chocada. Ele repara nas coisas que eu falo. Nem consegui responder. Que tipo de cara faz isso?
─ Além disso, - continuou – está com esse bronzeado. Pensei que você tinha esse negócio na praia ontem. – Hesitou. Estava vermelho como uma pimenta. – Desculpe. – Baixou a cabeça envergonhado.
─ Acho que você pede desculpas demais, Kadu. – Consegui me recuperar da surpresa e sorri. – Que mal teria se você desse uma bela sacada nesse material? – Passei as mãos pelo corpo o que fez com que ele conseguisse o impossível e ficasse ainda mais vermelho. – Por um acaso não sou desejável?
Ele demorou a responder. Eu o encarava nos olhos, ele tentava fugir. Estava me divertindo horrores com aquele constrangimento. Já Kadu estava calculando as palavras para dizer, provavelmente, nem queria ser vulgar, nem mal-educado.
─ Você é muito bonita, Bruna. – Ele falou sério e foi levantando aqueles olhos azuis devagar até encontrar os meus. Meu coração disparou e eu nem sei o porquê. Ele não tirou mais os olhos dos meus. Eram olhos intensos mesmo por detrás dos óculos. Um arrepio desceu pela minha coluna. Não sabia exatamente o que eu faria se ele continuasse a me olhar daquele jeito. Parecia que ele conseguia me ver, me ver de verdade e aquilo me apavorou.
Ainda bem que o interfone tocou. Corri para atender. Carlos Eduardo voltou para os amendoins e para o texto que íamos passar.
─ Senhorita Bruna, - era a enfermeira da minha avó – estou ligando para avisar que precisaremos levar a Dona Adelina para o hospital. Ela está com dificuldades de respirar.
─ Já estou indo. – Disse aflita tentando acertar o telefone no lugar, mas minhas mãos tremiam.
Peguei minha bolsa. Kadu me perguntava o que estava acontecendo. Eu não conseguia concatenar as ideias, apenas fui em direção ao elevador e ele foi me seguindo.
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Por Onde Andei
Ficção AdolescenteNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...